Sexta-feira, 21 de setembro de 2018
Estamos vivendo na era da tecnologia. Por causa disso, hoje, temos acesso a qualquer informação que desejarmos com apenas alguns cliques. Podemos compartilhar, curtir, comentar ou apenas obter notícias sobre qualquer assunto, seja em redes sociais como Facebook e Twitter, em aplicativos de mensagens como Whatsapp ou em inúmeros outros sites disponíveis. Parece muito fácil e prático, certo? No entanto, como tudo que evolui muito rapidamente, a tecnologia ainda não consegue impedir alguns problemas causados por essa disseminação de informações. Um deles é o problema das notícias falsas, mais conhecidas como “fake news”.
As fake news, na verdade, não surgiram agora. Há séculos (literalmente) podemos presenciar casos de pessoas que disseminaram notícias mentirosas e causaram impactos inimagináveis na vida de outros indivíduos. No entanto, com a chegada da internet, o termo se popularizou ainda mais – a ponto de ser eleito o termo do ano pelo dicionário Collins em 2017. De acordo com cientistas de dados do MIT (Massachusetts Institute of Technology), os efeitos causados pelas fake news de política são mais virais do que qualquer outra categoria, mas elas também se aplicam a histórias sobre lendas urbanas, negócios, terrorismo, ciência, entretenimento e desastres naturais.
Grandes acontecimentos políticos marcaram o mundo em 2016, como eleições presidenciais dos Estados Unidos. O evento abriu portas para milhares de notícias falsas que foram espalhadas na internet. Diariamente, centenas de sites disseminavam manchetes como “Papa Francisco choca o mundo e apoia Donald Trump” ou “Agente do FBI suspeito no caso de e-mails vazados de Hillary é encontrado morto em um aparente caso de suicídio-assassinato”, gerando milhares de cliques e compartilhamentos. As eleições, no entanto, foram apenas um motivo para que as notícias fossem criadas e gerassem maior tráfego nos sites – e consequentemente, mais dinheiro com publicidade online, já que grande parte da remuneração de anúncios é feita com base em cliques.
As notícias falsas podem ser danosas tanto para empresas das mais diversas áreas quanto para alguma pessoa em particular, causando malefícios que são, muitas vezes, irreparáveis. No mercado publicitário, por exemplo, em um cenário onde grande parte da remuneração de anúncios é feita com base em cliques, torna-se ainda mais fácil para sites fraudulentos criarem informações falsas com a intenção de ganhar dinheiro. Uma marca pode ser altamente prejudicada ao ser veiculada em sites ou ao lado de notícias mentirosas, pois terá sua imagem ligada à um conteúdo enganoso. Por isso, é de extrema importância que os profissionais da área entendam a necessidade de combater as fake news e também adotem práticas como Brand Safety para que o setor não seja altamente prejudicado.
Os sites com notícias falsas não se diferenciam em quase nada da mídia tradicional. O layout, a maneira de escrever, títulos chamativos, URL e imagens são pensados de maneira estratégica para que pareça o mais verdadeiro possível, fazendo com que os usuários acreditem no que estão lendo e continuem compartilhando a informação. Embora seja, em grande parte, papel da imprensa evitar que as notícias falsas sejam compartilhadas, não existe um controle absoluto sobre elas. Por isso, é importante que todos os usuários tomem alguns cuidados que ajudam a evitar a prática.
De acordo com a jornalista Claire Wandle, existem alguns formatos mais comuns de fake news que podemos identificar: sátira ou paródia; falsa conexão; falso contexto; conteúdo impostor; conteúdo manipulado e conteúdo fabricado. Além disso, é importante também que o usuário analise sempre a fonte de informação para saber se é confiável, assim como o título do texto, os autores, a data da publicação e os mínimos sinais de aviso de bot. Notícias “bombásticas” e links compartilhados diretamente em redes sociais devem ter a sua veracidade sempre questionadas. Se você não vê uma história em toda a mídia (mas apenas em um site), provavelmente exista uma boa razão para isso, não é mesmo?
Apesar de ser impossível controlar todas as notícias que são divulgadas diariamente, cada vez mais está sendo cobrado que canais de comunicação online, como Facebok, Google, Youtube, Twitter e Whatsapp, tomem atitudes efetivas que diminuam a prática de fake news. O Google, por exemplo, disponibilizou a aba “Notícias” na sua plataforma, para que as publicações sejam avaliadas como verdadeiras ou falsas por meio de suas tecnologias. Além disso, no Brasil, foi desenvolvido o selo de checagem de fatos, que aparece ao lado das notícias que têm seus conteúdos analisados.
Diversas movimentações também estão sendo feitas pelas redes sociais para evitar a disseminação de notícias falsas no Brasil durante a campanha eleitoral, já que, pela primeira vez no país, estão permitidas propagandas eleitorais pagas na internet. O Projeto Comprova, coordenado pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e originado nos EUA, é uma rede formada por 24 veículos de imprensa no país – incluindo o Estado –, que terá como função checar informações falsas durante as eleições. Ou seja, jornalistas monitoram diariamente conteúdos nas redes sociais e sites que abordam temas políticos, e para que uma notícia seja considerada falsa, pelo menos três veículos precisam dar a confirmação. Em seguida, um relatório detalhado é enviado para a central do projeto, que irá desmentir a notícia.
Já o Whatsapp irá atuar em três frentes para garantir a integridade das eleições e a segurança dos usuários, de acordo com a Exame: com o reforço da proximidade com autoridades, o uso da inteligência artificial para evitar abusos e a formação de parcerias com serviços de checagem de notícias. No Facebook, os candidatos deverão enviar seus documentos de identificação à plataforma, além de se comprometerem com duas políticas antifraude. Além disso, os eleitores poderão verificar quais anúncios estão ativos na plataforma por meio da Biblioteca de Anúncios, nova funcionalidade que reúne todas as notícias e propagandas políticas que estão sendo veiculadas na plataforma.
Por fim, o Twitter que também irá verificar contas de candidatos e partidos, evitando que perfis falsos divulguem informações mentirosas. Estão sendo realizadas também auditorias em contas já existentes e a expansão de análise para procura de perfis mal-intencionados. Desde então, a média de denúncias de spam recebidas pela plataforma diminuiu aproximadamente 25 mil por dia em março para cerca de 17 mil por dia em maio, e o número de contas contestadas subiu de 3,2 milhões em setembro de 2017 para 10 milhões em maio de 2018. Além disso, é uma das únicas redes sociais que não irá veicular anúncios eleitorais, mas irá realizar sessões de perguntas e respostas com os candidatos, que serão transmitidas ao vivo em outros veículos.
Todas essas mudanças sendo realizadas pelas redes sociais, que estão se adaptando para evitar um crescimento ainda maior de fake news pela internet, nos mostram importância de combater esse tipo de prática. É certo que não veremos o fim das fake news do dia para a noite. No entanto, quando entendemos o tamanho do problema e como ele pode ser combatido – mesmo que aos poucos – cada vez mais estaremos nos mobilizando para mudar esse cenário.
Jornalista formada pela Universidade Presbiteriana Mackenzie que trabalha como analista de conteúdo na Reamp. Gosta de escrever sobre diversos assuntos, e é responsável pelo conteúdo do blog e das redes sociais da empresa.
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