Quinta-feira, 09 de agosto de 2018
Na verdade, muito antes de começar a escrever este artigo, venho estudando os principais e “ocultos” movimentos desta gigante que se camufla no varejo, está quase virando um banco e pretende investir, este ano, na indústria farmacêutica. Deixo também minha visão sobre as oportunidades que as empresas passam a ter quando entendem melhor a estratégia da gigante de Jeff Bezos, a Amazon.
No mercado de ações da Nasdaq, a Amazon faz parte da FAMGA, sigla que descreve as cinco gigantes da internet: Facebook, Apple, Microsoft, Google e Amazon. Mesmo quem já nasceu e cresceu dentro da nossa cultura digital tem alguma ideia do que cada uma trouxe em termos de revolução tecnológica. Mas foi a Amazon, fundada em 1994, cinco anos antes do Google e dez anos mais nova que o Facebook, que mais rupturas trouxe para o modo como nós fazemos compras e como o varejo tem funcionado nas últimas duas décadas.
Quem acompanha a trajetória da empresa sabe dos rumores recentes de que a gigante do varejo estaria se preparando para entrar fortemente no mercado financeiro e poderia até abrir um banco próprio, o que faria a fusão definitiva entre varejo e serviços bancários.
No entanto, talvez essa visão seja limitada, presa demais à velha mania de olharmos sempre para o varejo. E com isso perdemos o modo como a Amazon olha para seus negócios, e ela para todos os lados, e perdemos a capacidade de enxergar e de aproveitar as oportunidades que a Amazon sabe explorar.
Anos atrás, o sucesso da Amazon foi visto como o fim das livrarias físicas, assim como o surgimento do livro eletrônico e do Kindle seria o término dos livros físicos. Livrarias e livros impressos continuam existindo. O próprio fato de o mercado livreiro acusar a Amazon de competição agressiva e concorrência desleal indica a sobrevivência e a saúde de livros impressos, editoras e livrarias.
Quando a Amazon entrou em outros setores do varejo e abriu seu ecossistema para que fornecedores terceirizados vendessem produtos para a base de clientes da empresa e ainda aproveitassem a escala da logística da Amazon, os especialistas e gurus decretaram o fim das lojas físicas. As lojas físicas não vão acabar, pelo contrário, elas são importantes dentro da estratégia da Amazon.
Muitas redes de lojas, hoje, usam as mesmas estratégias do comércio eletrônico da Amazon, como iniciativas de fidelização do cliente e tracking dos hábitos de consumo do público. E cada vez se apresentam como showrooms e mostruários para o cliente experimentar ao vivo o produto, encomendar na hora ou mais tarde, pela internet, e depois receber em casa as compras que fez. A própria Amazon tem muito interesse em lojas físicas e tem testado as lojas-conceito (Amazon Go), uma loja de conveniência onde você passa o celular num sensor para entrar, escolhe o que quer das prateleiras e sai com os produtos, sem pegar fila ou passar no caixa, e a própria loja registra o que você pegou e envia a fatura para o seu celular.
Por mais diversificada que seja a atuação da Amazon, a empresa parece continuar focada no mindset que seu fundador, Jeff Bezos, definiu desde o início. Ele prometeu a seus sócios e, mais tarde, aos acionistas, uma “visão de longo prazo”, e colocou na missão da empresa o foco no cliente e o compromisso de oferecer a esse cliente os melhores preços e serviços possíveis.
Aqui temos um reflexo direto no faturamento da empresa, em 2016, o e-commerce aumentou seu faturamento em 25%, enquanto o AWS (Amazon Web Services) aumentou em 55% e o lucro líquido quadruplicou em relação a 2015 e continuou crescendo em 2017.
Os AWS é que melhor representa este ecossistema. Eles surgiram das próprias iniciativas da empresa para ajudar os clientes a terem a melhor experiência de compra online. E quando essas tecnologias se mostraram eficientes, a Amazon passou a vender para outras empresas que passaram a se integrar à plataforma Amazon. E para os números de 2017, grande parte do lucro operacional da empresa veio dos AWS.
A Amazon tem feito investimentos consideráveis em áreas de grande crescimento, como anúncios publicitários (por volta de US$ 1,6 bilhão, superando Twitter e Snapchat e preocupando Google e Facebook). Já o investimento em produção de conteúdo próprio para os serviços de assinatura da Amazon Prime, presente hoje em 200 países, com aporte bilionário, próximo do orçamento do Netflix e talvez o dobro do orçamento anual da HBO.
Mas são as iniciativas em soluções financeiras, área em que a Amazon sempre trabalhou sem muito alarde, que tem chamado a atenção dos especialistas. Como o Amazon Prime já tem presença em 65% dos lares americanos, a empresa decidiu investir com mais força no mercado internacional. Da mesma forma, começou a investir em mercados como o México e a Índia, onde tem testado iniciativas semelhantes aos cartões Amazon nos Estados Unidos.
Mas o maior potencial é a expansão do Amazon Cash nesses mercados. Assim como os Estados Unidos, mas em escala ainda maior, a Índia e o México têm grandes populações que não fazem uso de serviços bancários ou não têm acesso a uma conta corrente. O Amazon Cash é uma forma de depositar o valor do dinheiro vivo em cartões e contas Amazon sem que a pessoa tenha uma conta corrente, basta acesso à internet e quiosques que trocam dinheiro. E além de fazer compras na Amazon, o cliente pode comprar nas lojas parceiras do sistema Amazon Cash.
A iniciativa começou nos Estados Unidos (onde, de um universo de 136 milhões de lares, cerca de 33 milhões não usam serviços bancários ou carecem de acesso a eles). E há pouco foi lançado nos Estados Unidos o serviço interligado Amazon Allowance, que permite aos pais criar um cartão de mesada para os filhos, e desse modo as crianças podem fazer compras na plataforma Amazon ou nas lojas físicas associadas ao serviço, os pais monitoram o que os filhos consomem, e a Amazon expande sua base de clientes.
Em resumo, a Amazon tem procurado soluções tecnológicas para vários serviços, de formas de pagamento a empréstimos e até compra de produtos ou contratação de serviços através do Alexa (dispositivo de voz).
Em vez de investir em serviços tradicionais, a Amazon tem investido em um ecossistema que auxilia clientes e usuários de seus serviços, tantos compradores como vendedores. Podemos observar que este é um padrão estratégico da Amazon em suas últimas investidas. Eles querem sempre oferecer serviços para facilitar a vida dos clientes, inclusive para um público até então ignorado ou invisível.
“Amazon investe R$ 97,5 milhões no Brasil para vender eletrônicos diretamente” e “Amazon no Brasil: o mercado vai ter que mudar na marra. Sua loja está preparada?” Estes são apenas dois títulos de matérias publicadas recentemente em grandes sites que reforçam duas questões:
Logo podemos entender que temos um potencial por aqui….Sim! Eu disse potencial. Podemos transformar negócios já consolidados em ecossistemas de inovação antes da gigante desembarcar de vez por aqui.
Mas antes precisamos de mais iniciativas concretas, com começo meio e fim. Lembra do mindset de longo prazo? Então, não se cria a Amazon da noite para o dia.
Possuímos um belo e já evoluído ecossistema de inovação por aqui, contamos com startups, aceleradoras e as gigantes da indústria e do varejo com desejo de investir alto em inovação.
Olhe para dentro antes de olhar para fora!
Preste atenção em algumas áreas de sua empresa e em investimentos que já foram feitos que hoje não trazem retorno e que com um pequeno “banho de loja” podem valer ouro. Mas olhar para fora também é importante e vai te ajudar durante a jornada.
E a principal dica: Sim! você precisa de ajuda!
Estamos atravessando uma mudança de era e isso é mais do que natural, muita informação, novas tecnologias e novos modelos de negócio estão surgindo, por isso, é necessário ajudar para acompanhar todas estas mudanças e principalmente ajudar a identificar oportunidades de novos modelos de negócios dentro do seu ambiente e fora dele.
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