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A inteligência artificial cada vez mais humana

*Por Rodrigo Terra, Renata Lea e Tatiana Tosi

 

Se o SXSW dita, para todo o mundo, as tendências tecnológicas da indústria, o tema da vez é inteligência artificial. De bots a humanóides, passando pelos carros autônomos, esse tema foi explorado em detalhes e profundidade no festival, marcando presença nos painéis, no trade show e no espaço SXSW Create.

No dia-a-dia, imaginar máquinas inteligentes é um pesadelo para os humanos, especialmente pela ideia plantada há anos pela ficção científica. Nas páginas de um livro ou frames de um filme, sempre que um inventor ingênuo acende a centelha do pensamento autônomo em uma peça mecânica, acaba por anunciar seu próprio fim trágico.

Talvez, seja por isso que a maior parte das pessoas não saiba quão avançados estamos no campo da inteligência artificial, e muitos nem conseguem enxergar sistemas que trazem informações seguras – chats online de e-commerce, por exemplo – como máquinas pensantes. Isso foi só o começo; agora, o aprendizado dos robôs está se aproximando do nível cognitivo.

Hoje, a ciência cognitiva busca encontrar um refinamento tunado em micro-comportamentos como nossas expressões faciais, em função de suas características únicas. Assim, dados são transformados em uma sinfonia particular que pode ser reconhecida por cada um de nós.  

Isso se reflete na construção do avatar de cada indivíduo. Nele, a identidade digital se mescla a macro dados comportamentais armazenados em nuvens, tendo como consequência a massificação do ID individual (formado pelo conjunto de informações online de cada um) na simplicidade do uso de uma câmera, por exemplo. No futuro, se esse cenário cada vez mais robusto e inteligente, repleto de dados particulares e informações comportamentais, for condensado e disponibilizado, teremos o que está sendo chamado de “digital ghosts” – em outras palavras, a rotina online construída ao longo de anos, manterá vivo aquele ente querido que já não está entre nós. Seu avatar poderá reagir a novos acontecimentos exatamente como o indivíduo que lhe deu origem reagiria.

 

Mark Sagar, cientista de computação e criador do Baby X, marcou presença no SXSW 2017

 

As funções cognitivas estão sendo aprendidas pelas máquina a partir de técnicas complexas, em que a ciência neurológica é peça chave. Entre os hits de sucesso do SXSW, está o Baby X, criado pelo cientista de computação, Mark Sagar, que é conhecido por dar a personagens gerados por computador, expressões humanas precisas, como fez no filme Avatar. Dessa vez, ele está usando suas habilidades em um projeto de inteligência artificial onde a máquina está aprendendo como um bebê aprende.

Ensinar computadores como se ensina a uma criança, de certa forma, é parte de qualquer processo de machine learning, mas o Baby X é diferente. O que se destaca nesse projeto é o fato de Sagar seguir o processo biológico do cérebro humano para construir a rede neural computacional da máquina. Segundo ele, para levar um personagem a se comportar naturalmente, é fundamental criá-lo a partir de um modelo natural. Por isso, ele reproduziu um sistema biológico completo (o cérebro, a rede neural, o corpo, cada osso e músculo do esqueleto humano) para o Baby X e o conectou a um sistema de computação cognitiva. Ou seja, Sagar fez com que o sistema biológico computacional do bebê se conectasse aos modelos de inteligência artificial. Assim, o Baby X está aprendendo tudo – inclusive expressões faciais – a partir do modelo biológico humano.

O Baby X traz o machine learning a um novo patamar, apontando para um movimento refinado e mais assertivo da ciência cognitiva. Está em amplo processo de construção aquilo que podemos chamar de “deep data“, devido ao grau micro-granular da sua densidade de dados comportamentais e singulares. Com isso, nascem novos conceitos, como a cognição incorporada e fundamentada, traduzindo assim, um aprendizado social constante e em real time.
 
*Rodrigo Terra, Presidente da Era Transmidia, é também correspondente do Digitalks na cobertura especial do SWSX. Esse texto foi escrito com a colaboração de Renata Lea e Tatiana Tosi.

 

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