Quarta-feira, 07 de abril de 2021
Em 2009, quando fundamos a DigitalMe, uma das primeiras agências de mídias sociais do Brasil, a ideia era, simplificando, criar conteúdo e fazer a gestão de perfis de personalidades e celebridades no Twitter. O microblog estava fazendo sucesso nos EUA e começava a ser bastante usado por aqui.
No entanto, nossos primeiros clientes acabaram sendo empresas e instituições em vez de pessoas e passamos a oferecer um serviço focado em disseminação de conteúdo para criar vínculos com o público e para dominar os resultados na busca orgânica no Google, que chamamos na época de Reputação Digital. Assim, conseguimos dominar as primeiras páginas de resultados no buscador, melhorando a imagem e gerando negócios para nossos clientes. Também conseguimos criar comunidades de defensores e embaixadores espontâneos das marcas.
O pulo do gato era simples: não enganar nem as pessoas, nem o Google. A estratégia era criar sempre conteúdo verdadeiro, relevante e interessante, que tivesse potencial de ser recomendado. Depois, desdobrá-lo em formatos diferentes e espalhá-lo por diversas propriedades digitais das impresas, como sites, blogs, redes sociais e sites de compartilhamento de fotos, vídeos e apresentações.
Todo o processo foi desenvolvido na prática, no dia a dia, quando rede social ainda era tudo mato, não existia Instagram, nem páginas comerciais no Facebook, nem a profissão de influenciador (no máximo blogueiro, mas dava pra contar em uma mão quem ganhava dinheiro com isso).
Num momento em que isso era muito novo, a gente tinha que convencer as empresas inseguras da importância de ter perfis oficiais no Twitter e no Facebook para responder oficialmente às pessoas que já estavam ali falando sobre elas. Instituto Inhotim, CEMIG Energia, Warner Home Vídeo, MSC Cruzeiros, Makro Atacadista, FGV, Chubb Seguros e Instituto Onodera foram algumas das empresas que se posicionaram pela primeira vez nas redes sociais guiadas pelas nossas mãos e ideias.
Além de fazer o trabalho, era importante mostrar ao mercado a importância dele. Por isso, comecei a ensinar tudo o que estávamos fazendo, por meio de palestras e cursos no Digitalks, de norte a sul do Brasil, literalmente.
Essa semana, olhando no meu SlideShare pessoal, reli algumas apresentações que fiz em 2011 e cheguei à conclusão de que praticamente nada mudou em 10 anos nas mídias sociais.
Veja algumas questões em relação ao uso das redes sociais que eram verdade na época e continuam sendo até hoje:
Para as empresas, ter presença on-line, em redes sociais e propriedades oficiais, significa levar informação e se conectar com seu público, ser lembrado e gerar negócios. A conversa já está acontecendo e as marcas têm a opção de dominar a narrativa e estimular conversas sobre assuntos aos quais querem estar relacionadas. Quem não é visto não é lembrado e, cada vez mais nesses dez anos, os olhos das pessoas estão literalmente voltados ao que é postado nas mídias sociais. Estar presente e participar é uma forma de engajar o público, criar uma comunidade e ter a preferência.
A frase parece batida, mas continua verdadeira. Assim como naquela época, qualquer marca ou pessoa que ofereça conteúdo relevante tem a possibilidade de se tornar referência e conquistar audiência nas mídias sociais. Por isso, cada vez mais, empresas tornam-se publishers e investem em branded content, em maior ou menor grau, dependendo, claro, dos recursos disponíveis. Produzir conteúdo, principalmente de forma relevante, não é fácil nem simples. Porém, a importância desse trabalho é cada vez mais reconhecida.
Alguns fenômenos fora da curva acontecem e conseguem se destacar da noite para o dia na internet. Mas, para a maioria das pessoas e empresas, relevância e importância são construídas passo a passo, com conteúdo bom e constante (Paulo Cuenca que o diga). Hoje, é possível agilizar um pouco o processo usando recursos de impulsionamento de conteúdo que algumas plataformas sociais oferecem e não existiam há 10 anos. Porém, nada substitui qualidade e volume de conteúdo acumulado ao longo do tempo.
Uma década atrás, mesmo em momentos de crise (ou principalmente neles), já aconselhávamos nossos clientes a ouvirem o que o público estava falando, responder e usar a informação para melhorar. Assim, conseguimos criar grandes cases de atendimento ao cliente e reverter danos à imagem de marcas. Redes sociais são sobre troca. Cada vez mais, não basta estar presente, tem que participar.
Mesmo o que mudou, na verdade não mudou nada. O que começava a acontecer lá atrás foi apenas potencializado pelo desenvolvimento tecnológico e democratização do acesso à Internet.
Influenciar por meio da internet virou uma profissão. Ao longo dos anos, foram criadas formas de monetizar a audiência de pessoas que se tornaram famosas nas redes sociais. Ganhar seguidores e transformá-los em dinheiro recomendando produtos virou o sonho de carreira de muita gente.
Porém, mesmo quem não faz disso um trabalho acaba influenciando sua rede, assim como já acontecia muito antes da criação das mídias sociais. Só que, agora, o alcance de uma opinião ou uma recomendação acaba sendo muito maior do que a roda de amigos ou de comadres.
Hoje, qualquer pessoa produz e posta vídeos o tempo todo. Há 10 anos, para fazer um vídeo, mesmo o famoso “viral” que todas as marcas pediam e que parecia espontâneo e amador, era necessária uma estrutura muito maior. Os celulares tinham baixa qualidade de captação e de armazenamento, a transmissão de dados era mais lenta e a maioria das redes sociais não tinha recursos para publicação de vídeos. Era preciso subir em sites específicos, como YouTube ou Videolog, e compartilhar o link.
Com o avanço da tecnologia, o recursos audiovisuais viraram os queridinhos. Mesmo conteúdos que poderiam ser uma simples foto são criados atualmente com pessoas fazendo dancinhas e se mexendo sem parar para aumentar o alcance e o engajamento das postagens, já que são privilegiados pelos algoritmos sociais.
A verdade é que o vídeo torna as pessoas mais reais, cria identificação e aproximação com o público e deve, sim, ser explorado, mas de formas que façam sentido, sejam relevantes e criativas, sempre.
Há dez anos, era muito mais difícil explicar para as agências acostumadas a trabalhar com offline a importância de se medir com acuidade os resultados das ações nas mídias sociais. Ao contrário de um comercial veículado na TV ou um outdoor, qualquer conteúdo publicado na Internet, já naquela época, podia gerar uma série de dados e informações exatas que permitiam analisar com assertividade os resultados das ações, mesmo com ferramentas de métricas muito mais simplificadas que as atuais.
Atualmente, qualquer marca, mesmo que pequena, fica de olho nos números para avaliar o retorno sobre o investimento que suas ações e conteúdo estão gerando.
Para se ter ideia, em 2011, o Facebook tinha 21 milhões de usuários no Brasil, segundo o Social Bakers. Na época, ainda perdia para o saudoso Orkut em número de contas criadas. Atualmente, líder entre as plataformas sociais no país, conta com 120 milhões de pessoas ativas por aqui.
Naquela época, ter um blog, uma conta no MySpace ou um Fotolog era coisa de jovem conectado. Em 2009 apenas 15% das pessoas com mais de 50 anos afirmaram ter acessado a internet. Hoje, influenciadores com mais de 60 anos bombam no Instagram e o Facebook é dominado por pais e avós. A facilidade de acesso a internet, com planos mais baratos e celulares mais acessíveis, também deu voz a gente que antes não tinha, mas que tem muita informação para compartilhar.
Isso criou um exército de produtores de conteúdo, para o bem e para o mal. Ao mesmo tempo em que é muito mais fácil lançar uma música ou atrair clientes de qualquer lugar do planeta, o bombardeio de informação, os discursos de ódio sem filtro e as fake news surgem como efeito colateral. O WhatsApp facilitou ainda mais o compartilhamento de informações e a influência entre redes de contato.
Enfim, a realidade que vivemos hoje, com pandemia e necessidade de isolamento, era inimaginável há 10 anos. Porém, a semente que foi plantada lá atrás, baseada em conexão e informação, não poderia ser mais essencial para passarmos por esse momento.
Você também viveu o nascimento das mídias sociais? Acha que tudo está diferente ou concorda que nada mudou?
Estrategista de comunicação especialista em conteúdo, trabalha há 12 anos com posicionamento de empresas no ambiente digital. Super curiosa, estuda incansavelmente tudo o que tem a ver com o assunto. Na Tailor Made Content, cria estratégias de conteúdo e reputação digital para empresas.
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