Terça-feira, 23 de março de 2021
A pandemia trouxe uma série de cursos, antes pagos, para o modelo online como uma ajuda das universidades e plataformas para esse difícil momento que ainda estamos passando, o que foi bom para o psicológico das pessoas, pois aprender sempre motiva nosso cérebro que está sempre atento para aprender mais e mais.
Recentemente, eu acabei um curso da Pixar. No primeiro momento, eu achei ser um curso de Storytelling com um foco mais para marcas, mas ao ir estudando o curso, fui vendo que ele vai além disso. Storytelling é um tema que tenho me aprofundado mais e mais a cada dia. Já fiz outros cursos online, li muita coisa em e-books e vi palestras online de pessoas que fazem a diferença nessa área, li livros sobre o tema e estou aprendendo cada dia mais.
O que pude ver nesse curso da Pixar é que ele vai me ajudar muito nas estratégias de Storytelling, mas deu para entender a fundo como uma história é realmente produzida. Não basta criar uma história de 10 minutos e jogar na Internet achando ser um case de Storytelling, assim como não basta criar uma estratégia sem recorrer aos pilares de construção de uma história, sendo assim, eu fui atrás de uma das empresas que melhor sabe contar histórias no mundo, a Pixar.
Talvez alguns de vocês não estejam lembrando da empresa, mas esse estúdio, criado pelo genial Steve Jobs, é o estúdio por trás de desenhos memoráveis como Monstros S.A, Toy Story, Carros, UP, Nemo, entre outros. Eu, por exemplo, tenho uma lembrança emocional com o 2o filme de Monstros S.A, Universidade Monstro, por ter sido o primeiro filme que levei a minha filha, Fernanda, ao cinema.
“Imagineering in a Box”, é o nome do curso, que me inspirou a escrever esse artigo, o qual vou passar a minha visão de forma macro e geral do aprendizado, de um curso de quase 4 horas de duração. Está em inglês, mas é possível colocar legendas em português. O lado interessante é o que os professores são os funcionários da Pixar, logo, no capítulo sobre Storyboard, por exemplo, eles vão mostrar como fizeram o Storyboard de um filme, e quem vai mostrar isso é quem fez.
No começo de tudo, você precisa ter em mente “qual a história”. Ela pode ser na sua mente, um resumo do que você pensa em contar de uma marca. A diferença, na minha visão, de uma história da Pixar para o Storytelling de marcas é que na Pixar, os personagens são desenhos humanizados, como um peixe que fala ou um carro que tem uma namorada, no Storytelling das marcas, é preciso humanizar as empresas.
O que une os dois mundos é que, no final do dia, o consumidor final é que precisa ser entretido e que tenha comprado a ideia da história. Segundo a Pixar, “o poder da história é o que faz ela se conectar emocionalmente com as pessoas”.
O primeiro passo de uma boa história é saber onde ela vai se passar. O tema, que é a ideia unificar da história, é fundamental para a construção da mesma. Histórias são construídas enquanto a empresa existe, não é algo que se constrói hoje e para. Ela muda. Segundo o genial Walt Disney, sobre seu parque “a Disney nunca estará pronta enquanto houver imaginação” e ele está certo. Histórias só acabam no fim, ou seja, quando a marca não mais existe.
Nesse caso, a marca. Branding, que vejo como uma estratégia da empresa, é fundamental para uma boa estratégia de Storytelling, ambos andam lado a lado. Segundo a Pixar, os personagens precisam ser sempre autênticos, únicos e criar vínculos emocionais. Sentiu alguma semelhança com os pilares de uma boa estratégia de branding atrelados ao que os novos rumos do marketing traçam para as marcas? Eu senti.
O figurino do personagem é fundamental para ser autêntico. Saber onde mora e como se veste é fator importante, vamos fazer um paralelo a todo o universo dos logos, suas cores, tipologias, formatos e fechando com um posicionamento forte. Sentiu, novamente, a semelhança?
Personagens têm personalidade, assim como a Brand Persona traça da empresa.
Personagens têm um objetivo, como qualquer empresa.
Personagens têm sentimentos, como marcas humanizadas tem também.
Arcos do personagem (momentos altos e baixos da sua vida) como qualquer marca tem.
O que o autor quer que o público saiba e quando. Vamos fazer um paralelo ao estrategista de mídia com seu plano. Entender os canais, prever momento melhor que a marca/produto/serviço apareça na timeline do consumidor, não só como, mas o que aparecerá.
Construa a história em atos bem claros. Apresente o personagem, ou a marca, no caso de um Storytelling de marcas. Mostre o mundo em que a marca vive, ou o segmento de mercado fazendo o paralelo. Depois, é apresentado os obstáculos do personagem e as decisões que foram tomadas. Sabe quando uma empresa foca em um segmento, em um produto, ou repensa o marketing tradicional para colocar seu propósito na frente de tudo?
O segredo da Pixar para contar boas histórias é ouvir muitas outras. O segredo de uma boa estratégia de marketing é, além de entender as pessoas, ter muitas referências. Mais uma similaridade.
Nenhuma história acontece sem o conflito. Dentro do Arco da Personagem isso fica mais claro, e ainda há os picos altos e baixos desse conflito, chamado bits. Como na música.
Sem conflito a história não tem ritmo, personagem não aprende e obstáculos não são superados. Agora vamos ver como as marcas podem usar isso. Que obstáculos a sua empresa superou? Bem, de cara, algo meio óbvio para 99,9% delas: um começo difícil. O que a sua marca quer que as pessoas aprendam, ou melhor, qual o propósito dela? Qual a esperança que a sua empresa traz para quem a consome?
Está, como vimos aqui, muito parecido com o que o marketing precisa fazer. É preciso estudar muito e entender a estrutura de uma história. Como disse, o que você leu aqui foi um breve resumo de 4h de curso, que já é um breve resumo de quase 35 anos de experiência da empresa, mas acho que deu para você encontrar alguns insights. Não?
é sócio-diretor da FM CONSULTORIA. Autor dos livros Planejamento Estratégico Digital (Somos Educação) e Transformação Digital - Como a inovação digital pode ajudar seu negócio nos próximos anos (Somos Educação). Professor de MBAs na ESPM, USP, Senac, Belas Artes e Metodista.
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