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A sua, a minha, a nossa inclusão digital

Imagem: moça segurando celular com fones de ouvido. Tecnologias.

Tecnologias assistivas são soluções ou dispositivos que ajudam pessoas com deficiência a ter uma maior independência e qualidade de vida. Alguns exemplos são próteses, leitores de tela, leitor de Braille, cadeiras de rodas, softwares de ampliação de tela, aparelhos auditivos, entre outros. O que normalmente não sabemos é que muitas tecnologias existentes hoje usadas por todos nós foram criadas originalmente para solucionar problemas de pessoas com alguma deficiência. O modo noturno no celular, a tecnologia de reconhecimento de foto usando palavras, poder ditar um texto e seu telefone escrevê-lo ou a Siri, são alguns exemplos que nasceram para reduzir o abismo entre as possibilidades de uma e outra pessoa. E mesmo que por um lado muitos utilizem essas funções por conveniência ou preferência e não por uma dificuldade física hoje, não quer dizer que um dia não precisarão delas como um aparato assistivo.

A tecnologia da Audima faz com que sites possam ser ouvidos e sabemos que entre os usuários do recurso estão pessoas com necessidades especiais ou senhores e senhoras com vista cansada, por exemplo, mas também pessoas com pouco tempo e que por isso preferem ouvir do que ler. A correria do dia a dia nos faz cada vez mais reféns de nossas obrigações e, da mesma forma, potenciais usuários dessa tecnologia para ampliar nossas possibilidades. Podemos dizer que todos tiramos vantagem das facilidades criadas para ajudar pessoas com deficiências. Mais que empatia pela causa, inclusão pode vir a ser uma necessidade para todos nós.

Estamos suscetíveis ainda a vários reflexos do nosso estilo de vida atual, como fadiga, estresse, ansiedade, depressão e uso de substâncias, que afetam drasticamente nossas habilidades. E antes de todos esses efeitos vem o excesso de tarefas. Na última pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, do Instituto Pró-Livro, 32% dos entrevistados não leram por falta de tempo.

Com o avanço da idade, as dificuldades audiovisuais e cognitivas aumentam progressivamente. Segundo a Nielsen, a capacidade de uma pessoa navegar em websites diminui efetivamente 0,8% por ano após a idade dos 25. Isso significa que você está aproximadamente 1% menos capaz de interagir com uma interface digital agora do que no seu último aniversário. Por conta dessa realidade, os varejistas online focam no público com menos de 30 anos, que tem probabilidade 35% maior de concluir uma compra na internet em comparação com consumidores acima dos 55.

Nesse cenário em que todos são favorecidos pela acessibilidade direcionada a alguns, estimular a inovação é primordial. Por isso, devemos empregar recursos para facilitar a obtenção de informações pela população no Brasil, país onde 25% são analfabetos ou semianalfabetos, cerca de 40% de crianças estão fora da escola, 19% são deficientes visuais e 30% têm presbiopia (vista cansada).

Desenvolvedores e administradores de websites devem observar a tecnologia para acessibilidade como uma aliada nos negócios. Empresas que promovem a diversidade são atrativas a públicos diversos.

Onde há um problema, existe sempre uma oportunidade. O mundo todo presencia o crescimento do áudio como interface entre pessoas, tecnologias e conteúdos. Seja por meio do aumento do consumo de podcasts e audiolivros, assistentes virtuais que usam inteligência artificial ou ferramentas como a Audima – que transforma todo o conteúdo escrito de sites em áudio –, a informação tem chegado a cada vez mais pessoas.

O áudio também é a preferência de quem está habituado à multitarefa. Dessa forma, a acessibilidade como ferramenta de atração para vários públicos, além das pessoas com deficiência, é comprovada. Principalmente para o jovem, que se mantém constantemente conectado, esse tipo de solução é uma ótima opção.

Empresas são agentes transformadores e influenciadores de mudanças de comportamento. Fazer com que todos possam consumir conteúdo da internet em qualquer hora e lugar, aproveitando melhor o seu tempo, e incluir as pessoas com deficiência ou dificuldades de visão e leitura são objetivos nobres. Por isso, o termo tecnologia inclusiva parece ser mais amplo e adequado do que tecnologia assistiva, pois engloba pessoas com deficiência e sem, nos colocando no mesmo barco.

é fundadora da Audima, uma startup que fomenta a inclusão digital através do áudio junto a criadores de conteúdo. Desenhista Industrial, psicóloga e coach, Paula tem sua trajetória como empreendedora marcada por uma imersão no mindset do Vale do Silício, onde morou e participou de uma aceleração na GSV Labs em parceria com a Google LaunchPad.

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