Quarta-feira, 16 de janeiro de 2019
A transformação digital já é uma realidade e as empresas que ainda não estão de olho nesse movimento precisam correr atrás do tempo perdido, para não ficarem ultrapassadas. E não se trata apenas de levar tecnologia ou inovação para dentro da companhia, e sim, mudar a estrutura da organização para aumentar o desempenho e buscar resultados melhores.
Segundo George Arraes, Gerente Sênior de Customer Experience da CI&T, a mudança de ‘mindset’ é um dos principais entraves, já que é necessário mudar a cultura da empresa, alterar a estrutura de comando e controle e fazer com que os profissionais trabalhem integrados em busca do mesmo objetivo. “A atuação da CI&T é de cunho cultural e não tecnológico, como todo mundo pensa. Tem que modificar a estrutura, quebrar silos, mudar a maneira como a comunicação acontece. Toda essa mudança traz questões, porque sai da zona de conforto”, afirma.
A transformação digital propõe uma mudança gradual, segura e estruturada da empresa em uma jornada que tem como objetivo o aperfeiçoamento constante de processos, durante um longo período. Neste contexto, outro entrave é conseguir pensar em melhorias e soluções que realmente vão fazer diferença e entregar valor ao consumidor final. O cliente deve ser colocado no centro do negócio e o trabalho é voltado para atender às necessidades que o consumidor possui em sua experiência, de ponta a ponta.
Para marcas e empresas que querem obter um crescimento exponencial de negócios no século XXI, é preciso utilizar o pensamento lean (ou enxuto, processo focado no cliente que simplifica tarefas e elimina desperdícios, reduzindo o tempo de entrega e aumentando a efetividade da empresa), aliado a design atitude para entregar resultados consistentes. E vale lembrar que, assim como qualquer metodologia “Mesmos nos casos de sucesso haverá momentos de dor, principalmente quando silos são quebrados e estruturas e estratégias são questionadas”, ressalta Cesar Gon, CEO e fundador da CI&T.
Muitas empresas não percebem que precisam se reinventar ou mudar o negócio para acompanhar as ofertas disponíveis no mercado e as necessidades do cliente, que mudam de tempos em tempos. Algumas deixaram até de existir porque não tiveram a percepção que precisam se transformar. A Blockbuster, por exemplo, foi extinta porque não enxergou a grande oportunidade que o mercado de streaming permitia. A empresa viu a Netflix nascer e ocupar os espaços que seu serviço não atendia.
“A percepção de urgência dessa mudança é uma questão de saúde para o negócio. Existem muitas instituições conservadoras e que ainda não são pressionadas, mas em um setor de alta competitividade, elas precisam estar dispostas a passar pelo desconforto para não serem engolidas pelo mercado”, disse Arraes.
A maioria das empresas está acostumada a ter um processo longo para implementar novos projetos. E assim, o desenvolvimento das soluções demora e os consumidores não recebem o que precisam. “É preciso estar pronto para ter uma estrutura que faça testes de hipóteses, construa experimentos rápidos e aprenda com eles. O sucesso no mundo atual é baseado em resiliência, aprendizado e evolução”, afirmou o Gerente Sênior.
O aprendizado é muito relevante dentro do processo de transformação digital. Testar hipóteses e implementar MVPs (Produto Mínimo Viável) para ter feedbacks rápidos do cliente ou consumidor ajudam a agilizar esse processo.
“A velocidade é super importante. A velocidade pela velocidade produz lixo na velocidade da luz, mas a velocidade associada ao aprendizado, com análise de dados e números, mostra o que o experimento permitiu”, completou.
A estrutura de comando e controle é o padrão da maioria das empresas. Nela, o chefe é a figura principal e quem tem mais experiência diz o que fazer, enquanto os demais apenas executam, sem conversa ou discussão sobre o assunto. No entanto, essa conduta atrapalha o desenvolvimento rápido de ideias e projetos.
“Hoje, não existe garantia de que a sua ideia seja a melhor ideia. Ela está sujeita a questionamentos e a falhas. O líder tem que se transformar do comando e controle para um líder que é inspirador”, ressalta Cesar Gon. “Por isso, o papel da liderança é fundamental para quebrar esse paradigma de comando e controle e, assim, promover o engajamento dos colaboradores no novo modelo de trabalho“, apontou.
Com a transformação digital essa prática deve mudar. Todos devem trabalhar em prol do mesmo objetivo e as ideias e projetos devem ser discutidos. Todos são convidados para colaborar e trocar informações. Além disso, os departamentos devem repensar as métricas segmentadas para alcançar esse objetivo principal.
Na cultura de mercado atual, a experimentação é praticamente inexistente. Existem poucas empresas que apostam em hipóteses e ideias para testar os seus projetos. O mais tradicional é seguir com um planejamento anual e complexo, que muitas vezes não traz os resultados esperados.
Na transformação digital, a experimentação é um dos pontos principais. Os MVPs permitem que hipóteses sejam testadas em prazos mais curtos e as mudanças podem ser implementadas enquanto o produto recebe melhorias e atualizações.
A experimentação permite mudanças e renovações mais rápidas e assim que um problema é identificado, a equipe já pode tentar solucioná-lo já que não é preciso esperar outras etapas acontecerem para atuar.
Quando a empresa tem como foco resolver o problema, todos estão no mesmo barco e atuam em busca do mesmo resultado. “Esse choque de abandonar o passado é muito desconfortável porque é muito intenso, vai amadurecendo ao longo do tempo” disse Arraes.
Na cultura corporativa tradicional, os erros são abomináveis e nunca devem aparecer ou fazer parte do dia a dia do trabalho. Muitas empresas encontram dificuldades para atuar com a possibilidade de errar.
Com a transformação digital, essa rotina muda: os erros devem ser expostos, discutidos e analisados. Os problemas sempre vão existir, mas quem não os conhece não consegue se preparar para imprevistos ou situações incômodas.
“É preciso expor esse erro, buscar resolver o problema e não tentar achar o culpado. Na hora que o erro é repreendido, o aprendizado acabou porque as pessoas passam a se proteger e não falam mais”, fala Arraes. É importante aprender rápido com esse erro, ao invés de simplesmente ver o erro e não se posicionar.
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