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[SXSW] O mindset experimental de Jeff Lawson

 

Vamos começar do começo: comentando uma das palestras que abriram o South by Southwest (SXSW), um dos maiores eventos de tecnologia, comunicação, cultura e entretenimento que também precisou se transformar digitalmente. Com a palavra, Jeff Lawson, co-fundador e CEO da Twilio, uma das maiores empresas de software do mundo. Ele também é best seller com o livro “Ask your developer” — bem nerd, hein? Sem falar no seu dom para criar nomes instigantes de palestras: “Toda empresa precisa se tornar uma empresa de software”. Como assim, Jeff? Ele acredita (e nos convence) que é pela tecnologia, inovação e transformação digital que uma empresa vai se destacar. Ou melhor, sobreviver. Bora entender melhor?

Jeff lembrou como, nos últimos 20 anos, o software saiu do backstage e veio para frente, virou vitrine. Software como experiência e potencial, aquilo que diferencia uma empresa aos olhos do seu público. E questionou porque as startups são disruptivas. Porque ouvem o consumidor, descobrem seus problemas que ainda não foram resolvidos e constroem as respostas para isso. E porque elas são pequenas! Quando uma empresa cresce, contrata times de especialistas cheios de boas intenções, mas que acabam se afastando das dores e verdades do consumidor. Bora fazer buracos nessas paredes inconscientemente construídas entre os times e os consumidores? Acontece nas melhores famílias e firmas, eu sei. Em outras palavras, é se reconectar com o propósito da empresa.

Jeff provoca a gente até no modo de contratar as pessoas. Olha que dica: tem de ser alguém que queira ser o dono dos problemas do consumidor (ou consumer obsessed, veja bem). E insiste nos times pequenos e focados. Dez pessoas, onde todo mundo dá o seu melhor e tem expectativas um no outro. Senso de urgência e de proximidade com o consumidor, somado à missão (por que vocês existem?) e às métricas que definem se estamos mesmo atendendo a esses consumidores.

Outra dica valiosa é deixar o time super próximo do líder: o quão perto se está de quem toma as decisões impacta diretamente no quanto a gente engaja, compra a ideia, faz aquilo acontecer. Decisões feitas localmente, permitindo que se questione, participe e discuta — e não decisões feitas por um nome perdido em alguma placa de porta sabe-se lá onde. Segundo Jeff, até uma empresa de grande porte pode ser constantemente dividida em times menores.

Como mudar o jeito de ser dessas grandes empresas? Por onde começar? Contratando o seu primeiro líder, que vai fazer a roda girar. Focando em uma área onde se queira inovar, como fez a Domino’s. Ela se reinventou ao se colocar no lugar dos pais atarefados que precisam resolver a janta da família no tempo de um semáforo fechado, pedindo comida a caminho de casa. Pense quantos atalhos ao já saber seu endereço, os sabores preferidos e ainda poder trackear o entregador para ver quem chega antes. Algo super comum hoje, mas que não era assim. Pizza com sabor de tecnologia.

Mais dicas para ser uma empresa de software, não importa seu ramo de atuação? De novo: dividir a equipe em times pequenos, com diferentes ideias e objetivos para atingir. Ter hipóteses que se queira provar ou desaprovar. Medir constantemente os progressos ou erros (input metrics, early metrics, metrics, metrics). Recompensar o time que descobre se aquela ideia é ruim antes que o consumidor faça isso. Lembrando que aprender o que seu público não quer é tão valioso quanto saber o que ele deseja.

E o conselho fundamental para gerar um ambiente inovador, se movimentando com rapidez no mercado: ter um mindset experimental. Inventar o futuro, sair na frente, errar e acertar. Ninguém sabe as respostas, estamos inventando o novo em tempo real. Precisamos nos transformar, senão estaremos mortos. Não é uma opção continuar no passado. E Jeff concluiu com uma metáfora (adoro) bem analógica que tangibiliza tudo: se você não planta uma semente, nunca vai ter a árvore. É preciso regar, cuidar, se dedicar. O mesmo acontece com a inovação.

Head of Creativity na Brivia, publicitária com mais de 30 anos de mercado e colunista de cotidiano no jornal Diário Gaúcho - Grupo RBS.

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