Notícias

[SXSW 2018] Aprendendo Marketing e Inovação com a NASA

É desafiador despertar o interesse do público pelos estudos espaciais, porém, no SXSW 2018, a NASA ensinou ao mercado e às empresas que é possível fazê-lo

 

Por *Renata Lea e Rodrigo Terra

 

São muitas as estrelas que orbitam no SXSW 2018, entre elas, uma tem mais propriedade para falar de astros celestes e da ousadia de investir no sonho de ir longe, muito longe. A NASA marcou presença no Southby mais uma vez e, embora já não reine sozinha entre os viajantes do espaço presentes no evento, a agência aeroespacial norte-americana ainda vence a batalha de fazer olhos brilharem diante de seu stand.

NASA dá dicas para engajar audiência com estratégias de marketing digital no SXSW 2018

A maestria da NASA em comunicação é histórica. A agência sempre soube dançar no ritmo da indústria e dos hábitos da audiência. Desde cedo reconheceu o poder de licenciamento de sua marca como ferramenta de divulgação, desde o cinema até a indústria de brinquedos, passando por transmissões para televisão de lançamentos de foguete. Quando os meios digitais começaram a conquistar usuários, não foi diferente.

 

Estratégia de engajamento

Esse ano, quando empresas particulares começam a tomar postura mais ativa na corrida espacial, principalmente depois do lançamento do Falcon Heavy pela Space X, a NASA aproveitou o SXSW 2018 para abraçar seu legado na construção da conquista do espaço, realizando algumas palestras em que mostrou como a agência está se transformando internamente e como conseguiu manter o engajamento de audiências em torno do sonho espacial mesmo quando os investimentos no setor minguavam.

A NASA realizou 13 atividades na 32a edição do Southby; em todas ficou claro o foco na política de tornar públicas as atividades da agência, dos planos para uma missão exploratória no sol aos processos de inovação aberta e ferramentas de marketing digital usadas nos canais das redes sociais da agência. Engana-se quem toma essa postura apenas como uma prática em prol de transparência, dar acesso a informações é parte da estratégia de engajamento da agência. Pode não ser evidente quando falamos na divulgação de missões, mas o que dizer quando uma agência do governo americano desafia o público a trazer soluções para problemas que seus cientistas não conseguiram resolver?

A NASA tem um departamento chamado Centro de Excelência para Inovação Colaborativa (CoECI), que é responsável por ações de crowdsourcing com a comunidade, utilizando prêmios e métodos baseados em desafios para trazer soluções inovadoras para a agência. Na palestra How NASA and LEGO Embrace Open Innovation, Steve Rader, vice-gerente do departamento, usou um case inusitado para ilustrar as atividades CoECI.

Segundo Rader, a eliminação de resíduos orgânicos humanos é um problema sério no espaço. Em situações extremas, os astronautas podem precisar ficar dias em trajes especiais, que suprem todas as necessidades humanas, mas não têm meio de saída para fezes e urina. Essa falha pode levar a contaminações diversas, mas ninguém na agência conseguiu resolver a questão de maneira sustentável e ecológica (astro-ecológica?).

Em 2016, a equipe de Rader usou uma plataforma de desafios online, a Herox, para realizar o Space Poop Challenge, convidando a comunidade a desenvolver uma solução para o problema em troca de um prêmio em dinheiro. Foram mais de 5.000 inscrições. “Recebemos milhares de sugestões e não conseguimos fazer curadoria de todas. Mas usamos esse filtro para começar.”, explicou Rader. Ao final do desafio, cinco finalistas foram escolhidos, e os cinco foram premiados. O ganhador, um militar, conseguiu chegar numa solução de baixo custo. “Cada centavo gasto conta muito para agência, é dinheiro do contribuinte norte-americano e precisa ser muito bem usado”, reforçou Steve.

O CoECI tem diversas outras ações, incluindo o Future Engineers, que oferece aulas e desafios para crianças e disponibiliza objetos para serem impressos em impressoras 3D a fim de apoiar investigações científicas. Cada uma dessas ações é pensada em detalhes, compondo um quadro estratégico amplo, que considera todo raio de alcance da NASA.

 

Transformando as redes sociais em aliadas da sua empresa

Enquanto o CoECI está focado nos desafios que engajam o público e criam a oportunidade de colaborar com a agência em questões sensíveis e pontuais, o Jet Propulsion Laboratory (JPL) tem o desafio de falar com todas as audiências da NASA em redes sociais, com posts que contemplem tanto a comunidade científica como a leiga.

Responsável pelo controle das missões das sondas Voyager, da Curiosity em Marte e da finada Cassini, que só são possíveis graças a altos investimentos públicos, o JPL precisa mostrar ao público que seu dinheiro está sendo bem usado e criar uma imagem positiva o bastante para manter o apoio a suas atividades. A ação firme e bem amarrada em redes sociais, geridas pelo time do JBL, tem um papel importante para o sucesso desse objetivo.

Esse foi o tema do painel  NASA’s Universe of Storytelling School, que contou com a participação de Veronica McGregor (Gerente de Mídias Sociais e Notícias), Stephanie L. Smith (Supervisora de Mídias Sociais e Digitais) e Alice Wessen (Gerente de Engajamento Público).

Acompanhar a agência em seus vários canais é um exercício rico. Ela sabe potencializar mídias de acordo com o público, a plataforma e o conteúdo que tem à disposição. São eficazes em fomentar o engajamento e abrem caminhos para a colaboração do público com alternativas não tão pontuais quanto o CoECI, mas muito bem recebidas pela audiência.

As redes sociais acabaram se mostrando aliadas ideais no cumprimento do propósito da NASA, de tornar acessível o vasto repositório de material gerado, desde a criação da agência até hoje, transformando-o em algo capaz de estimular, inspirar e informar as pessoas de forma compreensível e personalizada sobre o andamento das missões, além de manter aceso o interesse pela investigação do Universo.

Veronica McGregor explicou que o JPL considera que “O papel da comunicação é contar histórias sobre cada programa que temos na NASA”, e as plataformas digitais começaram, realmente, a fazer parte dessa missão em 2008. A diversidade de canais e formatos que exploram nas mídias sociais desde então, é enorme, assim como os recursos adotados para criar conteúdo dinâmico e customizado para os vários perfis de público – de animações explicando cada detalhe de cada missão até aplicativos em realidade virtual.

As tecnologias imersivas, aliás, já começam a se destacar entre as ferramentas que a NASA utiliza para aproximar o público do sonho espacial. No SXSW 2018, a agência participou do Cinema Virtual com um vídeo em 360° que tinha como trilha sonora a 5ª Sinfonia de Beethoven, regravada do famoso Disco de Ouro, o mesmo que está viajando pelo espaço nas sondas Voyager, lançadas na década de 70.

Fila para assistir ao vídeo em 360° da NASA que tinha como trilha sonora a 5ª Sinfonia de Beethoven

 

A NASA já adotava vídeos feitos por cientistas e pesquisadores como parte da estratégia de disseminação da ciência, prática que promete ser ainda mais eficaz com o uso de filmagens em 360°. Nessa nova empreitada, a agência conta com o apoio de um aliado de peso, o Youtube Creative Lab. Mas foi o Facebook que a Nasa usou para fazer uma transmissão ao vivo em 360° do “adeus” da sonda Cassini, direto da sala de controle da missão. “Tivemos um engajamento alto com a comunidade, incluindo marcas e outras empresas como a Hallmark Greeting Cards fazendo uma ilustração fofa sobre o momento.”, contou Stephanie L. Smith.

Embora a NASA faça um excelente uso de plataformas exaustivamente utilizadas – YouTube, Twitter, Instagram, Facebook – ela está atenta a tudo que possa otimizar sua exposição, divulgando o seu conteúdo e dinamizando o engajamento de suas audiências. Um exemplo é a Raw Image Gallery, um repositório de imagens brutas vindas de satélites e sondas espalhadas no espaço. São milhares de fotos à disposição de pessoas do mundo todo, que podem fazer download dos arquivos a fim de editar e produzir conteúdos próprios. A iniciativa gerou uma série de vídeos no Youtube, de tutoriais ensinando como colorizar as imagens, de como chegar a resultados parecidos com os que os cientistas e designers da NASA alcançam na produção de documentação científica e divulgação na imprensa. Uma forma de engajamento inteligente e um meio de tornar acessível ao público, o acervo incrível de imagens e dados coletados por essas máquinas.

Confirme algumas galerias aqui e aqui também. 

É extremamente desafiador despertar o interesse do público pelos estudos espaciais, porém a NASA está ensinando ao mercado e às empresas que é possível fazê-lo, mesmo tendo um produto tão difícil, como uma missão a Marte ou a medição e monitoramento do aquecimento global. Suas lições estão no uso assertivo dos canais certos nas redes sociais, nos licenciamentos inteligentes de suas propriedades intelectuais para os parceiros que acreditam na visão da agência e na busca por se transformar por dentro, insistindo na quebra de barreiras culturais internas e mobilizando seus funcionários e colaboradores a abraçar o público de fato, em toda sua cadeia, a fim de e partirem juntos, de qualquer parte do planeta Terra, rumo aos desafios dos confins do Universo.

 

*Renata Lea e Rodrigo Terra  são da EraTransmídia e fazem parte da equipe de correspondentes do Digitalks no SXSW 2018. 

 

Confira outros conteúdos do SXSW 2018: 

>> [SXSW 2018] 4 Dicas para criar conteúdo personalizado

>> [SXSW 2018] A “humanização” da Inteligência Artificial está na diversidade

>> [SXSW 2018] Data é o novo petróleo, mas o petróleo é um ativo tóxico

>> [SXSW 2018] O que vai acontecer em 2043?

>> [SXSW 2018] Elon Musk marca presença no evento e discute temas como inteligência artificial e negócios

>> [SXSW 2018] Empatia e tecnologia para construir um mundo melhor

Comentários

PUBLICIDADE