Quarta-feira, 24 de abril de 2019
A transformação digital, assunto muito discutido atualmente em diversas empresas dos mais variados setores, acarreta mudanças tanto tecnológicas, como culturais e altera também processos e estruturas de negócios nas organizações.
De acordo com acadêmicos e sócios da Innovative Management Partner (IMP) e da Mirow & Co, que são autores do livro “Digital Disruption – Como preparar sua empresa para a era digital”, publicado primeiramente na Alemanha e agora também disponível no Brasil através da Autografia (editora), grande parte das empresas anseia se digitalizar para aumentar a eficiência nos processos internos e melhorar seu desempenho, porém, esquecem que o cerne da inovação disruptiva está em estratégias que criam novos modelos de negócio a partir de tendências digitais.
Para Felipe Diniz, um dos organizadores da edição do livro Digital Disruption em português, estamos vivendo em uma era que tudo pode ser digitalizado, e realmente está sendo.
“(…) A digitalização acontece em diferentes níveis. Se inicia com o desenvolvimento de produtos e serviços digitais – o Ipad e os smartphones já são nossos velhos conhecidos. Até mesmo produtos triviais, como uma bola de futebol, tornam-se digitais (um sensor integrado capta dados e fornece um feedback através de um aplicativo sobre a intensidade do chute, a trajetória da bola, seu giro, sua velocidade etc.). A digitalização de produtos gera potenciais de diferenciação – no entanto, apenas no curto prazo. Em seguida é importante buscar eficiência e digitalizar e automatizar processos (…)”, explicou Dinzi durante entrevista exclusiva para o Digitalks .
Quando se trata de automatizar processos, tecnologias como big data, internet das coisas e inteligência artificial facilitam uma produção autônoma que pode acarretar redução de custos.
Dinzi afirmou que a combinação de big data com modelagens estatísticas sofisticadas já está influenciando muitas áreas. Ele deu alguns exemplos:
Apesar desse progresso, o organizador do livro Digital Disruption, alertou:
“O alcance dessas tecnologias não atingiu todo o seu potencial. Muitas empresas e governos ainda não lidam com o tema da digitalização de forma adequada. Não dedicam tempo suficiente a essa questão, não tem uma estratégia estruturada de digitalização, e deixam o tema restrito a um grupo específico longe da liderança da organização. A digitalização requer disciplina e governança. As iniciativas digitais, incluindo aí o uso de big data e inteligência artificial, devem estar alinhadas com a estratégia da empresa e devem ser desenhadas para atender a uma finalidade específica, gerando valor para as organizações no ritmo certo”.
Outro fator importante a ser considerado aqui é que não adianta as empresas utilizarem esses recursos tecnológicos para otimizar processos se também não houver uma reflexão sobre como proporcionar uma experiência diferenciada para os seus clientes.
A transformação digital não é um processo fácil, mas se bem planejado e estruturado, proporcionará bons resultados para as empresas. Alguns cases de sucesso que aparecem no livro “Digital Disruption – Como preparar sua empresa para a era digital”, foram citados por Dinzi durante a entrevista para o Digitalks, entre eles:
Magazine Luiza: é uma empresa que tem demonstrado grande capacidade de repensar seu negócio. Em 1992, criou o primeiro formato de venda eletrônica no Brasil, apenas dois anos após a criação da World Wide Web. A experiência pioneira da Magazine Luiza foi em terminais eletrônicos que não possuíam conexão com a Internet, mas que permitiam fazer compras sem a necessidade de produtos em exposição ou mesmo estoque. De lá para cá, a evolução digital transformou em e-commerce o negócio de vendas online e a Magalu tornou-se um dos maiores players nessa área. No final de 2017, o e-commerce já representava cerca de 33% das vendas da empresa.
Gympass: outras várias empresas brasileiras conseguiram criar modelos de negócios que só são viáveis justamente por utilizar novas tecnologias digitais. A Gympass, fundada em 2012, abre as portas de milhares de academias para potenciais usuários, que podem comprar diárias avulsas, pacotes personalizados ou planos mensais. O modelo de negócio, é uma plataforma, que basicamente conecta alunos de mais de 700 modalidades esportivas a academias e ginásios, ganhando uma comissão sobre o gasto de cada usuário.
GuiaBolso: uma das principais fintechs brasileiras, oferece um serviço gratuito de controle financeiro pessoal. A empresa desenvolveu um aplicativo que acessa diretamente os dados bancários de seus usuários e classifica cada um de seus gastos, gerando transparência sobre o destino do dinheiro e poupando tempo com anotações de gastos e lançamentos manuais em planilhas. Como isso a empresa teve acesso a milhões de usuários para quem pode oferecer uma gama de produtos e serviços financeiros.
Entre as tendências da transformação digital das empresas aparecem a Economia Grátis e a Produção Personalizada e Descentralizada. Felipe Dinzi forneceu mais detalhes sobre cada uma delas.
Segundo ele, a digitalização reduziu significativamente custos e a abriu espaço para a criação novos modelos de negócio, permitindo a criação de empresas que oferecem serviços teoricamente grátis.
“Facebook e Google seguem esse caminho. O uso é grátis. Paga-se, na verdade, com outra moeda, com dados e com propaganda consumida pelo usuário. O canal Porta dos Fundos é um bom exemplo brasileiro da “economia grátis”, Criado por um grupo de amigos insatisfeitos com a falta de liberdade criativa da TV brasileira, o canal publica gratuitamente 2-3 vídeos curtos por semana no Youtube., Em 2017, o canal atingiu a marca de 1,9 bilhões de visualizações e mais de 13 milhões de assinantes, tornando-se um fenômeno da Internet brasileira e um dos maiores do mundo. Além do faturamento por número de visualizações no YouTube, o grande sucesso dos vídeos atraiu vários anunciantes e patrocinadores: marcas como Spoleto, Ambev, Ipiranga, Dorflex, TAM, Danette”.
A produção personalizada e descentralizada também é originária da era digital.
“(..) Há cerca de 15 anos, é possível observar uma crescente regionalização e personalização dos produtos. O desenvolvimento de tecnologias como inteligência artificial aliado ao uso de big data permite um entendimento profundo dos desejos e demandas dos consumidores. Ao mesmo tempo, a digitalização e automação de processos industriais facilita a produção personalizada, a entrega de produtos diferentes para cada cliente. Um impulsionador importante da personalização e da regionalização da produção é a impressão 3D. Ela transforma consumidores em produtores. Além da utilização de softwares, a impressão 3D não demanda nenhuma habilidade especial. Como muitos designs e modelos de impressão estão disponíveis ou tem código aberto em comunidades online, a impressão 3D estimula a democratização, a personalização e a regionalização da produção”, explicou Dinzi.
No final da entrevista, Felipe Dinzi listou algumas iniciativas capazes de ajudar as organizações a serem bem-sucedidas na jornada da transformação digital. São elas:
E lembrou que os gestores e líderes das organizações têm um papel fundamental para a efetividade desse processo de mudanças.
“Adicionalmente, há um desafio importante de mudar a cultura de liderança, em especial, o comportamento dos líderes. Nesse sentido, a adaptação de organizações à era digital precisa de líderes que valorizem a diversidade e a independência dos seus colaboradores, e que consigam agregar conhecimento de múltiplas fontes, descentralizando as ações de inovação e digitalização em suas empresas”, finalizou.
*Bianca Borges é jornalista formada pela Universidade Anhembi Morumbi. Analista de Conteúdo no Digitalks, também tem experiência nas áreas de assessoria de imprensa e gestão de mídias sociais. Gosta de escrever sobre diversos assuntos mas, atualmente, seu foco é o Marketing Digital.
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