Sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018
A tecnologia blockchain surgiu em 2008 e passa pelo mundo como um furacão. Mercados tradicionais, como o bancário, foram sacudidos por essa novidade e estão se reinventando para ficarem vivos no jogo.
O fruto mais famoso dessa tecnologia é o Bitcoin. A moeda virtual vem chamando atenção há alguns anos, mas explodiu em 2017, quando seu valor subiu mais de 1500% em apenas 12 meses.
No entanto, o Bitcoin é apenas a ponta do iceberg. A tecnologia blockchain oferece diversas aplicações práticas e promete mudar nossas vidas, principalmente no que se refere à segurança de dados digitais e à telecomunicação.
Blockchain é uma daquelas novidades que parecem abstratas demais para quem não é do ramo. Mas, em bom português, o termo pode ser traduzido como “cadeia de blocos” ou “blocos encadeados”. Cada bloco contém um conteúdo específico (por exemplo, um valor financeiro) e uma impressão digital (código) que remete ao bloco anterior, e assim sucessivamente. Dessa forma, cria-se uma cadeia de blocos ligados entre si por impressões digitais registradas.
Para compreender melhor, imagine a sequência: Bloco A (contém o número 2); Bloco B (contém o número 3 + impressão digital do Bloco A), Bloco C (contém o número 4 + impressão digital do Bloco C).
Perceba que cada parte da fileira está interligada com as demais e é possível rastrear a origem de qualquer bloco a partir da impressão digital de um deles. Isso permite que toda a informação seja certificada e validada rapidamente.
Dentre as principais vantagens dessa tecnologia, a mais citada pelos especialistas é a cibersegurança. Isso porque (além do rastreamento citado no item acima) o blockchain rompe com o modelo atual de armazenagem de dados centralizados e aposta na descentralização.
Os blocos são “depositados” em milhares de computadores espalhados pelo mundo, mas interligados entre si. Graças ao trabalho integrado das máquinas, qualquer mudança feita na cadeia de blocos só é aceita se todos os computadores “permitirem”.
Na prática, isso significa que, mesmo se uma máquina seja hackeada, as demais vão perceber a mudança e barrar o ataque. Sendo assim, fica muito mais difícil invadir um sistema desses. Porém, os especialistas também afirmam que nada é 100% seguro e que falhas podem ocorrer, apesar de serem raras.
Pouco a pouco, o blockchain começa a invadir as nossas vidas, trazendo grandes mudanças, em especial, no que se refere à segurança das informações trocadas pela internet.
Senha de banco será coisa do passado – A novidade mais comentada com a chegada do blockchain é a mudança de como acessamos nossas informações bancárias e financeiras. Atualmente, digitamos usuário e senha para visualizarmos a conta online. No futuro será diferente.
Graças à tecnologia, é possível validar e verificar um determinado dispositivo (celular ou desktop) e checar com qual usuário esse dispositivo está linkado. Atualmente, a verificação é feita apenas pelo perfil do usuário, criando brechas de segurança.
Essa possibilidade de validar diretamente o “device” vai fazer muito banco aposentar o modo atual de fazermos login.
Deixar de lado o hábito de digitar usuário e senha para acessar os sites também trará benefícios para pacientes de clínicas, hospitais e consultórios. Atualmente, os dados de saúde de cada pessoa ficam atrelados a um perfil (com usuário e senha, claro).
A partir do blockchain, diversas startups estão criando maneiras de manter as informações sob sigilo e acessadas de formas diferentes, sem precisar do login comum. Assim, os dados ficam guardados de maneira muito mais segura, mantendo sigilo absoluto.
A capacidade do blockchain em manter todas as transações e mudanças registradas em um sistema criptografado é uma arma eficaz para o rastreamento de alimento. É por isso que o Walmart, a maior empresa de varejo do mundo, mergulhou de cabeça na tecnologia.
O objetivo do varejista é desenvolver “um método baseado em padrões de coleta de dados sobre a origem, segurança e autenticidade dos alimentos”. Significa que o consumidor final saberá tudo sobre o alimento que compra, desde o local onde foi plantado, quando foi colhido e como chegou à prateleira do supermercado.
Tanta informação é especialmente útil no mercado chinês, no qual os primeiros experimentos estão saindo do papel. A tendência é que o projeto seja implementado em muitos outros países.
A companhia Sirin Labs está desenvolvendo o primeiro smartphone do mundo baseado em blockchain. O grande objetivo é criar um aparelho especial para gerenciar criptomoedas, como o Bitcoin. Só que a ideia vai além.
Batizado de Finney, o smartphone também contará com uma série de outras funcionalidades, como detecção de invasão a partir do comportamento dos usuários, visando aumentar (e muito) a segurança do aparelho.
O desenvolvimento está apenas começando, mas a empresa conseguiu levantar milhões de dólares em um crowdfunding.
Domínios serão blindados contra ataques – Um dos modelos de ataque hackers mais comuns é aquele em que os ciberpiratas inundam um servidor, data center ou domínio com milhares de acessos simultâneos. Isso derruba a estrutura de TI de qualquer empresa.
Com o blockchain, a estratégia está com os dias contados. Isso porque o caráter descentralizado da tecnologia obrigará o hacker a obstruir todos os nós da rede de blocos, e não um único domínio, o que é praticamente impossível.
A falta de segurança e confiança entre pessoas levou, especialmente no Brasil, ao surgimento de uma série de burocracias e de intermediários, como cartórios, assinatura em três vias e inúmeros documentos de identificação.
Com o blockchain, temos agora uma tecnologia capaz de criptografar, rastrear e certificar qualquer informação. Na prática, isso poderá dar fim àquele carimbo no cartório, que serve apenas para confirmar que sua assinatura é sua mesmo. Será menos burocracia para todo mundo.
É fato: o surgimento da “cadeia de blocos” vai trazer mudanças profundas, que vão impactar no nosso dia a dia. As novidades ainda estão sendo testadas, mas em breve devem aparecer no nosso cotidiano.
é empresário há 25 anos no segmento de Internet e sempre atento às novas tendências tecnológicas do mercado. Graduado e Pós-graduado pela UFRGS foi um dos sócios do primeiro provedor de Internet na região sul do país. Após um breve período como diretor de sistemas de uma multi-nacional, voltou a empreender em 2004, fundando a Telium Networks, onde tem papel de CIO. A Telium é uma empresa focada em soluções de Telecomunicações e Data Center para o mercado corporativo.
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