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Desafio de atrair e reter talentos na cena pós-pandemia

A área de tecnologia vive um momento extremamente competitivo e contrário à realidade de outros setores que foram diretamente impactados durante a pandemia.

Confira, abaixo, importantes pontos de reflexão, aplicados principalmente para empresas do setor de tecnologia, mas que podem ser aproveitados em diferentes segmentos igualmente aquecidos do mercado.

 

1 – Cuidado com o conformismo da guerra de mercado que tem roubado o espaço de reação e inovação de muitas empresas 

Pensar: “Não há o que ser feito, o mercado de tecnologia está muito aquecido e precisamos aceitar que muitos profissionais realmente vão embora ao meio de tantas abordagens” é algo perigoso. Sim, certamente nem todas as batalhas são ganhas e certamente muitos vão sair, mas atenção para não entrar no modo automático de ação anestésica. 

Se você, como líder, apoiar-se apenas neste argumento, irá retirar a rica oportunidade de avaliar seus próprios gaps como gestor, além de perder a iniciativa para desempenhar seu papel de facilitador junto ao board da empresa para provocar, cutucar e tentar viabilizar mudanças favoráveis para a equipe.

 

2- Cuide bem de seus líderes

Embora o grupo executivo e outros níveis de liderança tenham maior estabilidade e tempo de permanência nas organizações, eles precisam de cuidados importantes, não apenas pelo risco de também migrarem para outros desafios, mas também, e principalmente, pelo fato de representarem uma fonte importante de inspiração e engajamento para a equipe.

Com toda a rotatividade do mercado, analistas entrando e saindo o tempo todo, os gestores/líderes acabam consumindo muito mais tempo com alinhamentos básicos e ações de integração/ aculturamento, sobrando menos tempo para ações criativas e envolvimento com temas estratégicos que motivem este nível de senioridade. Ok, mas aí você vai dizer “paciência, este tipo de resiliência é esperada para este patamar de carreira”. Eu concordo contigo, mas lembre-se que se você quer que sua empresa ocupe um patamar diferenciado, a adoção de posturas e cuidados específicos vão fazer toda a diferença neste quesito. 

Faça seu time de líderes brilhar, permita que participem da tomada de decisões de negócio, crie espaços de escuta e ouça de verdade, isso não significa acatar todos os pedidos, mas genuinamente transmitir a sensação que as contribuições recebidas têm valor e devem sempre ser apresentadas. Ambientes que dão pouca voz de criação para o grupo arca com a consequência de uma circulação baixa de ideias novas, pois as pessoas não se sentem encorajadas a pensar fora da caixa, muito menos a contribuírem com a solução do problema, pois a mensagem velada que enxergam é “para que vou tentar investir tempo em ideias ou sugestões que pouco serão exploradas ou analisadas?”

Seja sincero: quantas vezes você já cogitou mudar de emprego, não pela cultura da empresa, nem pelo patamar salarial, mas principalmente pela frustração de ter um líder que não lhe estimula, não lhe inspira, não abre espaços e não te desafia mais positivamente? Ter coordenadores, gestores e diretores criativos, colaborativos, humanos e realmente focados em fazer desabrochar o melhor de cada funcionário é um degrau importantíssimo para a saúde emocional das empresas e um importante aliado quando o tema é retenção de talentos.

 

3- Invista em ferramentas de controle e priorização de atividades

Em tempos de modelo de trabalho híbrido, adotar ferramentas que ajudem no controle e gerenciamento de atividades é algo interessante para não perder de vista temas importantes, conseguir priorizar atividades e acompanhar os retornos de entregas realizadas pelo time. 

Essas ferramentas contribuem não apenas para uma gestão mais eficiente, mas costumam ajudar muito os próprios colaboradores na gestão de seus escopos diários e na percepção de quanto estão produzindo. Sabe aqueles momentos de crise pessoal em que pensamos “fiz, fiz e nada fiz”? Então, esta pode ser uma boa tática para eliminar a autossabotagem.

 

4- Aposte na gestão do conhecimento e disponibilize ferramentas simples que não engessem a passagem de conhecimento entre as equipes

Registrar, registrar, registrar… Esse deveria ser um bom mantra para todos os funcionários. Ter os principais fluxos de trabalho mapeados em documentos internos que poderiam servir de ponto de partida para qualquer novo colaborador que assuma uma determinada cadeira é algo importante, que economiza tempo de adaptação dos novos funcionários, tempo de transmissão de conteúdo por parte dos colaboradores com mais tempo de casa e além disso, serve como base de aprimoramento para identificação de pontos de melhoria. Quando escrevemos nosso escopo de trabalho, obrigatoriamente somos obrigados a revisitar fluxos e ajustar pontos ineficientes. 

Ter esse tipo de organização traz mais segurança para a equipe como um todo.

Aprender com quem já errou e acertou é economizar tempo e valorizar a experiência do colega. Ter espaços na intranet ou em ambientes internos seguros, onde os profissionais possam gravar com independência, pequenas aulas curtas sobre ações recorrentes é um jeito simples de criar uma cultura dinâmica de circulação de ensinamentos. 

É claro que o RH ou áreas técnicas parceiras precisam atuar na curadoria do conteúdo, principalmente para zelar que nenhum dado confidencial conste no material interno antes da publicação. Entretanto, pensando em temas macros como metodologias de trabalho, operacionalização de ferramentas e softwares, essa pode ser uma dica legal para escalonar o alinhamento de conhecimento interno.

 

5- Invista na formação de novos profissionais

Segundo a Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom), até 2024, a busca por profissionais de TI chegará a 70 mil novas vagas por ano, o que contribui para o famoso apagão de TI, tendo em vista que somente 46 mil profissionais se formam anualmente em carreiras deste segmento.

Ter academias internas de formação de profissionais é uma estratégia quase primordial para a sobrevivência das operações a médio e longo prazo. Eleger um professor interno ou vários talentos que possam contribuir como disseminadores de conhecimento é algo importante para a capacitação de novos colaboradores, além do que, isso contribui muito para a motivação dos envolvidos no projeto.

Falando um pouco de treinamento, o investimento não pode ser focado apenas em atrair e formar novos profissionais, mas sobretudo em oferecer cursos e capacitações interessantes para que o público interno perceba um ambiente de inovação e aprendizados constantes.

 

6- Dê oportunidades para outras fatias do mercado e ajude no fortalecimento da sociedade

Ao mesmo tempo em que identificamos mais de 12 milhões de desempregados no Brasil, temos um apagão na área de tecnologia. Essa é uma excelente oportunidade para fazer do limão uma limonada, tendo em vista que o cenário é mais do que convidativo para adoção de práticas mais inclusivas e que beneficiem nossa comunidade. 

Deixo aqui o convite para que as empresas criem novas práticas de seleção e ofertem mais oportunidades para jovens que sofrem com a dificuldade do primeiro emprego, para refugiados que segundo a ONU já representam mais de 57 mil no Brasil, para os aposentados – que tão brilhantemente podem contribuir dentro das organizações, para os profissionais com deficiência que muitas vezes se sentem pouco desafiados dentro das empresas, além de tantas outras minorias que podem ser tão bem acolhidas e desenvolvidas.

 

7- Explore ferramentas de desenvolvimento com poucos códigos (low-code e no-code)

Pensando no nosso cenário em que faltam profissionais de tecnologia, investigar a possibilidade de ter ferramentas que demandem menos conhecimento técnico de programação pode ser uma boa sacada para projetos menos complexos ou para entregas pontuais mais operacionais e menos analíticas. Isso facilitaria o processo de contratação, consequentemente o tempo de início de novos colaboradores, o processo de treinamento e também o nível de senioridade/ patamares salariais mapeados no mercado. Além do que, essa estratégia pode também ser uma boa porta de entrada para profissionais que queiram ingressar na área de tecnologia mas ainda não tenham a qualificação “padronizada” exigida por muitas empresas do mercado.

 

8- Crie programas ousados de reconhecimento de indicações

Nada melhor do que fomentar um ambiente no qual os próprios colaboradores atuem como recrutadores parceiros. Ter reconhecimentos agressivos pode, no final do processo, ser um investimento muito mais rentável do que uma simples análise momentânea de custo adicional. Premiar com R$ 500, R$ 1.000 ou até R$ 2.000 uma boa indicação pode incentivar internamente seus times a trazerem colegas para a empresa, desafogar seu RH que deve estar enlouquecido e de quebra ainda trazer a segurança de ter um ambiente de amigos e de parceria.

 

9- Revisite constantemente sua política salarial e seus benefícios

O mundo mudou, a pandemia quebrou paradigmas, incentivou mudanças e trouxe à tona pontos importantes de benefícios e alguns mimos que geram valor para os colaboradores. Está na hora das empresas se reinventarem. Já pensou na possibilidade de adotar benefícios flexíveis? Netflix poderia ser uma boa indicação, investimento em academias, programas de saúde emocional, tempo extra para atividades pessoais, mentorias personalizadas, descontos mais agressivos nos planos de saúde… Enfim, existe uma infinidade de propostas que podem ser investigadas. O importante é não paralisar e se movimentar sempre nesta análise.

Seja no patamar salarial, seja na remuneração variável, seja no pacote de benefícios, em um mercado em que a competição impera, ficar parado vai diminuir diretamente suas chances de sucesso em um processo de retenção.

Sabemos que não é só a remuneração que conta, mas sem dúvida, é um fator de grande relevância dentro do cenário corporativo.

 

10- Priorize o seu Recrutamento Interno

Não traga de fora profissionais para ocupar posições internas que poderiam ter sido ocupadas através da promoção de colaboradores já existentes. Não passe para a sua equipe a sensação de que os aumentos só chegam quando recebem abordagens do mercado. Mesmo que internamente seja difícil abrir mão de um talento, melhor fazer isso do que perdê-lo para o mercado. Incentive os reconhecimentos internos, divulgue em sua intranet as vagas da empresa, negocie com as lideranças a liberação de profissionais para outras frentes e motive com isso seu público interno. 

 

11- Forneça feedbacks constantemente

Isso é antigo, parece até um pouco clichê, mas é a mais pura verdade. Todos nós queremos saber onde estamos, como estamos indo, o que precisamos fazer para melhorar, para crescer, o que nos falta para assumir novos desafios ou para nos apropriarmos melhor daquilo que já existe em nossos escopos. Ter esses alinhamentos de forma periódica não ajuda apenas no entrosamento e criação de alianças entre líderes e times, mas principalmente ajuda a construir um propósito e contribui para a elaboração de um desenho que faz com que as peças se encaixem e o dia a dia ganhe mais sentido.

 

12- Crie uma caixa mágica de sugestões

Abra um canal em que TODOS os colaboradores poderão mapear oportunidades de melhoria na empresa e sugerir ações de mudança para as lideranças.

 

13-  Crie alianças com seu RH e destaque a importância deste setor ser estratégico na operação

Sabe a dica lá de cima que os líderes precisam ser empoderados pois precisam engajar seus colaboradores, não esqueça de incluir neste combo sua equipe de RH.

Ter um time de consultores que possa realizar plantões com os colaboradores, mapear transições de carreira, escutar em momentos de maior tensão, orientar, pensar em conjunto, criar desenhos de mudança, realizar parcerias com fornecedores que zelem por saúde emocional é um cuidado precioso que demonstra a preocupação organizacional com relação ao bem estar das equipes.

Esses foram os pontos de reflexão que eu queria trazer. Por fim, não se esqueça que o bem mais precioso que qualquer empresa pode ter sempre será o capital humano. Pessoas felizes e engajadas podem ser responsáveis por ações transformadoras.

Psicóloga e gerente de Recursos Humanos da Marketdata

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