Quarta-feira, 01 de março de 2023
Um dos maiores desafios que as empresas enfrentam na hora de planejar estrategicamente é romper com o pensamento linear, mesmo sendo comum defender a importância da inovação, da disrupção dos mercados etc.
Entretanto, no momento do planejamento estratégico, parece existir uma força gravitacional que impede as lideranças de explorar estratégias realmente novas. Tenho a impressão de que querem inovar em tudo, menos na forma como conduzem o planejamento.
Inclusive, em dezembro de 2021 o MIT Sloan Review comentou em um artigo como é comum empresas de uma mesma indústria apresentem estratégias muito parecidas em sua essência, mas com variações marginais, algo que os autores definiram como estratégias isomorfas, ou seja, estruturas idênticas apesar de pertencerem a organizações diferentes.
Por um lado, esse fenômeno é consequência de algo estrutural e que não devemos jamais ignorar: os baixíssimos índices de diversidade nas empresas, com destaque para as posições de liderança. Por outro lado, existe também uma dificuldade em mapear tendências e desenvolver repertório para explorar sinais pouco claros e ainda incertos.
Hoje é fácil explicar porque o Instagram ou o TikTok deram certo, difícil era apostar nessas redes no momento em que elas estavam nascendo. Muitos criticaram dizendo que eram plataformas de adolescentes e que não valia pena considerar muito ou desenvolver estratégias de conteúdo para essas redes e hoje vejo muita gente tentando correr atrás do prejuízo.
A questão é que não dá para ter previsibilidade dos resultados quando falamos de tendências. Seguindo no caminho das redes sociais, o Social Club causou grande alvoroço e expectativa (e havia um racional forte para crer na sua prosperidade) que, entretanto, não se confirmou. Novamente, é fácil concluir agora os motivos do fracasso.
Pensar estrategicamente exige essa coragem de se permitir explorar possibilidades, construir cenários e testar mesmo quando não é possível prever o sucesso.
Infelizmente, os processos para um planejamento costumam ser extremamente burocratizados, de forma que estrategistas pouco usam dessa habilidade tão destacada para as profissões do futuro que é o pensamento estratégico.
Existem aqueles que criticam o excesso de conversas sobre tendências de futuro quando há tanto a se melhorar no que fazemos hoje.
Gosto de ressaltar que tendências e previsões se fazem com método, se trata de uma forma de analisar sinais no presente com potenciais de grandes impactos no futuro.
Esse exercício recorrente vai nos permitindo perceber que, com o tempo, alguns sinais perdem força ou desaparecem e outros vão ganhando, evoluindo e trazendo mais clareza quanto aos seus usos e impactos reais.
Em geral, todo o buzz em torno do termo data-driven levou muita gente a acreditar, ingenuamente, que a todo tempo os dados apontariam quais decisões tomar.
Fato é que os dados nos dão elementos para as nossas próprias tomadas de decisão e não dá para aguardarmos e só agir quando tiver todas as informações, caso contrário, estaremos sempre atrasados… até o momento que nos atrasamos demais para continuar na corrida.
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Tenho a impressão de que a evolução das tecnologias e maior abundância de dados está nos deixando cada vez menos capazes de lidar com as tomadas de decisão em meio aos contextos voláteis e incertos que vivemos.
Falamos muito da importância das soft skills quando, na verdade, o que vemos são pessoas cada vez menos capazes de exercer pensamento crítico, estabelecer relações e paralelos, tomar decisões e articular comunicações eficazes.
Encerrar com o ciclo vicioso que vivemos nos planejamentos estratégicos há anos demandará um comprometimento das lideranças com o auto-desenvolvimento e a construção de times realmente diversos e inclusivos. Além disso, que as organizações reconstruam o processo de planejamento estratégico para que o futuro não seja visto como algo que está dado, mas sim que precisamos entender como se dará o caminho para escolher as melhores direções.
O futuro é construído hoje a cada decisão que tomamos, precisamos compreender os sinais existentes.
Por isso, os novos processos de planejamento estratégico devem contemplar a observação e aprendizado com contextos não óbvios e exercitar a capacidade de simular cenários diferentes antes de definir prioridades e caminhos para o próximo ano.
Para colaborar, vou deixar aqui um pontapé com os temas e subtemas que estão no meu radar. Ano que vem, estarei mais uma vez na SXSW e devo confrontar essas visões e ampliar a lista com temáticas novas para dividir por aqui.
Esse é um sinal amplamente debatido nos eventos e relatórios de tendências. Também é um tema que noto nas mentorias estar muito latente nas empresas e preocupando lideranças de forma geral.
Dessa forma acredito que estamos vivendo um momento de transição nas relações de trabalho que vão se tornando cada vez mais líquidas e três pontos merecem destaque:
Outro movimento que acompanho de perto desde a pandemia são as mudanças no marketing. Em 2020 cheguei a fazer alguns conteúdos analisando a maneira como o marketing estava se consolidando na China e entendia que assim como o TikTok estava migrando para o ocidente toda uma nova forma de fazer marketing também emigraria.
De lá pra cá tivemos a edição online da SXSW em 2021 com forte patrocínio do TikTok e uma trilha de conteúdos bastante amplas sobre criadores de conteúdo e comunidades, hoje estamos acompanhando uma estagnação das grandes plataformas de mídia que seguirão promovendo novas ondas de demissão em massa em 2023.
Entendo que nesse contexto social, comer e vídeo commerce serão temas que ganharão protagonismo nas estratégias de marca e aqueles que quiserem se posicionar à frente na corrida pela audiência farão reorganizações das suas estruturas de marketing.
A mídia sintética foi minha grande surpresa no último ano, o tema simplesmente não estava no meu radar até a SXSW em março e terminei o ano acompanhando uma série de evoluções muito rápidas sobre o tema.
Certamente todo mundo acompanhou a trend do app Lensa e do ChatGPT, no entanto vai para muito além disso, o Notion lançou sua própria IA, o Github tambem está fornecendo uma ferramenta de IA que potencializa o trabalho de devs. Estou testando uma séria dessas ferramentas e existem desenvolvimentos para diversos focos, por exemplo para escrita, edições de vídeo e etc.
O professor Scott Galloway colocou em suas previsões para 2023 que IA será o tema de tecnologia que marcará o ano e certamente este tema estará no meu radar de acompanhamento.
Com todas as mudanças que o mundo está passando a principal mudança que acredito que irá, de fato, disruptar negócios é a mudança no perfil das lideranças. Os modelos de liderança que aprendemos a adotar como ideais não comportam a velocidade, a volatilidade e as incertezas do mundo que se forma à nossa frente. E já estamos percebendo aos poucos essa mudança se estabelecer, é mais comum hoje falar sobre a necessidade de acabar com o mito do líder herói e desenvolver lideranças mais vulneráveis e com maior repertório emocional na gestão. Além do fato de que diversidade e inclusão estão se consolidando como um caminho sem volta e essas equipes cada vez mais diversas e estruturadas em novas matrizes de relação colaborador empresa vai inviabilizar a sobrevivência de lideranças tóxicas.
Formado em Marketing pela USP e pós-graduado em Branding pela FIA, Felipe Ladislau teve como foco de atuação a implementação de estratégias inteligentes e escaláveis. Possui experiência com startups exponenciais, tendo atuado diretamente com mais de 20 delas. Além disso, tem um longo histórico nas áreas de planejamento, CRM e Marketing Digital, com passagem por grandes empresas como Itaú e Walmart. Ao longo de mais de uma década de carreira, participou também de projetos estruturantes, implementando ferramentas, modelos de gestão e campanhas de mídias de performance. Hoje, como sócio da Organica, Felipe ajuda executivos, profissionais e empresas a terem uma nova perspectiva da estratégia do negócio - como um processo criativo e caótico.
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