Segunda-feira, 14 de setembro de 2020
Você conhece Clive Humby? Imagino que é maior a probabilidade de você já ter ouvido: “os dados são o novo petróleo”. Pois bem, a comparação feita pelo cientista de dados londrino tem sido repetida por inúmeros profissionais de diferentes áreas e mostra o valor e importância dos dados. Essa constatação ganha mais peso quando o executivo Ajay Banga afirma que os dados valem mais ainda, pois são infinitos.
Em um mundo em que a geração de dados cresce exponencialmente e em que há enorme potencial para análises e cruzamentos de dados, a partir de diferentes fontes de informação, ainda há empresas tomando decisões a partir do feeling do líder.
Há algum problema nisso?
O líder tem experiência na área que atua, conhece o mercado, troca experiências com seus pares. Tem conhecimento de causa para decidir sobre o caminho A ou B.
Contudo, seu olhar pode estar enviesado, seja pela sua vivência que não permite uma visão sistêmica e o conhecimento de outros fatores “escondidos”, sem visibilidade, ou mesmo por sua soberba.
Qual é o risco?
Uma decisão a partir de convicções provavelmente será ineficaz para o problema que pretendia resolver. E mais, estará envolvendo recursos humanos e financeiros da empresa.
A experiência com o mercado aponta que algumas áreas da empresa estão mais suscetíveis ao risco. Áreas que ainda não amadureceram a cultura de dados, como Comunicação e Recursos Humanos, que ainda são tímidas na busca por diagnósticos e mensuração de seus resultados.
Uma prova disso é que apenas em 17% das organizações, a alta administração utiliza as informações de People Analytics na tomada de decisões estratégicas da empresa e de planejamento futuro. Esse resultado É de uma pesquisa realizada em 2016 sobre “Práticas de People Analytics nas Organizações Brasileiras”, conduzida pela PwC, em parceria com a FGV.
Seria leviano generalizar que as organizações não estão gerando e usufruindo dos dados. Além das nativas digitais como Netflix e Spotify, cujo sucesso está diretamente relacionado à ciência de dados, há empresas que aprenderam e não abrem mão dos dados como base das decisões.
O Grupo Pão de Açúcar conta com um programa de fidelidade que identifica preferências e hábitos dos seus clientes. O McDonald’s está mapeando o quê, quando e onde o seu cliente consome. Esses são exemplos de empresas que estão investindo na captação, tratamento e análise de dados e gerando melhores resultados para o negócio.
O complemento da frase, talvez menos reproduzido, é que o dado é tão valioso como o petróleo, porém, sem o devido tratamento e análise, ele perde seu valor.
A tomada de decisão assertiva deve estar baseada em dados, mas isoladamente não bastam, é importante que sejam integrados. Além disso, precisam ser filtrados e tratados para que análise posterior não seja contaminada.
O diagnóstico certamente será mais preciso quando, por exemplo, a empresa investe na escuta dos colaboradores num assessment e consolida seus rastros digitais na intranet ou na rede social corporativa. Desse conjunto é possível extrair inteligência e encontrar soluções para o seu público interno.
Migrar da cultura do feeling para data driven exige uma mudança de mindset. É necessária a sensibilização, a começar pela liderança. Se ela não comprar a ideia, não avança para a equipe. A depender da empresa, se o processo não for top down, é preciso também o convencimento da alta liderança para a mudança.
Sabe a frase: “em time que está ganhando não se mexe”, então: ela vai vir na ponta da língua. Pode até não ser verbalizada, mas é o sentimento de muitos profissionais, inclusive líderes, porque a desconstrução do “jeito de trabalhar” pode ser dolorosa.
Para que qualquer iniciativa e projeto da empresa alcance o sucesso, os líderes são peça fundamental. O conhecimento e engajamento deles é condição para que o mesmo ocorra com a sua equipe.
Que tal conhecer e monitorar a opinião e comportamento dos líderes e não desperdiçar o petróleo que existe na sua empresa?
Pós graduada em pesquisa de opinião, mercado e mídia pela Fundação Escola de Sociologia e Política de SP. Sócia e responsável pela área de Operações da Ideafix, pela metodologia adotada nos projetos, assim como pela definição de indicadores e modelagem de índices proprietários. Em quase 20 anos na área, atuou nas diferentes etapas da pesquisa quantitativa e qualitativa e pesquisou os mais variados temas. Diretora de Comunicação na última gestão da ASBPM - Associação Brasileira de Pesquisadores de Mercado, Opinião e Mídia.
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