Sexta-feira, 15 de setembro de 2017
A última década proporcionou aos profissionais de Marketing uma miríade de inovações não vistas nos últimos 50 anos. Das redes sociais, passando pelo novo poder do consumidor e a evolução do software na nuvem, novos negócios e profissões surgiram e desapareceram impulsionados pela evolução tecnológica.
O ritmo frenético lembra outras épocas e outras indústrias, como o cinema. Quando os irmãos Auguste e Louis Lumière apresentaram o cinematógrafo em Paris, em 1895, eles escolheram a platéia de um evento que discutia a evolução da indústria da fotografia como palco para a primeira demonstração pública da sua patente. A invenção foi apresentada junto a estudos de policromia na fotografia (fotos coloridas). Porém, observou-se que as imagens em preto e branco e em movimento cativaram mais a audiência do que as fotos coloridas. O que hoje chamamos de cinema era uma evolução da fotografia.
Os primeiros filmes também não possuíam uma linguagem de cinema. Não havia o gênero ficcional. Os irmãos Lumière apostaram nos documentários. Não havia cortes ou planos fechados, geralmente os atores eram fotografados de corpo inteiro, lembrando mais o teatro. Nada de planos americanos, câmera-personagens e todas as inovações da cinematografia atual.
A história se repetiu 100 anos depois, em 1995, com as primeiras páginas na World Wide Web. Portais como o UOL, por exemplo, exibiam orgulhosamente em sua “home page” um banner com publicidade que mais parecia um outdoor ou um anúncio impresso. Em muitos casos, o próprio banner era a mesma peça feita para o impresso.
O que percebemos com as duas histórias, separadas por um século, é que a inovação técnica não traz a reboque a inovação conceitual ou a mudança estratégica necessária. A inovação acontece em pequenos passos. E é preciso muito mais que olhos para enxerga-la. É necessário se despir de conceitos e preconceitos que nos aprisionam em modelos existentes e ultrapassados de negócios. Às vezes é preciso, como dizem os profissionais de marketing: pensar fora da caixa. Eu diria: é preciso tocar fogo na caixa para inovar de verdade.
Hoje vemos a história repetida: o lançamento da API para desenvolvimento de Bots para o Facebook fez surgirem os primeiros assistentes pessoais para a plataforma. O que fizeram as agências? Criaram ‘bots-campanhas’. Eles surgem, falam com o consumidor e desaparecem pouco tempo depois, assim como um anúncio.
A inovação e a verdadeira disrupção exige alguma coragem. Quando criamos a plataforma Buzzmonitor em 2013 queríamos um software que permitisse criar todo o tipo de relatório cruzando diferentes tipos de dados como a bio (como o usuário se descreve), localização e o volume de buzz de um termo, por exemplo, além de uma dezena de outros dados. A combinação destes cruzamentos nos permite criar centenas de relatórios diferentes e responder questões como: “o que as advogadas que são flamenguistas mais comentam nas páginas de noticiosos do Facebook?”, sem usar o Excel. Assim que lançamos o primeiro protótipo sentimos que muita gente não entendeu a proposta, preferindo soluções antigas de monitoramento, onde os relatórios são fixos, sempre os mesmos e toda a informação é trabalhada via Excel. Apenas quatro anos e 100 clientes depois é que a proposta do Buzzmonitor está finalmente sendo compreendida.
Pensar a inovação exige muito mais do que olhos para acompanhar o que a tecnologia traz de novo e adaptar seu modelo velho de negócios. Exige destruir o que já existe para criar o novo sem medo. Algo que envolve risco e que a maioria dos profissionais têm medo de fazer.
é co-fundador das empresas Buzzmonitor, E.life e SA365, mestre em Comunicação pela Universidade de S.Paulo, autor e palestrante.
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