Quarta-feira, 13 de junho de 2018
A inserção da Inteligência Artificial (AI) em soluções de negócios já se tornou realidade para muitas empresas no mundo e no Brasil. As organizações que se adaptarem e souberem utilizar essa tecnologia, seja para extrair insights ou gerar valor para o cliente e para os negócios, tendem a alcançar um lugar de destaque no mercado.
Com o intuito de discutir os impactos e as possibilidades que AI traz para as marcas e empresas e ajudar os executivos e profissionais de marketing a entenderem essa tecnologia, o Digitalks, em parceria com a Martha Gabriel, realizou o AI Summit São Paulo. O evento aconteceu ontem, dia 12 de junho, na sede do Digitalks na capital paulista.
Um dos temas de destaque do AI Summit São Paulo foi a aplicação e a evolução da Inteligência Artificial que, apesar de estar em constante desenvolvimento, ainda está em fase de experimentação nas empresas. Conforme mostrou Martha Gabriel, a utilização da Inteligência Artificial pode ser dividida em três níveis e nós ainda estamos no primeiro estágio.
Então, para acertar na escolha do projeto de AI, o ideal é começar com aplicações mais simples. De acordo com Gustavo Gattass, Gerente de Marketing para Dados e IA da Microsoft, um dos desafios e talvez o maior dos erros das empresas é a tendência em pensar alto.
“Nós começamos pelo problema mais difícil que vai exigir mais recursos, seja de investimento financeiro ou conhecimento. As empresas que estão se dando melhor nessa área, escolhem bem o problema que querem resolver e optam por situações mais simples”.
Outra dica, dessa vez de Alessandro Lima, CEO da e.life e da BUZZMONITOR, foi experimentar essa tecnologia, para entendê-la melhor. Para Lima, os profissionais de marketing precisam compreender a dinâmica das aplicações de Inteligência Artificial para aplicá-la da melhor forma nas campanhas publicitárias ou gerar soluções de negócios mais eficientes. O CEO citou os assistentes virtuais como exemplo:
“Eu acho importante quem trabalha com marketing e comunicação comprar esses assistentes virtuais e começar a usar em casa. Isso vai ajudar vocês a quebrar os paradigmas.”
Falando em quebrar paradigmas, a aplicação da voz na AI ainda é um desafio, como revelou Alexandre Dietrich, Watson AI & Data Executive da IBM.
“O projeto mais complexo da AI é trazer a voz. [Aplicações escritas, ao invés de falados, são mais simples] Isso porque, em termos escritos nós somos mais econômicos então o projeto fica mais fácil. Voz o projeto é mais longo, mais complexo e você precisa treinar do básico. Têm muitas coisas legais para fazer com texto escrito antes de ir para o texto falado. Até porque: millenials preferem mensagens escritas do que voz.”
Para Alexandre Ziebert,Gerente de Marketing Técnico para América Latina da NVIDIA, a principal dificuldade da voz é que os assistentes de Inteligência Artificial são programados e treinados para pensar inicialmente em inglês.
“O português tem certas nuances da própria língua que são complicadas e, como as inteligências são programadas em inglês, na tradução elas perdem muito conteúdo e até contexto. Acho que os desenvolvedores brasileiros também precisam se dedicar a fazer Inteligências Artificiais nacionais”.
Se o recurso de voz na AI ainda confere dificuldades de implementação, o reconhecimento de imagem já é utilizado com sucesso. Cristina de Luca, Jornalista e Editora-at-large na IT Midia, mencionou o case dos bancos que utilizam sistemas de reconhecimento de imagem.
“A tecnologia da SEPRO processa toda parte das informações da carteira de motorista, incluindo imagem e dados cadastrais. Quando você chega ao banco que tem essa tecnologia e vai abrir uma conta, esse sistema identifica você, combinando os dados com a sua fotografia”, explicou Cristina. Além disso, essa tecnologia também é usada em empresas de comércio que abrem crediário como Casas Bahia, Magazine Luiza, entre outras.
Segundo Alessandro Lima, CEO da e.life e da BUZZMONITOR, o reconhecimento de imagens também pode facilitar o trabalho de interpretação de dados nas redes sociais. “Quando usamos a AI para processar imagens, conseguimos dados muito mais precisos que apenas com o monitoramento das redes sociais. Por exemplo, a Julia Roberts foi a um evento na Espanha e tomou a água de uma marca X espanhola. A foto foi para as mídias sociais. Um olhar humano talvez não fosse se concentrar na marca da água e esse detalhe passaria despercebido, porém a tecnologia de AI é capaz de pegar esse tipo de dado”.
Outro case mencionado durante o AI Summit São Paulo, por Alexandre Dietrich – Watson AI & Data Executive – IBM foi o manual digital e interativo da Volkswagen, marca que está se reinventando digitalmente. Batizado de “Meu Volkswagen”, o manual consiste em um app que utiliza a tecnologia do Watson, fornecida pela IBM. Os usuários podem fazer perguntas por voz ao app, bem como tirar dúvidas sobre o funcionamento do painel do carro enviando fotos do mesmo. De acordo com Dietrich, foram tiradas ao todo 400 fotos do painel para que o app conseguisse responder a maior parte das dúvidas dos clientes.
Esses foram alguns exemplos de como as empresas estão utilizando a Inteligência Artificial. Mas além de escolher o “problema” que será solucionado e qual a melhor aplicação da tecnologia, para obter sucesso em um projeto de AI é preciso estabelecer uma boa organização das equipes de trabalho.
Segundo João Galdino, CEO da Genesis, para alcançar o sucesso em projetos de AI , a presença de especialistas é essencial. “Um dos pontos focais pra você trabalhar com AI é ter especialistas e doutores na empresa. Esse especialista nem sempre é o desenvolvedor, na verdade, é um cara que consegue fazer uma análise clínica do cenário dos seus negócios.”
Marcelo Sousa, Presidente da ABRADi, também deu algumas dicas sobre a construção das equipes nos projetos de AI:
• Ter um time multidisciplinar é importante. Não é um cientista de dados sozinho que via resolver tudo.
• O projeto precisa ser liderado por uma pessoa que entenda muito dos negócios da empresa, do bussiness em si.
• Crie uma célula ágil, quase que um laboratório, para manter os funcionários focados no projeto. Separe os profissionais que estão envolvidos no projeto dos demais.
• Terceirize serviços. Fazer um ou dois projetos com equipes terceirizadas acaba capacitando a sua equipe e tornando-a mais independente para os planejamentos futuros.
A aplicação de Inteligência Artificial nas empresas ainda está na fase experimental. Além de erros e falhas que podem aparecer durante a execução dos projetos, existe o medo e o preconceito de que essa tecnologia vai acabar com muitas vagas de trabalho.
É fato que a inteligência artificial transformará o mercado de trabalho. Mas ao mesmo tempo que essa tecnologia eliminará empregos , também criará outros. Nesse contexto de mudanças quem não se qualificar e se munir de conhecimentos, corre o risco de ser substituído.
“Se você pegar uma pessoa com auto grau de qualificação a AI amplificará o seu poder de conhecimento e otimizará o seu trabalho. Mas tudo que for repetitivo vai ser automatizado e, nesse cenário, quem acabará sofrendo serão as pessoas com baixa qualificação. A velocidade que o profissional vai se atualizar é o diferencial dessa etapa” evidenciou Martha Gabriel.
Apesar do medo da substituição do homem pela máquina, a tecnologia também ajuda a solucionar problemas e otimizar processos. Então, o que vai definir se a Inteligência Artificial será uma vilã ou aliada para as empresas e para a sociedade é a maneira como o ser humano vai usufruir dessa tecnologia.
“Temos que nos perguntar o que os computadores podem fazer, mas também o que devem fazer. Será mesmo que eu preciso treinar um computador [drones] para matar? Os pesquisadores e as pessoas que estão no mercado devem ser mais paranoicos em relação às possibilidades que a AI oferece”, finalizou Martha.
*Bianca Borges é jornalista formada pela Universidade Anhembi Morumbi. Analista de Conteúdo no Digitalks, também tem experiência nas áreas de assessoria de imprensa e gestão de mídias sociais. Gosta de escrever sobre diversos assuntos mas, atualmente, seu foco é o Marketing Digital.
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