Sexta-feira, 06 de setembro de 2019
No primeiro dia do Expo Fórum Digitalks 2019, principal evento de negócios digitais do Brasil, Vivianne Vilela, diretora executiva do E-commerce Brasil, e o consultor Tiago “Doc” Luz discutiram sobre diversos aspectos que envolvem o mundo do varejo e do e-commerce, e deixaram claro logo de início tudo o que ele “não é”: não é fácil, não é para qualquer um, não é algo que o deixará rico do dia para a noite.
“Eu sempre digo que o e-commerce é como uma maratona, uma luta constante por margem. A gente precisa definir entre duas coisas: ou você faz uma compra por gosto, ou uma por preço. E é muito mais fácil trabalhar com gosto”, argumentou Doc, dando o exemplo de que uma compra por gosto pode ser feita dentro de setor do vestuário.
“Você pode amar uma Animale e uma Farm, mas eu aposto que no seu guarda-roupa também tem uma saia que não importa de qual é a marca: você se apaixonou por ela, e simplesmente decidiu comprá-la”, completou.
Ao falar um pouco sobre o que chamou de compra por preço, Doc comentou que estamos em um momento onde nunca foi tão bom ser indústria, uma vez que você possui uma grande margem e, com o tempo, foi capaz de construir a sua marca. Dessa forma, não precisa mais de um revendedor ou intermediário (ou, como chamou, “o middle man”) porque, a partir do momento que você implementa um marketplace, sua margem de revenda tende a acabar. Os consumidores passaram a preferir comprar diretamente das indústrias, por confiança na marca e diversos outros motivos.
Ao continuar a discussão, Vivianne alertou sobre a importância de levar a sério o termo ‘Transformação Digital’, argumentando que são duas palavras para se olhar com muito cuidado e analisar cautelosamente bem.
“A gente precisa conversar um pouco mais e prestar atenção no sentido e no conceito das palavras. Não existe transformação sem dor. Não existe transformação sem fruto, sem disciplina, é um trabalho absurdo com tombos no meio do caminho. É assim que a gente muda como ser humano, e isso não é algo capaz de ser feito por uma única pessoa”, afirmou Vivianne.
Imagine fazer uma transformação de tamanha proporção para um meio completamente digital de um negócio, sem perder relevância, levando-o para outro patamar, sem perder o DNA da empresa e continuar trabalhando com valor ao invés de preço em cadeias onde ele nunca atuou de forma integrada. Alguns exemplos compartilhados durante o talk show de empresas de varejo e indústria que deram certo e continuam crescendo nesse meio são a Magalu e a Tramontina, respectivamente.
É de extrema importância levar em consideração que, ao trabalhar o digital no meio do varejo, estamos lidando com empresas em sua maioria familiares, nas quais os donos criaram aquela rede e continuam trabalhando até os dias de hoje. Essa área digital pode vir a desestabilizar o ego sempre controlado de pessoas executivas que sempre foram excelentes no que fazem, mas que estão presentes em seus cargos há mais de 30 anos. O marketing pode ser tão poderoso quanto o setor da tecnologia e o financeiro, mas dentro das empresas isso são silos de poder.
“Existe um trabalho árduo de construção de pontes humanas de conhecimentos dentro de áreas que muitas das vezes tiveram intersecção. Isso é algo muito mais complexo. E, se o e-commerce sempre vai estar no meio, seja numa rede de varejo como um supermercado ou numa indústria, é preciso se lembrar do que é o e-commerce ‘raiz’. Estou falando de compra e venda de produtos, bens de consumo ou serviços. E para falar sobre essa transformação, eu preciso entender sobre o business onde eu estou. Preciso entender o comportamento do meu consumidor”, afirmou Vivianne.
A executiva ressaltou ser necessário ter conhecimento e entender de fato todo o funcionamento da cadeia para desenhar [novos] elos, construir relacionamentos internos, construir parcerias internas e parcerias externas que servirão para sustentar o que precisa ser feito. Devemos ter paciência com o que vivemos no caminho: o erro precisa ser corrigido rapidamente, mas não significa que precisa ser necessariamente punido.
O e-commerce é um processo alfabetizador do digital dentro de algumas indústrias de varejo. Dentre os motivos pelos quais é algo extremamente complexo, temos o fato de que o mercado muda muito rápido, atualmente contamos com muitos números de canais e opções, e a grande maioria dos clientes passando por essa transformação espera que sua margem de lucro e investimento retornem em um curto espaço de tempo de alguns meses.
“Hoje, quando a gente fala de transformação digital, é importante pensar que algumas profissões terão que ser ressignificadas e até mesmo deixarão de existir, como é o caso do ‘middle man’. Toda a cadeia ganha no processo de transformação digital quando este é bem pensado e planejado, e isso não é algo que acontece do dia para a noite”, completou Vivianne.
“A construção de marca tem que existir de uma forma ou de outra. Quando a indústria entra no e-commerce, ela só tende a fortalecer sua marca e se posicionar cada vez mais, ainda que não seja a mais conhecida dentro de seu segmento. Isso é muito mais marketing do que qualquer outra coisa, e, se você não investe nisso, as pessoas não vão saber quem você é. Continuamos em um mercado um pouco diferente dos Estados Unidos porque ainda precisamos de mídia de massa, precisamos de televisão. Ainda não quebramos isso totalmente, mas acredito que isso [digital ultrapassando a TV] vai acontecer”, finalizou Doc.
Para conseguir trabalhar efetivamente nesse meio, é preciso pensar a respeito do objetivo da loja, qual o formato que o cliente busca e que tipo de informação ele quer – levando em consideração que nós, como consumidores, estamos mudando a forma que compramos o que as empresas oferecem para vender.
*Carolina Picasso é uma aluna de Publicidade e Propaganda na Faculdade Cásper Libero apaixonada pelo poder das palavras. Tem experiência na área Social Media e atualmente gerencia o Marketing e comunicação na Subway Vila Romana.
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