Terça-feira, 08 de março de 2016
Não há mais o que negar: mulheres não querem ser representadas por flores no Dia Internacional da Mulher. Promoções (absurdas, convenhamos) como aquelas que sempre vimos com descontos em eletrodomésticos, por exemplo, menosprezam a real visão do que esse dia quer dizer – a luta feminista por melhores condições de vida e de trabalho, além de igualdade política e econômica (veja como foi definido o Dia da Mulher AQUI).
Em tempos que as próprias mulheres consideradas formadoras de opinião entendem o que é colocar uma ideia que possa menosprezar a batalha por direitos e espaço social publicamente – leia aqui o caso recente do texto de Fernanda Torres e sua retaliação – torna-se evidente que as mulheres brasileiras querem mais. E se isso acontece, caro colega, pode ter certeza que suas consumidoras também esperarão mais.
Mas como se sobressair em um mar de marcas fazendo o mais do mesmo?
As mulheres vêm ampliando cada vez mais sua inserção na economia. Segundo pesquisa do Dieese e da Fundação Seade divulgada na semana passada, a tendência é de aumento da participação da mulher e crescimento na formalização.
E não é apenas como funcionárias que as mulheres estão fazendo diferença, não. De acordo com a pesquisa do Global Entrepreneurship Monitor (GEM) 2015, patrocinada pelo Sebrae no Brasil, entre os empreendedores iniciais, a porcentagem entre homens e mulheres é quase a mesma: 49% para elas e 51% para eles. Entre os empreendedores estabelecidos, o número é de 44% e 56%, respectivamente.
Outra pesquisa da Endeavor Brasil de 2011, a primeira no mundo sobre empreendedores inovadores que considerou diferenças entre gêneros, mostrou que empresas inovadoras e de alto crescimento lideradas por mulheres têm mais facilidade em atrair e reter talentos, uma dificuldade marcante no mercado.
O que essa informação aponta?
Sim, existem diferenças na forma como mulheres e homens lidam com problemas e desafios, e as mulheres trazem consigo mais empatia no trato com o outro. Além da empatia, líderes femininas demonstram ser mais resilientes e enérgicas, de acordo com o estudo Women Leaders Research Study, da consultoria em gestão de talentos Caliperp.
Outro levantamento sobre as diferenças entre as competências entre homens e mulheres em posições de liderança, esta divulgada pela Harward Business Review, indicou que, apesar das mulheres geralmente serem reconhecidas por competências de liderança mais sutis, tais como “desenvolver os outros”, “construir relacionamentos”, “colaboração” e “trabalho em equipe”, as características em que elas mais se sobressaíram não perdem em nada para o que reconhecemos nas lideranças masculinas: “foco em resultados”, “pro-atividade nas iniciativas”, “demonstração de integridade” e ainda “honestidade” (boa!). Foram consideradas 16 competências como típicas de líderes e os índices alcançados pelas mulheres foram superiores aos dos homens em 10 delas.
E acho que podemos ainda mais. Sabemos por meio de técnicas e recursos utilizados pelo Marketing para inovar – o Design Thinking, para citar um exemplo – que quanto mais multifacetada e multidisciplinar a sua equipe, maiores as suas chances de inovar. E o conceito é muito básico: pessoas diferentes, com backgrounds diferentes, pensam diferente. Consequentemente, você terá mais alternativas, saindo do “mais do mesmo”. Não espere um resultado diferente se você sempre faz as mesmas perguntas.
Como profissional de comunicação e marketing e mulher, tenho uma proposta diferente a fazer a você, empresário ou profissional da área: que tal olhar para dentro do seu negócio antes de sair abaixando os preços hoje?
1 – Público interno influencia público externo
Dentro dos pilares de um planejamento estratégico de comunicação leva-se em conta o público interno e externo. Nas diferentes relações estabelecidas, é sabido que o que é feito internamente não só gera mais produtividade como também é perpetuado para fora da empresa. Isso porque todos os funcionários da empresa possuem relações externas e pessoais e adivinhe só: eles falam! Isso quer dizer que, se a sua empresa possui uma prática bacana ou ruim internamente, isso se propaga. E direta ou indiretamente também afeta o seu público. Esse é o ponto Um.
2- Use de empatia nas ações
O ponto número Dois é que estabelecer uma postura mais humanizada perante o seu consumidor também causa empatia. Se você possui um programa legal que beneficia suas funcionárias, se você tem benefícios para mães que trabalham e facilitam suas vidas, por que não deixar isso claro para o seu público externo feminino? Como mulher, marqueteira e consumidora, posso dizer que isso me cativa. Quer fazer uma promoção (sem apelo machista) também? Ok. Mas pode ter certeza: alinhar o discurso e ofertar mostrando que a sua empresa se preocupa com o bem-estar ou conhecimento das próprias pessoas que trabalham pela marca é um diferencial poderoso.
É lógico que não adianta fazer bonito “só para gringo ver”, como diz o ditado. Fazer uma campanha, um texto no blog ou post nas redes sociais usando seus funcionários pode ser um tiro no pé se houver contradições internas gritantes – vide o Caso do Mc Donald’s brasileiro. O que quero dizer é: que tal olhar para dentro antes de sair apontando para todos os lados?
3- Reúna homens e mulheres para debater campanhas
O ponto número 3 retoma o que disse no início do texto: inovação e pluralidade. Se o seu desafio é fazer uma ação ou campanha voltada ao público feminino, que tal ouvir as vozes que existem dentro da sua empresa? Busque pessoas internamente para fazer um brainstorm sobre o que seria interessante fazer para comemorar a data. Forme seu próprio Focus Group! (Dadas as devidas proporções e lembrando que não é a mesma metodologia, claro).
O importante é reunir ideias de quem é também o público-alvo da sua ação. Anote-as e depois analise a viabilidade com o budget. Você verá que muita coisa interessante pode surgir daí.
A sociedade está mudando drasticamente em diversos campos, como o tecnológico, o político e o social. E as marcas vão precisar acompanhar as mudanças, sempre olhando sob o prisma do cliente, correndo o risco de serem extintas do mapa se não o fizerem. Nada mais natural do que envolver a parcela da população que você quer vender, não soa lógico?
Clichês à parte, termino o texto com uma frase inspiracional de uma mulher (como poderia ser diferente?). Mas não porque é recurso de texto, e sim porque, ao meu ver, dá margens a interpretações do ponto de vista da mulher na sociedade e também sob o ângulo das marcas perante as transformações sociais. Para se pensar…
“O presente não é um passado em potênica, ele é o momento da escolha e da ação.” – Simone de Beauvoir, filósofa e escritora francesa.
Gabriela Manzini é jornalista formada pela Universidade Metodista de São Paulo, trabalha com Comunicação desde 2007 e Marketing Digital desde 2011. É especialista pós-graduada em Comunicação Corporativa e Relações Públicas pela Cásper Líbero, com nanodegree em Marketing Digital. Atua hoje com comunicação estratégica, marketing digital e consultoria para pequenas e médias empresas. Em suas passagens por agências de comunicação e marketing, já atendeu clientes como Microsoft, Philco, Wacom Brasil, Toshiba Brasil, Citibank, Credicard Hall, Omron, Internacional Shopping Guarulhos, e os cantores Fábio Jr. e Paula Lima. Na área corporativa, trabalhou no departamento de Marketing da Shoestock e foi Head de Conteúdo e Comunicação no Digitalks, empresa do grupo iMasters, referência em marketing digital no Brasil. Possui ainda expertises em planejamento estratégico, CRM, inbound e marketing de conteúdo, Social Media Marketing, Video Marketing, estratégia de PR, comunicação interna e endomarketing, e design thinking para criatividade e inovação.
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