Quinta-feira, 05 de janeiro de 2023
Nas últimas semanas de 2022, a Meta anunciou a demissão de 11 mil funcionários. O corte, que representou 13% da empresa, foi noticiado como o maior corte feito por uma empresa de tecnologia. A notícia caiu como uma bomba e foi mais uma para apimentar a discussão polarizada em torno do Metaverso.
Diversas notícias foram publicadas, com visões bastante divergentes sobre este novo mundo. Do lado positivo, a informação de que grandes corporações, como Disney e Procter & Gamble, estão contratando, a salários exorbitantes, profissionais para atuar como CMO – Chief Metaverse Officer. Na visão dessas empresas, o potencial econômico e transformador do Metaverso é imenso, o que justificaria ter um especialista no C-level. Na mesma época, surgiu um estudo da DappRadar sugerindo que duas plataformas reconhecidas no mundo do Metaverso, avaliadas em quase 1,3 bilhão de dólares, não estão conseguindo por enquanto mais do que cem usuários ativos em 24 horas.
Há outras notícias que indicam vieses opostos: de um lado, um hype em cima do Metaverso – grandes apostas, grandes investimentos. Do outro, informações como a perda de valor de mercado da Meta, demissões e investidores céticos quanto a aplicabilidade real do Metaverso nos negócios.
Afinal, o que está acontecendo? E, mais importante: o que irá acontecer?
Na verdade, essa aparente contradição é normal no ciclo de vida de uma nova tecnologia. É algo que a Gartner chama de “hype cycle”.
Toda tecnologia que se torna uma tendência começa gerando algumas expectativas e um rápido aumento do interesse. Esse frisson rapidamente atinge o ápice. Esse ponto, chamado de “pico de expectativas”, é marcado por avaliações extremamente positivas e grandiosas sobre o impacto dessa tecnologia.
Logo esse período passa. Assimilada a novidade, surgem o ceticismo e as críticas contra as expectativas criadas. É o chamado “abismo da desilusão”. Trata-se de um momento importante – diversas tecnologias desaparecem nessa fase. Como exemplos, podemos citar o Ultrawideband, RSS Enterprise, Desktop Linux for Business ou o caso que sempre se coloca de exemplo, Mesh Networks, que apareceu em 2003 e desapareceu em 2013 sem ter passado o vale.
As inovações que conseguem atravessar esse período chegam à “rampa de consolidação” e, finalmente, atingem o “platô da produtividade” – quando apresentam o quanto podem impactar nos negócios e na vida das pessoas.
Entendido o ciclo, podemos ver que o Metaverso está passando pela transição entre o “pico de expectativas” para o “abismo da desilusão”. É verdade que as expectativas sobre o Metaverso estão sendo muito elevadas. E, como diz a sabedoria popular, o que sobe rápido pode cair rápido.
A pergunta importante agora é: o Metaverso irá superar essa fase, atingir a “rampa de consolidação” e, finalmente, o “platô de produtividade”? Ou será apenas um hype passageiro – e entrará para a lista de tecnologias que não entregaram o que um dia se esperou?
Posso afirmar com convicção: não tenho dúvidas de que o Metaverso irá superar o período de baixa. Sim, as críticas continuarão vindo. Algumas são justas e construtivas. Há, de fato, uma confusão sobre o que algumas empresas vendem como sendo Metaverso e o real potencial dessa tecnologia. Depois de um hype muito grande, algumas marcas apresentaram o Metaverso como um Second Life repaginado. A desilusão foi inevitável. Mas não acredito que o Metaverso irá se limitar a ser uma rede social com avatares no lugar de um feed com imagens e textos.
O potencial do Metaverso é muito maior e, ao meu ver, evidente. Posso dizer que ainda nem temos real dimensão. Quem, em 1999, acreditaria que a internet fosse se tornar o que se tornou e ter o papel que tem hoje nas nossas vidas?
Minha teoria é que, na passagem pelo “vale”, o Metaverso poderá perder seu nome. Isso deve acontecer porque o Metaverso como foi anunciado – um mundo digital com experiencia imersiva total, bidirecional e contínua – vai demorar em existir. As tecnologias precisam avançar mais. Porém, as peças fundamentais do Metaverso, como são a RV (Realidade Virtual), a RA (Realidade Aumentada), a WEB3 e o Spacial Computing, junto com a inteligência artificial, que já são uma realidade, já estão prontas para transformar os negócios e a sociedade.
Um cenário provável é que o Metaverso fique “em suspensão” sem poder mostrar todo o seu potencial. Isso deve ocorrer durante um tempo, enquanto as tecnologias que lhe dão suporte passarão por essa fase e avançarão na curva. Isso acontecerá porque elas já impactam os negócios e as vidas das pessoas. Nesta teoria, o Metaverso reaparecerá algum tempo depois já no “platô da produtividade”, aportando o valor prometido no hype, juntando todas as peças, depois de um “pulo” pela curva de vários anos.
Durante este tempo de suspenção, as tecnologias que de fato “fazem” o Metaverso continuarão se desenvolvendo, aportando valor pelo caminho, sendo que o Metaverso prometido precisará de um maior tempo para até entregar todo o potencial de negócio que sabemos ter.
Por isso, podemos falar: Metaverso está morto, vida longa ao Metaverso!
Com 20 anos de carreira profissional em consultoria, ajudando empresas a criar valor de negócio utilizando tecnologias emergentes tanto em Europa como América Latina, Pablo começou sua carreira como consultor de Data & Analytics, sendo que neste momento lidera a prática de Digital Technology na NTT DATA Brasil onde se desenvolvem os serviços de Metaverso.
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