Terça-feira, 14 de junho de 2022
Em uma era de negócios disruptivos e avanços tecnológicos, a digitalização é uma grande aliada das empresas que desejam se destacar nesse mercado competitivo. E as discussões sobre o futuro fazem uma reflexão, principalmente, sobre os impactos das tecnologias no presente e como as pessoas irão adaptar esse conceito às necessidades atuais.
Dentro deste contexto, a Nova Economia (ou New Economy, em inglês), termo que surgiu pela primeira vez em 1993, na revista americana Time, é marcado por mudanças rápidas e contrastes acentuados. O conceito se estende também ao marketing digital e à adaptação de negócios, em que é possível avaliar o que o público espera das marcas e como elas podem, a partir de uma cultura baseada em dados, melhorar as experiências de consumo para se sobressaírem.
Para abordar esse tema, a equipe do Digitalks conversou com Martha Gabriel, escritora, futurista e considerada um dos principais pensadores digitais do Brasil, que destacou as tendências do mundo com a aceleração da digitalização nos últimos anos. Especialista do Digitalks no segmento Digital World & New Economy, Martha terá uma apresentação exclusiva e inédita sobre os 3 mitos e as 3 tendências do Digital World no próximo Digitalks Executive, que acontece no dia 24 de junho, no Unibes Cultural.
Martha Gabriel: Tivemos uma aceleração da digitalização, mas não no mesmo ritmo da aceleração estratégica ou da cibersegurança. O que isso significa? Que várias empresas se conectaram porque havia essa necessidade, mas não necessariamente de forma estratégica e segura. Quanto mais conectados ficamos, mais vulneráveis estamos. A segurança é uma questão de negócio, assim como as estratégias que envolvem as pessoas. É preciso considerar essas duas dimensões: a cultura, que vai muito além da tecnologia, e as pessoas. Costumo dizer que não adianta saber usar a tecnologia sem compreender as questões relacionadas ao negócio. Embora em ritmos diferentes, as empresas já compreenderam este cenário e estão se articulando para conectar cultura organizacional e mudança de mindset com o negócio.
Outro ponto importante é a questão do trabalho híbrido. Durante o período da pandemia, a maioria das pessoas trabalhou 100% online. Agora, existe em várias organizações a possibilidade de conciliar o trabalho presencial e remoto, o que traz uma complexidade maior para as equipes de RH. Como as áreas são diferentes, é preciso avaliar quais podem se manter à distância, quais as características profissionais
necessárias, como capacitar talentos e atrair novos profissionais especializados. Onde tem escassez, é necessário fazer adequações para poder colocar o time colaborando de acordo com o que eles querem e as necessidades do negócio.
Martha Gabriel: Todo mundo está falando sobre o metaverso. Embora muitos considerem que o conceito está centrado no mundo virtual 3D, a verdade é que não é bem assim. O Metaverso é toda essa fusão de on e off, mas para a gente chegar nesse cenário, fomos constituindo camadas de experiências digitais, desde e-mail, sites, jogos e mundos 3D, e-commerce etc. Lá atrás tivemos também o Second Life.
Atualmente, podemos ter múltiplos mundos virtuais 3D interagindo com o físico. Entre as tecnologias que ajudaram a construir e pavimentar esse caminho, destacamos Inteligência Artificial, Internet das Coisas (IoT), 5G e 6G, Blockchain, Big Data, nanotecnologia, impressão 3D, robótica e computação quântica. Todas essas tecnologias são importantes, mas o carro-chefe para a formação do metaverso é a integração entre o nosso mundo físico e digital. E a tecnologia mais importante para vencer a complexidade de todas as conexões tecnológicas é a Inteligência Artificial.
Não é à toa que a gente tem uma corrida mundial em busca das melhores práticas, das melhores pesquisas para chegar em um nível de Inteligência Artificial cada vez mais avançado.
É justamente essa tecnologia que traz a inteligência que complementa a nossa para vencer a complexidade deste cenário. Inclusive, lancei o livro “Inteligência Artificial do Zero ao Metaverso”, que aborda o que é IA, como utilizá-la, cases, robótica e a diferença que a Inteligência Artificial traz ao metaverso.
Martha Gabriel: Bom, para começar todo mundo já está no metaverso. A gente não vai entrar no metaverso, a gente não precisa se preparar para entrar nele. O metaverso não é uma revolução, ele é uma evolução. O metaverso começa a se constituir desde o início da era digital. Ele vem da ficção, em 1992, do livro Snow Crash, de Neal Stephenson, que eu recomendo muito a leitura, pois já mostrava a integração entre o on e o off. Com a Internet, a gente vai expandindo e ele vai se configurando. Mas se o metaverso não é tão novo, por que as pessoas passaram a falar tanto dele? Porque todas as tecnologias que eu mencionei na resposta anterior permitiram a construção da infraestrutura, que agora pode integrar novas camadas de experiência.
Precisamos nos preparar para essa evolução do metaverso, que expandirá para todas as dimensões da nossa vida. No varejo, por exemplo, é natural que você queira comprar coisas, integrar seu avatar com skins e objetos. Se compro uma bolsa no mundo físico, vou querer usá-la também no mundo virtual. Lá tem n itens adicionais, então a gente tem oportunidades que surgem para o marketing. Qualquer empresa que conseguir produzir experiências digitais para esses ambientes adicionais que estão surgindo, as camadas 3D ou produtos e serviços que ajudem nessa experiência, têm oportunidade no metaverso.
Existe um mercado potencial, inclusive para novas profissões, tais como designers para trabalhar no metaverso e em experiências, ou seja, a gente tem uma gama gigante para todas as áreas: do financeiro, com a ascensão do blockchain, criptomoedas e NFTs, ao segmento de beleza. E quando você está lá (no metaverso) e aqui tem produtos diferentes, você compra skins, características e experiências diferentes. Nesse sentido, as áreas de beleza, varejo e serviços financeiros podem se beneficiar dessas integrações, assim como educação.
No futuro, todas as empresas serão de tecnologia para vender alguma coisa. Portanto, todas as empresas vão integrar as experiências on e off. Mesmo que você seja uma empresa que oferece experiência no off, terá que integrar com o on. Tem muita oportunidade e o céu é o limite.
Martha Gabriel: A importância do 5G, e a gente já está indo para o 6G na realidade, não é só ficar mais rápido. A tecnologia traz uma dimensão bastante importante para novas possibilidades de negócio. Por causa do 3G, a gente tem Skype, Netflix e outras plataformas de streaming que foram surgindo depois, porque ele viabilizou. Imagina com o 5G, que é muitas vezes mais rápido, o que poderemos fazer.
Mas a grande vantagem do 5G e do 6G é poder conectar mais dispositivos, especialmente neste em que a geração de dados é crescente. Mas para que cada coisa possa entrar nesse cenário de inteligência, possa ser “sentida” com dados, você precisa endereçar isso, você precisa poder conectar tudo isso. E as tecnologias que permitem isso são o 5G e o 6G, ou seja, as tecnologias de conexão que conectam mais dispositivos. A gente está crescendo cada vez mais na quantidade de dispositivos e, virtualmente, qualquer coisa pode ser conectada. E também a velocidade que ela traz para que a gente não tenha latência e consiga entrar com esses dados na rede, em tempo real.
Martha Gabriel: Eu escrevi um livro, em 2010, sobre marketing no ambiente digital. Conforme o ambiente digital vai se estabelecendo, ele também muda o comportamento das pessoas, as possibilidades de conexões e de comunicação. As plataformas e tecnologias digitais impactam os quatro pesos primordiais do marketing, mas também as pessoas, que é a origem do marketing. Elas transformamo comportamento das pessoas. Quando a gente fala de 2010 para cá, quando escrevi o livro, e depois de 2020, quando lancei a segunda edição, temos mais tecnologias, mais possibilidades e mais conexões. Então, isso impacta o marketing em todas as dimensões, mas traz um grau adicional de complexidade. Então imagina, quando a gente traça a jornada do consumidor em um ambiente que já era complexo, cheio de
plataformas, cada uma com uma característica diferente.
Agora, a gente entra nesse cenário do metaverso, dos mundos virtuais 3D, em que cada um pode criar uma jornada distinta do outro, escolhendo quais caminhos percorrer. Como falei anteriormente, a Inteligência Artificial é a principal tecnologia para isso. Em termos de oportunidades e impactos, hoje com essas tecnologias, tem como fazer uma automação muito mais refinada, com dados muito mais refinados, e isso pode levar a um cenário tão sonhado no marketing que é o um a um, ou seja, a hiperpersonalização em massa, em escala. É muito fácil a gente hiperpersonalizar quando está frente a frente com outra pessoa, mas quando tem milhões de pessoas interagindo com a sua marca, a personalização só pode ser feita de forma incrível se ela tiver todas as informações necessárias para entregar a experiência. E a gente está indo para esse cenário do marketing, mas o desafio é o seguinte: para fazer a hiperpersonalização em escala, que seria o máximo da experiência que a gente quer oferecer, precisamos vencer a complexidade que está se instaurando. É necessário dominar as tecnologias para que a gente consiga dar conta disso. Esse é, portanto, o cenário vislumbrado daqui para frente.
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