Segunda-feira, 21 de janeiro de 2019
A privacidade digital foi um dos temas mais discutidos pelo mercado em 2018. O escândalo envolvendo a Cambrigde Analytica e o Facebook serviu de gatilho para que regulamentações como GDPR, Regulamentação Geral de Proteção de Dados, em português, no continente europeu, e LGPD, Lei Geral de Proteção de Dados, aqui no Brasil, fossem vistas com mais celeridade. A partir de 2019, a tendência é que as empresas comecem a concentrar seus esforços para se adaptarem às novas regras, já que o prazo para se adequar será até fevereiro de 2020.
Muitas soluções que utilizamos hoje, foram desenvolvidas usando dados como base para nos oferecer conveniência. As nossas informações possibilitam que a Netflix nos sugira uma série, que o Spotify crie uma playlist adequada ao nosso estilo musical ou que o Facebook nos entregue um anúncio personalizado. A inteligência artificial utiliza
os dados para aprender sobre as preferências do usuário, a partir da análise de como interagem com produtos e serviços. O processo facilita a descoberta de um bom filme na Netflix com indicações personalizadas ou de uma banda nova no Spotify com as sugestões desenvolvidas. especialmente, para a sua conta.
Acontece, porém, que novas tecnologias suscitam discussões acaloradas e teses que parecem verossímeis. Entre elas, uma muito comum, que prega que em nome da conveniência oferecida pelo digital, temos que abrir mão da privacidade. Não acredito nesta tese e sou acompanhado por outros 170 fanáticos por tecnologia que também
não acreditam. Tenho convicção de que é possível trazer o melhor do digital, garantindo que não precisamos saber o nome, qualquer número de identidade civil ou dado pessoal sensível das pessoas.
Como é possível fazer isso? Sem querer dar receita de bolo – mas, compartilhando um caminho que se mostra viável e eficaz – o primeiro passo é colocar “Privacidade” como um valor de negócio. Isso significa que privacidade é um framework para decisões estratégicas de atuação e de crescimento da empresa. Se o cliente pede uma proposta, onde seja necessário identificar a pessoa, é preciso explicar os riscos, apresentar outras maneiras de usar os dados de localização de maneira anônima, e se não funcionar, declinar o trabalho.
A Lei Geral de Proteção de Dados é um avanço no Brasil, sem dúvida, justamente porque estabelece as regras do jogo e exerce um papel de protagonismo nessa questão, porque funciona como uma ferramenta para garantir que as empresas sejam mais responsáveis com o manuseio dos dados das pessoas no ambiente digital.
Mas existem gaps. Pensou-se muito na parte técnica, pensou-se muito na parte legal, mas pensou-se pouco sobre como o usuário vai interagir com isso. Um exemplo de melhores práticas à atitude proativa vem do Linkedin que informa ao usuário qual destinações que serão dadas a cada dado coletado, permitindo a cada pessoa,
escolher qual dado poderá ser coletado e para qual finalidade. A Lei ainda não chega nestes detalhes, mas empresas que colocam as pessoas no centro dos negócios, tenderão a se antecipar à legislação, propondo ações e tecnologias que respeitem o direito do consumidor em controlar seus dados. Inclusive, o direito de ser esquecidos.
Tanto com relação ao que vamos fazer, mas também com relação ao que já fizemos, usar novas tecnologias, inclusive a de localização, para causas legítimas, em acordo com o cidadão sobre quais tipos de dados acessamos e para quais fins, preservando sua identidade acima de tudo, é mais do que um negócio. É uma causa. Para que dê certo para todos, é preciso um grande movimento civil.
A aprovação da Lei Geral de Proteção de Dados e o interesse de órgãos que visam a proteção dos cidadãos brasileiros são passos muito importantes. Mas, é preciso mais. É preciso que todos, absolutamente todos os envolvidos em tecnologias que estão mudando o mundo, partam da mesma premissa: a privacidade do cidadão é um valor inegociável.
Eu estou convicto de que o Brasil está no rumo certo para promover uma experiência mais segura e ética para todas as pessoas. As novas regras transformarão o mercado em um ambiente mais justo, e 2019 será um ano que decidirá se algumas empresas seguirão em frente com as novas regras ou se ficarão para trás. Eu estou pronto para assumir o desafio de construir uma internet mais segura para todos nós. E você?
é CEO e co-fundador da In Loco Media. Formado em Ciências da Computação, pela Universidade Federal de Pernambuco, começou a empreender com 19 anos, ao aplicar os conhecimentos acadêmicos na criação de tecnologia de geolocalização indoor mundialmente exclusiva e eleita como a mais precisa do mundo, em 2014, pela Microsoft Research.
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