Quinta-feira, 10 de agosto de 2017
Talvez nunca tenhamos vivido uma crise de liderança tão profunda.
Nosso presidente tem sua legitimidade questionada. A única coisa inquestionável nele são as suspeitas, que são muitas – algumas delas acompanhadas de provas.
No congresso nacional, a situação não é melhor. A maioria dos deputados e senadores é alvo de alguma investigação ou inquérito criminal.
No judiciário, a situação não é diferente. Juízes alinhados com posições políticas, privilégios, favorecimentos e uma falta de conexão com a realidade, são, talvez, a face mais visível da justiça. Enquanto o país se afunda em denúncias, os salários dos juízes são reajustados, e assuntos como se pode ou não entrar com pipoca comprada em outro lugar nas salas de cinema têm prioridade a temas como o fim do financiamento das campanhas eleitorais pelas empresas.
Mesmo empresários “símbolo de sucesso”, como Eike Batista, e “cases de marketing”, como a construção de marcas como Friboi, hoje estão nas páginas policiais. Nem mesmo o jovem e emergente terreno das startups escapa dessa “crise de liderança”: o fundador do Uber não conseguiu se manter no cargo, e Dave McLure, ícone da aceleradora 500 Startups, foi afastado, sob acusações de assédio sexual por algumas empreendedoras.
Como diz a linguagem popular, não tá fácil para ninguém.
Em tempos de mudanças constantes e cada vez mais velozes, o velho estilo de liderança não vem mais “dando conta do recado”. E há um outro elemento que é decorrência da sociedade em rede: a transparência de tudo. Pois a interconectividade quase onipresente, a crescente tecnologia dos dispositivos, as possibilidades decorrentes do poder da análise dos dados e do aprendizado permanente das máquinas fazem com que a privacidade seja cada vez mais rara. E isso faz com que o novo líder fique quase que permanentemente exposto, exigindo uma coerência em todas as facetas da vida pessoal, profissional, comunitária, familiar.
Também a busca cega pelo resultado pode comprometer outros valores, que são cada vez mais caros e valorizados por muitas pessoas: a liberdade de expressão, a alegria, o respeito, a confiança, o propósito.
E quando esses valores mais pessoais são afetados, a consequência se dá na produtividade, na queda do entusiasmo, na falta de comprometimento – e isso acaba afetando os resultados de toda a organização.
Não são raros os casos de profissionais que acabam mudando de emprego para ganhar menos – mas para estar mais próximos de seu propósito de vida.
Foi em busca de um novo estilo de liderança – que fosse capaz de responder a todas essas “novas” demandas – que Maria Giudice e Christopher Ireland conceberam “Rise of the DEO: Leadership by Design”, lançado em 2014 e ainda não lançado em português. As autoras acreditam que a cultura do design, baseada em empatia + colaboração + prototipação, pode forjar um novo estilo de liderança, baseada em seis características. Venho trabalhando esse conceito como base do que chamo de liderança criativa, que é um estilo de liderar que pode ser observado em alguns comportamentos:
– É um agente de mudança – “A única certeza é a mudança”. A liderança criativa sabe que todo obstáculo é uma oportunidade para transformação. Ela é a faísca que dá a ignição às transformações. Vê soluções onde todos enxergam problemas.
O líder criativo usa constantemente a regra de pareto (20/80). Ele sabe priorizar e dar atenção àquilo que é importante. Ele gerencia “to do lists” e cumpre prazos. Não espera, faz acontecer e cria suas oportunidades.
Constrói e colabora rabiscando, usando ferramentas visuais e técnicas para criar, conceber e comunicar planos e projetos. Sempre tem por perto folhas em branco, canetinhas, post-its, folhas de flip-chart.
O/A líder criativo (a) não reclama. Supera as dificuldades sabendo que o destino está nas suas mãos. Não delega sua felicidade e suas metas para outras pessoas.
O “novo líder” gosta mais de pessoas do que de coisas. Porque ele está atento aos detalhes e é um ótimo observador. Em uma conversa, ele não fica olhando para o relógio ou conferindo a todo momento o WhatsApp. Ele está presente, olho-no-olho, e por isso confia tanto na intuição quanto na razão.
Cultiva redes de relacionamento. Isso não significa apenas trocar cartões em eventos. Significa se importar, mesmo. E não aparece apenas para pedir favor ou quando precisa de algo. Ele acredita na força da rede e se esforça não só para ampliar seu networking, mas principalmente para fortalecer os laços já existentes.
Se permite errar, pois sabe que toda a inovação vem da experimentação, do aprendizado através de sucessivos testes. Por isso, ele prefere falhar pequeno e ganhar musculatura para quando precisar resolver grandes obstáculos. Além disso, ele sabe que experimentar não significa arriscar-se à toa.
Sabe que pequenas decisões e atitudes fazem parte de sistemas complexos e interdependentes. Por isso, o líder criativo está mais interessado no “por quê” do que no “como”. Ele conecta os pontos e aprende sobre influências e motivações.
Tem sua curiosidade por conhecimento sempre afiada. Usa toda oportunidade que tem para aprender algo novo. E é humilde e ciente de seu conhecimento limitado diante da imensidão do universo.
Embora conhecer, refletir e buscar afiar constantemente essas características seja importante – e essa é uma lista em construção, que pode ainda ser completada – me parece que o mais importante desse novo conceito é o fato de que a melhor forma de APRENDER esse novo estilo de liderança é FAZENDO.
Exercitando.
Experimentando.
Errando e aperfeiçoando.
Estudando o pensamento e a cultura do design.
Usando as ferramentas.
Tudo isso torna a jornada de “TORNAR-SE” líder criativo uma missão que pode ser endereçada por qualquer um de nós.
Desde que queiramos abraçar e perseguir essa causa com amor, exercício, estudo, dedicação e diversão.
Assunto interessante, né? O Marcelo Pimenta vai falar mais sobre esse tema em sua palestra no Expo Fórum de Marketing Digital, que vai acontecer no palco What´s Next, no dia 30.
é criador do blog Mentalidades, professor de inovação da ESPM-Escola Superior de Propaganda e Marketing, e fundador da consultoria Laboratorium Inovação em Projetos Inovadores e da aceleradora de resultados Protagonistas.
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