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Artigo: O círculo virtuoso do jornalismo digital no Brasil

Já há alguns anos, estamos vendo as redações de grandes veículos impressos minguarem. Demissões em massa chamam a atenção para uma crise do jornalismo que, devido à perda de anunciantes, torna as equipes de jornais e revistas cada vez mais enxutas. Segundo artigo publicado no Observatório da Imprensa, considerando apenas os jornalistas com registro em carteira e somente na cidade de São Paulo, foram registradas 280 demissões homologadas de janeiro a abril de 2013, 37,9% a mais que no mesmo período de 2012, quando foram registradas 203 homologações por conta de demissões. Durante todo o ano, foram mais de 1.230 jornalistas demitidos de redações no Brasil.

Aos mesmo tempo, os prazos para produção são cada vez menores, devido a necessidade da divulgação de notícias em tempo real, criada pela internet e pelas redes sociais. Isso afeta a qualidade do que é produzido, já que não há tempo e nem braços para apuração, investigação, confirmação de informações e busca pela imparcialidade, com a prática básica de ouvir os dois lados da história sendo deixada em segundo plano.

Crise ou momento de transição?

No entanto, o que parece uma crise pode ser visto como um período de transição. O fato é que a forma como o conteúdo e as notícias são consumidos está mudando, no entanto, conteúdo e notícias continuam sendo consumidos, talvez até em maior volume.

Você pode não receber todos os dias na porta da sua casa um exemplar do jornal diário para ler durante o café da manhã, como seus pais e seus avós faziam. Mas isso não quer dizer que não leia notícias. Em quantos links para artigos, textos, notas, posts de blogs e, até mesmo, notícias em portais de grandes veículos você clica ao longo do dia, no computador ou no celular? Talvez, o volume do que lemos hoje em 24 horas seja maior do que a quantidade de informações contidas nas páginas de um jornal impresso.

Isso mostra que o conteúdo ainda é, e vai continuar sendo, essencial para se chegar ao público e, na internet, continua sendo fundamental. Um site, um blog, um canal de vídeo, uma página de empresa, uma rede social, não existe sem o conteúdo publicado ali. A diferença é que hoje a produção e disseminação de conteúdo não é monopólio de grandes organizações. Com a disponibilidade de ferramentas baratas e fáceis de usar, qualquer pessoa pode produzir e publicar o que quiser, quando quiser e da forma que quiser e, com algumas estratégias – ou alguma sorte -, conquistar uma grande audiência.

Oportunidade de transformar o sonho em realidade

Por isso, certamente esse é um dos melhores momentos para os profissionais de comunicação. Nunca foi tão simples colocar em prática o sonho que todo jornalista tem: trabalhar com independência e escrever sobre o que gosta, da forma que quiser e com espaço ilimitado.

Nesse cenário, os jornalistas precisam aprender a explorar uma grande vantagem que possuem – afinal são especialistas em produção de conteúdo – de outras formas, sem depender dos grandes e tradicionais veículos. O jornalismo não está acabando, só mudando e o profissional precisa se adaptar a exercitar algo que é pouco – ou nada – ensinado nas faculdades de comunicação: o empreendedorismo.

O ‘fim’ dos portais de notícia

Hoje, estamos presenciando a transformação de grandes portais e veículos on line, que possuem muita audiência, em plataformas tecnológicas de mídia agregadoras de conteúdo. Em vez de contarem com produção própria e uma equipe de centenas de profissionais, passam a investir em tecnologia para fazer a curadoria e replicação de notícias de terceiros. Pioneiro no modelo, o Huffington Post aposta, desde 2005, na participação de blogueiros, que escrevem de graça, para a construção de uma arena de debate on-line e um noticiário ágil e interativo. Dessa forma, conseguiu ultrapassar a audiência de gigantes do jornalismo, como o “Washington Post”. O veículo desembarcou no Brasil em janeiro desse ano, em parceria com a Editora Abril, com o nome de Brasil Post mas replicando a fórmula de sucesso, com grande parte da informação proveniente de outros sites e blogs.

Isso pode ser visto por alguns como algo negativo, como mais um exemplo de como a tecnologia substitui o ser humano sem dó nem piedade. No entanto, as máquinas ainda não têm inteligência suficiente para escreverem uma matéria jornalística e alguém precisa fazer isso! Logo, aí está a vantagem dessa nova realidade: não é mais preciso ser funcionário de um grande veículo para garantir um espaço, qualquer pessoa pode conquistá-lo, produzindo com qualidade sobre o que ama, sobre o que considera importante, e ter seu trabalho repercutido por um grande veículo, ampliando sua audiência.

No entanto, o efeito colateral dessa independência é a própria independência. É preciso ter disciplina, pois, como em um negócio próprio, não haverá ninguém cobrando prazos, produtividade, passando pautas ou indicando fontes. E, pior ainda, é preciso aprender a monetizar o trabalho por conta própria. No entanto, também devido a tecnologia, isso pode ser mais simples do que parece. Assim como grandes veículos sobrevivem de publicidade e anúncios, blogs também podem gerar dinheiro. As possibilidades são variadas e a grande maioria delas permite manter a liberdade de opinião. Vão da participação em redes de sites e blogs que vendem anúncios segmentados e em programas de afiliados de empresas a parceria direta com marcas em troca de banners e publieditoriais.

Os anunciantes também levam vantagem, já que por meio de blogs especializados, conseguem ter acesso a uma audiência segmentada e impactar o público de interesse com muito mais eficiência.

O circulo virtuoso do novo jornalismo

E aí se fecha o circulo do novo cenário do jornalismo: profissionais produzindo conteúdo independente de qualidade e viabilizando o trabalho por meio de publicidade digital, grandes veículos ampliando o alcance e gerando tráfego para esses produtores de conteúdo, que ganham audiência e conseguem remunerar-se por meio dos anúncios voltados a públicos específicos.

O espaço que surge é gigante, democrático e está aí pra qualquer um que souber e quiser aproveitar. A internet já é a segunda mídia em investimento de verbas publicitárias, mas em comparação com outras mídias, o espaço publicitário ainda é muito barato. Quem tiver essa visão agora, só vai se beneficiar com a tendência ao equilíbrio entre audiência e valor do espaço on line.

Segundo artigo publicado no site do jornal El País, com dados do Ministério do Trabalho, existem hoje cerca de 145 mil jornalistas registrados. Um levantamento feito por um núcleo de pesquisa da Universidade de Santa Catarina (UFSC) em parceria com a Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), mostra que, a cada dez jornalistas, um é professor, quatro trabalham fora da imprensa e cinco ainda estão empregados na mídia. Mas o professor Samuel Lima, um dos responsáveis pelo estudo, afirma que esses dados estão mudando. “Há uma tendência de que, na nossa próxima pesquisa, que sai em 2017, encontremos mais profissionais atuando fora da mídia”.

No entanto, em vez de pensarem na responsabilidade dos grandes veículos pela falta de empregos na área, é essencial que os profissionais assumam as rédeas de suas carreiras e participem dessa mudança de cenário, tirando o maior benefício possível da situação.

Estrategista de comunicação especialista em conteúdo, trabalha há 12 anos com posicionamento de empresas no ambiente digital. Super curiosa, estuda incansavelmente tudo o que tem a ver com o assunto. Na Tailor Made Content, cria estratégias de conteúdo e reputação digital para empresas.

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