Quarta-feira, 11 de abril de 2018
Os algoritmos e a inteligência artificial estão presentes em praticamente todo nosso dia, em ações que tomamos, em boa parte do que assistimos e consumimos. É um mundo de informações que influenciam nossa tomada de decisão, sem que, muitas vezes, tenhamos conhecimento. E que podem ter impactos diretos em nossa vida e em toda a sociedade.
Uma questão que começa a ser discutida são os impactos da tecnologia nas eleições brasileiras, principalmente, no contexto de fake news e propaganda eleitoral e, o mais importante, os riscos de manipulação eleitoral e as consequências da utilização desses sistemas de dados privados.
Um estudo da Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV – DAPP) mostra que contas automatizadas motivam até 20% de debates em apoio a políticos no Twitter. O levantamento mostra como robôs ou bots (perfis falsos presentes em mídias sociais) são capazes de distribuir, em escala industrial, mensagens pré-programadas, impondo riscos à democracia e ao processo eleitoral de 2018.
Utilizando inteligência artificial para monitorar as mídias sociais e analisar o que as pessoas estão falando e pensando sobre o cenário político, esses recursos conseguem fazer uma gestão da imagem dos candidatos e construir discursos seja para conquistar votos ou anular votos em opositores.
“O grande risco disso é a manipulação do próprio processo eleitoral. Sabendo quem é a pessoa e como ela pensa, identifica-se quais são os argumentos mais eficientes no convencimento desse indivíduo. Cria-se assim um filtro bolha, que leva a uma opinião empobrecida e limitada, sem acesso a outros pontos de vista a partir das diferenças, em um ambiente de indução e controle totalmente sem transparência, verdadeiras ameaças à democracia”, apontou Andre Miceli, coordenador de digital business da FGV e especialista em sociedade digital.
Durante as recentes eleições americanas foram contratadas empresas para tratar dados pessoais coletados por meio de inteligência artificial para definir perfis, comportamentos e padrões e, assim, construir mensagens políticas. Esses dados coletados e tratados conseguem identificar quase que individualmente a tendência de voto das pessoas.
Baseado no direito à transparência no tratamento de dados pessoais, entrará em vigor na Europa em maio, a nova GDPR (Regulação Europeia de Proteção de Dados), que determina que um indivíduo tem o direito a obter informações suficientes sobre um algoritmo, como o seu funcionamento e possíveis consequências, que o permitam tomar uma decisão racional autorizando ou se opondo ao uso dos seus dados pessoais. O Brasil ainda não tem nenhuma lei nesse sentido.
“Nesse momento o governo brasileiro não pode fazer muita coisa, além de chamar alguns executivos dessas redes sociais para tentar entender como estão esses processos de publicação de conteúdo, coleta, uso, acesso e venda de dados. É importante deixa claro que é muito mais uma questão ética do que legal, a menos que alguma lei seja efetivamente regulamentada no Brasil“, analisou Andre Miceli.
No fim, o questionamento é: quais os efeitos colaterais de todo esse processo tecnológico que podemos esperar? Até que ponto a o uso da tecnologia poderá impactar no direcionamento e na escolha dos candidatos por parte dos eleitores e nos resultados das eleições no Brasil? Isso nós iremos acompanhar nos próximos meses.
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