Segunda-feira, 19 de setembro de 2022
O mercado se movimenta cada vez mais em direção a uma transformação digital, com a presença maciça de sistemas e mecanismos de inovação capazes de otimizar estratégias de negócios. A pandemia que se estendeu pelos últimos dois anos acentuou ainda mais essa tendência, provando que acelerar a adoção de tecnologias e novos modelos mentais deixou de ser uma questão de escolha para se tornar uma necessidade. Na verdade, a questão é mais radical: modelos de negócios que não incluem o digital já estão para trás, de acordo com a Forbes.
Ainda que seja um processo que já vinha ganhando forma nas últimas décadas, agora tudo ocorre de maneira muito mais dinâmica e veloz. Por isso mesmo, pela velocidade das mudanças, não existe solução padrão ou sob medida. Integrar o digital aos negócios pode acontecer de diversas formas. E todas estão relacionadas a questões chave como dados, processos, informações, tecnologia, aspectos humanos e demais itens que podem ser organizadas em cinco importantes pilares.
O primeiro deles é o foco no cliente. Partindo deste ponto, é possível gerar um impacto maior na construção da identidade de uma empresa ou produto, dado que a oferta de valor seja aderente à necessidade. Para que a estratégia de transformação digital não se torne um bicho de sete cabeças, basta seguir indicadores-chave de desempenho (KPIs, na sigla em inglês) bem definidos, que terão o impacto mais significativo nos negócios. Nesse quesito entram indicadores como CAC (custo de aquisição), LTV (lifetime value), churn, NPS, entre outros, que, quando integrados, permitem uma análise sistêmica da relação com o cliente.
Isso nos leva ao próximo item, que são as estratégias de competição. A partir do marco digital, o mundo tornou-se muito mais democrático. A consequência de tudo isso é uma descentralização do mercado, fazendo com que empresas migrem de uma ótica de competição para uma ótica de coopetição – uma visão integrada entre áreas de colaboração e competição. Somado a isto, as barreiras setoriais, antes claras, abrem espaços para arenas competitivas, separadas não por indústrias, mas pela capacidade de atender às demandas do cliente. Como por exemplo, a tendência de fintechzação das empresas.
Os dados, tão fundamentais nesse mundo cada vez mais conectado, constituem o terceiro pilar. Por meio das conexões feitas em diversos lugares, em diferentes dispositivos e até por meio das operações comerciais que fazemos, emitimos uma série de informações. Estas informações não têm sua utilidade limitada à geração de dashboards executivos. Pelo contrário, com a automatização de processos, este fluxo de dados permite a tomada de decisões mais personalizadas, assertivas e dentro de prazos mais eficientes. Sem contar a capacidade de reduzir o risco da incerteza de novos projetos.
Como quarto ponto, ressaltamos o poder da inovação. É nítido que as empresas precisam se adaptar de uma forma rápida e ágil às mudanças em ciclos mais curtos e até mesmo inesperadas. Para alcançar esse patamar, é fundamental estruturar a corporação de tal forma que todas as pessoas estejam constantemente inovando. Hoje, organizações precisam ter a capacidade de questionar o status quo a todo o momento, devido aos diversos inputs internos e externos que recebem. Criar valor a partir destes demanda, no mínimo, uma liderança que suporte, colaboradores aptos e disponibilização de recursos para testes e aprendizados.
O último item, a geração de valor, tem grande conexão com os demais. Isso porque, atualmente, os clientes exigem que um produto ofereça mais do que a eficiência do uso para o qual foi desenvolvido. O que tem acontecido é que a geração de valor vem transitando de uma cadeia de produto – na qual se considerava apenas o processo industrial -, para uma dinâmica de experiência. As empresas terão que encontrar novas formas de gerar valor constantemente para criar novas relações com os consumidores, e expandir sua presença dentro do seu campo de atenção.
Engana-se quem pensa que todo esse processo se resume a aquisição de dispositivos tecnológicos. A transformação digital é complexa e exige diferentes habilidades humanas, mudanças em processos e muita maturidade empresarial, resultando em uma nova cultura organizacional. É por isso que, em qualquer etapa, é necessário, primeiro, engajar os colaboradores e envolvê-los no propósito. Somente dessa maneira o digital, cada vez mais presente em nossas vidas, será entendido como um fator estratégico e não apenas tecnológico dentro das companhias.
Sócia-diretora de inovação e transformação da KPMG. Participou da criação e desenvolvimento da KPMG & Distrito Leap, e atualmente lidera projetos focados em resolução de problemas e transformação de empresas. Em paralelo, auxilia a KPMG no seu processo de transformação e lidera a iniciativa de foresight para a própria KPMG.
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