Quarta-feira, 01 de julho de 2015
Vamos em nosso artigo falar sobre uma carreira relativamente nova que pode ter vários nomes “analista de mídias sociais”,“social mídia” ou “mídias sociais”. Então quando alguém fala “sou o social mídia da marca tal” ou “sou o mídias sociais da marca” estão todos se referindo ao profissional que cuida de toda a comunicação de uma empresa nestes novos espaços da comunicação corporativa. Facebook, Twitter, Linkedin mudaram a forma como as corporações se comunicam com seu público e há então necessidade de um profissional que cuide desta área.
É difícil precisar quando esta função surgiu, mas em 2013 a revista Exame publicou notícia falando das“20 novas profissões que despontaram nos últimos cinco anos” e estava lá a função de “Gestor de mídias sociais” (olha aí mais um nome), na época reportagem dizia:
Engana-se quem pensa que a rotina de trabalho de um analista de mídias sociais se resume a passar o dia clicando no botão curtir do Facebook ou tuitando. O dia a dia depende de estratégia, um profundo conhecimento dos negócios da companhia em questão e domínio das principais ferramentas sociais. Afinal, de uns tempos para cá, ser estratégico no meio digital virou conceito de ordem para o sucesso das empresas.
E até recentemente a mesma revista fez matéria com o título 42 profissões promissoras para 2015, segundo os recrutadores, e está lá perdido no meio das outras o Profissional de mídias sociais (vá contando os termos já estamos em cinco).
Por ser relativamente nova a profissão ainda não existe na CBO (Classificação Brasileira de Ocupações) e normalmente que atua nesta área é contratado como analista de comunicação ou áreas correlatas. Também não há consenso se esta é uma área de jornalistas, relações públicas ou publicidade. Para empresas grandes o ideal seria então um mix destes profissionais. E para uma agência de comunicação que trabalha atendendo outras marcas de forma terceirizada, qual é perfil buscado?
Para entender mais sobre isso falamos com o diretor da Agência Pólvora – especializada em mídias sociais – Mario Soma. Ele diz que para cada necessidade há um perfil diferente.
Depende da vaga. Pode ser para conteúdo, monitoramento ou relacionamento, por exemplo. Cada vaga tem uma característica específica. Depende também do perfil de cada um. Não necessariamente temos jornalistas, publicitários e relações públicas. Tem muita gente com uma formação, porém com um “dom” para fazer outras coisas. Por exemplo, já contratamos veterinários, arquitetos, biólogos que desempenhavam funções em redação, atendimento e arte. O perfil mais procurado é daquele profissional que tem a cultura e sensibilidade para conhecer a marca e seu universo expandido, além da marca. Ou seja, se o produto é de consumo, como as pessoas se comportam no ambiente da marca e não somente no consumo daquela marca.
Como podemos ver por ser uma área relativamente nova não ainda um consenso ou um escopo das competências para se atuar nesta área. Algumas são óbvias como o conhecimento das ferramentas, tais como o Facebook, e também de ferramentas específicas, como por exemplo, o Scup que facilita o trabalho de quem atua nesta área.
O site Trampos (especializado em divulgação de vagas) e a empresa Alma Beta (presta serviços especializados em comunicação digital) fizeram uma pesquisa ano passado com este profissional. Foram ouvidas 1037 pessoas de todo o Brasil, que responderam pesquisas sobre a escolaridade, a faixa salarial, o nível de satisfação, com o mercado de trabalho e com as empresas onde estão, as influências, as referências e as expectativas para o futuro.
De acordo com o estudo(que pode ser baixado gratuitamente aqui) a maioria que atua nesta área é mulher (56,5%) e tem entre 25 e 30 anos (46%). Mais da metade de todos os ouvidos (55%) está em São Paulo, sendo que 38% são da capital. 47% tem ensino superior e quase a metade deles já desenvolveu algum trabalho autoral na internet, como por exemplo, a criação de um blog ou canal no Youtube.
A média salarial diagnosticada pela pesquisa é de R$ 2.885,00 para homens e R$ 2.424,00 para mulheres. Um salário de diretoria nesta área chega ao topo de R$ 4.408,00 e neste caso ter pós-graduação ou mestrado é fundamental. Estagiários começam com salários médios de R$ 1.630,00
Mesmo sendo uma nova profissão esta carreira herdou o fato de mesmo as mulheres sendo maioria na profissão ganham menos que os homens na média.
O que mais surpreende é que mesmo com os aparentes baixos salários os profissionais que atual nesta área se mostraram altamente felizes com as funções que desempenham.
É que para a maioria o salário é a 8ª coisa mais importante levada em conta para o trabalho, em primeiro lugar vem a possibilidade de aprendizado e depois o clima organizacional. Salários e benefícios não estão na lista de prioridades destes profissionais.
A Renata Delfiol trabalha há muito tempo com mídias sociais. Ela já atuou com grandes marcas do setor digital e de e-commerce e já viveu na pele os benefícios e problemas de quem escolhe a carreira de social media e nos conta um pouco mais da realidade de quem atua na área.
Assim como o mercado sofreu um boom na área de Design anos atrás, com muitos profissionais prestando serviços, muitas vezes sem formação especifica, mas oferecendo mão de obra a um custo bem mais baixo, a área vem sofrendo com quedas nos salários e benefícios. Como “qualquer um faz isso” aparentemente vem se tornando corriqueiro, acredito que o profisional da área tenha que enxergar mais longe e se especializar ainda mais. Prever qual é o próximo passo evolutivo da carreira deve ser sim uma constante. Se você era um analista de midias sociais, hoje deve se especializar no que fazer com os dados gerados e coletados por quem está no front, no dia a dia das redes sociais, cargo exercido anteriormente somente por quem tinha uma formação ou mais experiência. Big Data por exemplo pode ser um caminho. Assim como aquele profissional que estava acostumado com a velha forma de fazer marketing se vê cada vez mais caminhando para o Inbound Marketing, conquistar o publico e não empurrar um serviço já foi provado por A mais B que é o caminho, e que o outbound está perdendo seu espaço (hoje ele é responsável por 10% dos cliques na web).
Big data, outbound marketing, mídias que mais performam, SEO, share of voice… São dezenas de novos termos técnicos que surgem a toda hora e que desafiam o profissional desta área precisa conhecer e se atualizar de forma constante. Cada vez mais o sobrinho que usa o Facebook todo dia e que é contratado para um quebra-galho na empresa precisa ser substituído por profissionais altamente capacitados para o setor.
No próprio site Trampos não achamos na home alguma vaga com o nome de Mídias Sociais (mas é possível achar algumas rolando a tela). Em uma delas a seguinte descrição de vagas:
REQUISITOS
– Excelente escrita
– Bastante conhecimento em google analytics
– Conhecimento em facebook ads e impulsionamento de posts
– Experiencia no gerenciamento de fanpages
– Foco em monitoramento e bi
– Análise de dados a partir de ferramentas de monitoramento de mídias sociais
– Conhecimento em social e web analytics
– Conhecimento em excel avançado
– Elaboração de insights por meio de análise de contexto
– Residir no mesmo estado do trampo
DIFERENCIAIS
– Gerenciado orçamento de facebook ads acima de r$20.000
BENEFÍCIOS
– Vale-transporte
Até o fechamento desta reportagem mais de 200 pessoas haviam se candidato à vaga.
Monitorar o mercado e gerar leads de vendas e redes sociais para identificar possíveis clientes e indicar a área comercial. Desejável conhecimento em Apple, Android, etc. Contratação: imediata! Salário fixo + VR + AM + comissão nas vendas. Local de trabalho: Perdizes – Barra Funda. Horário comercial.
Planejar ações, criar conteúdo e peças para diferentes redes sociais e agendar publicações. Relacionar-se com os clientes através das redes sociais atendendo às solicitações, reclamações, sugestões, elogios, compartilhamento, postagens, etc. Monitorar a marca e gerar relatórios mensais. Criar e apresentar métricas relacionadas às redes sociais através dos dados coletados no monitoramento. Presença digital ativa, é preciso que ele seja muito organizado e disciplinado não apenas para criar conteúdos, mas também, para executar as ações do planejamento. Criativo, além de planejar e produzir conteúdo, o candidato cria peças para as mídias sociais. Curioso e pró-ativo. Ter bom senso e estar antenado, notícias e fatos recentes podem se tornar tema de um post ou de uma ação digital. É essencial que ele esteja sempre preocupado com os conteúdos criados e tenha zelo ao compartilhar cada publicação.
Saber escrever muito bem, estruturar uma narrativa e concluir pensamentos, poder de síntese, produção constate de conteúdos, textos, infográficos, vídeos e outros. Experiência com as principais plataformas de interação digital. Ter experiência também na área de design e edição de imagens (Photoshop, CorelDRAW e Illustrator). Ensino Superior completo em Comunicação, Publicidade e Propaganda, Jornalismo, Relações Públicas ou Marketing.
No site Infojob no momento de pesquisa desta matéria encontramos 47 vagas. E na Catho com a pesquisa de analista de redes sociais encontramos 30 vagas com salários em torno de R$ 1.500,00. Achamos uma vaga no Distrito Federal com o valor de R$ 3.500,00.
Com salários aparentemente baixos e uma necessidade elevada de conhecimentos técnicos, pode-se pensar então que esta profissão é uma porta de entrada para outras. Há então uma carreira de mídias sociais? A Renata Delfiol também nos falou mais sobre isso:
Se você se reinventar e se reciclar diariamente sim. Quem ficou parado na era da lista de e-mails e spam vai perder cada vez mais espaço. Como disse anteriormente, temos que prever o processo evolutivo da carreira que escolhemos, o que funcionava e vendia antes, hoje já é obsoleto. Se o mercado está saturado, com muitas pessoas oferecendo o mesmo serviço, temos que procurar em nós e em nossas aptidões o que gostamos de fazer e seguir em frente, lapidando o caminho e burilando nossos conceitos. Ofereça algo diferente, procure novas praças de trabalho, principalmente para empresas e freelas, é possível trabalhar remotamente.
Estar realmente preparado para entrar nesta área é realmente um requisito fundamental. Por isso escolas como o Senac tem investido na formação dos profissionais em todo o estado de São Paulooferecendo cursos de pós-graduação em mercados que estão fora da capital. É o caso da cidade de São José do Rio Preto distante a 450 quilômetros da capital e com 400 mil habitantes e que oferece o curso. O coordenador do curso Emerson Místico explica um pouco mais sobre a importância deste tipo de iniciativa para a região.
Aos poucos o trabalho com mídias sociais na região está superando o amadorismo e se profissionalizando. Isso exige a presença de profissionais competentes e com habilidades condizentes com as adversidades enfrentadas no mercado. O curso de pós-graduação do Senac de São José do Rio Preto tem foco na capacitação de gestores para atuação do mercado de comunicação digital. Mais do que apenas aprender como trabalhar com uma mídia social, o aluno desenvolve competências que lhe permitem uma visão estratégica do uso do Facebook, Twitter, Instagram e outros, como ferramentas para obtenção de resultados, com base em estratégia e monitoramento.
Já do outro lado do balcão as empresas tem dificuldades em encontrar profissionais capacitados para gerenciar de forma responsável o perfil de empresas como se fossem seus porta-vozes no mundo digital. A Márcia Ceschini da franquia WSI especializada em marketing digital e com unidades espalhadas em diversas cidades fala um pouco mais desta dificuldade. “Dependendo da cidade, talvez a empresa não consiga profissionais seniores, mas um nível intermediário de conhecimento e experiência”. Marcia também ensina futuros profissionais do mundo digital e sente na pele a dificuldade dos alunos. “O que ouço dos meus alunos é que as empresas não sabem o que buscar e incluem funções até de programação e web designer na vaga”, explica Ceschini.
Ao ingressar em qualquer carreira é preciso se informar antes e saber os desafios que você vai enfrentar. Não há portanto uma melhor que a outra, já que o melhor depende da avaliação pessoal de cada um. Entretanto não é bom negligenciar isso. Se preocupar com seu futuro pessoal e profissional no médio prazo, pensar nos benefícios e principalmente no potencial de crescimento dentro da empresa é importante. Você começará como analista júnior e depois pode ser promovido para pleno, sênior, gerente e quem sabe diretor? São perguntas importantes e empresas sérias também levam em conta esta preocupação.
Na Pólvora – empresa que ouvimos no começo desta reportagem – o crescimento dentro da agência é baseado em diversos critérios pré-estabelecidos. Novamente o Mário Soma em entrevista exclusiva nos explicou como isso funciona por lá:
Os cargos precisam seguir uma dinâmica mais rigorosa, pois envolve a maturidade da pessoa e sua evolução dentro de nossa agência. Nessa parte, não tem novidade, além dos cargos convencionais. O que diferencia um pouco do ambiente mais corporativo é que as pessoas evoluem muito rápido e às vezes pulam alguns cargos. Nesse processo, costumamos aplicar uma avaliação, considerando a evolução pessoal, técnica e de trabalho em grupo.
Como vimos ainda por ser uma carreira relativamente nova pode ser uma aposta investir nesta carreira, mas com a maturidade das práticas nesta área a busca por profissionais capacitados irá ser cada vez maior. Resta saber se a remuneração irá acompanhar na mesma proporção as exigências do setor. E há é claro a possibilidade de empreender nesta área, mas assunto que iremos tratar em outro post na nossa seção de empreendedorismo.
E você está pronto para embarcar nesta carreira? Ou já atua na área? Conte para gente ali nos comentários.
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*Conteúdo original em: http://blogdoarmindo.com.br/
é formado em Comunicação Social – Jornalismo com MBA em Marketing em Varejo. Tem mais de 13 anos na área de comunicação, marketing e jornalismo, tendo atuado na Rede Globo e SBT. Atua com empresas de diversos portes na área de consultoria de marketing, novas mídias e e-commerce. É diretor de marketing da Cruz e Ferreira, professor para alunos de graduação, pós e MBA. Palestrante em diversas faculdades e empresas sempre com temas ligados ao novo comportamento do consumidor e seu impacto nas novas mídias. É criador do SMSP – Social Media São Paulo e blogueiro.
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