Segunda-feira, 20 de abril de 2015
E não é que ela chegou? Depois de tão alardeada, a temida crise econômica parece ter dado as caras em 2015. Importantes cadeias produtivas como a do setor automobilístico e construção civil, que impactam toda a economia, reduziram sua marcha de crescimento e nós, brasileiros, já estamos sentindo as consequências no dia-a-dia.
Para quem tem mais de 40 anos (como eu), a crise traz à memória aquele gosto amargo das remarcações dos preços, filas nos postos de gasolina, ágio, falta de produtos. No mercado de mídia digital, este ano colocará à prova os modelos baseados em performance, como o programático, que deverá ser encarado como como uma estratégia mais assertiva de mídia em oposição a gastos massivos em “mídia tradicional”. A crise também anunciará, definitivamente, um período difícil para os portais e sites que só comercializam por CPM.
Crise econômica instaurada: é hora de apertar o cinto, revisar custos, otimizar processos, rever a qualificação da equipe… Equipe!? Olho ao redor do escritório e com espanto e chego a uma incrível constatação: estou rodeado por gente que nunca passou por uma crise antes. A famosa geração Y, que hoje compõe a maioria dos profissionais do mercado digital, saiu da faculdade para entrar em um mercado aquecido. Acostumaram-se a um ambiente de pleno emprego e consumo em alta, e podiam de fato escolher onde queriam trabalhar.
Os 21 anos de estabilidade econômica formaram uma geração inteira de jovens brasileiros que nunca tiveram de passar pela desconfortante situação de ter um salário pressionado por uma inflação mensal de dois dígitos. Um sincero viva ao nosso país!
Por outro lado, este cenário trouxe também alguns vícios de comportamento que faz os gestores de agências e empresas ponto-com perderem seu merecido sono. Irei me ater ao principal deles: a constante troca de empregos desta turma. É comum receber currículos de profissionais que, em menos de um ano, mudaram três vezes de crachá e o farão de novo sem hesitar, caso enxerguem uma grama mais verde na agência ao lado. Na maioria dos casos, este movimento é horizontal – ou seja, a mudança de emprego não ocorre para uma promoção de cargo ou salário.
Hoje, ou até esta crise chegar, troca-se de emprego por alguns poucos Reais a mais no bolso, porque o projeto não era tão legal assim como se pensava, porque o chefe chega cedo demais, ou porque o wi-fi da firma não é lá essas coisas. Exageros à parte, a ampla oferta de empregos no meio digital aliada à sede por novidades que esta incrível geração clama, criou um arquétipo vicioso de dança das cadeiras. E a constatação é espantosa: 91% dos jovens da geração Y não pretendem passar mais de três anos numa mesma empresa, de acordo com uma pesquisa da consultoria Future Workplace.
Toda crise é indigesta. Mas como bom brasileiro vejo a possibilidade de colhermos alguns benefícios com sua passagem. A primeira consequência que devemos enxergar é uma diminuição dessa troca de cadeiras. Ao reduzir contratações (ou mesmo diminuir o tamanho de equipes), mais profissionais acompanharão o mesmo projeto do começo ao fim e poderão consolidar-se verticalmente na mesma empresa ou agência.
O resultado será um fortalecimento nas relações cliente–agência, além de uma compreensão mais detalhada e natural de cada necessidade colocada em pauta. Nada é mais reconfortante para um diretor de marketing do que uma agência ou fornecedor que conhece profundamente sua empresa. Por mais que se implementem processos de melhoria, a aplicação individual do profissional ainda é o melhor recurso que podemos oferecer aos nossos clientes.
Se conseguimos chegar onde estamos é porque tivemos à disposição uma mão de obra qualificada e ávida pelo que é novo. No entanto, a crise trará à esta geração uma espessa camada de amadurecimento, tornando-os ainda melhores e mais centrados. Afinal, mares calmos não formam bons marinheiros!
é executivo com larga experiência em tecnologia e internet, Paulo Arruda atua no mercado de internet desde seu início, em 1998 passando por empresas como MLab, EverSystems, Yahoo!, entre outras. Nos últimos anos foi responsável por representar no mercado brasileiro diversas empresas, líderes em seus segmentos como Badgeville, Vostu, Harrenmedia e foi o primeiro profissional a comercializar os produtos do Twitter na América Latina. No campo acadêmico Paulo ministra aulas de marketing digital no curso de pós-graduação da FAAP. Atualmente é responsável por toda equipe comercial na América Latina da IgnitionOne, uma das mais inovadoras empresas de marketing digital da atualidade.
Comentários