Na teoria, dizer que a pandemia mexeu com os gestores e colocou a Transformação Digital como uma prioridade nas empresas, é um assunto batido, muito falado e abordado, mas no Brasil o discurso é muito mais bonito que a prática. O assunto pode estar batido para um artigo, como esse, para reunião com o “C-Level” ou mesmo para um tema de live, concordo, mas na prática, você consegue listar 10 empresas que estão realmente partindo para essa transformação? Vou deixar mais complicado, não pode citar nenhuma de tecnologia e nem a Magazine Luiza, que já vem em seu processo de transformação desde antes a pandemia. Valendo…
Difícil, né? Pois é. Sempre falo, muito se diz, pouco se faz, até porque, em muitos casos quando alguns retomam o assunto, o que se ouve é “ah, já falamos disso” ou “ah, nosso time de TI está atrás disso…” e já começa errado, pois não é só a TI que precisa ser envolvida, o marketing, comunicação e branding também. Quando a Transformação Digital entra, realmente no dia a dia das empresas, todas as áreas têm que ser envolvidas e não apenas a TI.
Com a pandemia, o home office cresceu muito. Isso se deve, muito a tecnologia. Hoje, as pessoas têm computador em casa, mas muitas empresas estão substituindo os PCs por notebooks. Havia uma época que um notebook custava muito mais caro do que um PC, hoje, há notebooks mais baratos. Ter arquivos na nuvem é algo, que em 1999 com o seu Hotmail você já tinha, depois o Google lançou a sua nuvem com 15 gigas de graças para quem tem um gmail. A Amazon, apostou nesse mercado e hoje a Amazon Web Services vale 35 bilhões de dólares, mas colocar seus documentos na nuvem está longe de ter uma estratégia completa de Transformação Digital.
Um passo importante da Transformação Digital é digitalizar processos, ou seja, migrar tudo para esse ambiente. As reuniões, antes presenciais, hoje pelo Zoom. Os documentos, antes do servidor dentro da empresa, hoje na Amazon com acesso de qualquer lugar do mundo. Os vendedores de loja usando seus WhatsApp para fazer venda em sua comunidade e/ou para sua rede de clientes, as ferramentas de CRM cada dia mais úteis para a força de vendas, os call centers dominados por URAs que trazem todo o histórico das ligações. Tudo isso, importante, mas não é Transformação Digital, até porque esse conceito tem um lado muito mais humano do que máquina.
Segundo John-David Lovelock, vice presidente de pesquisa do Gartner, será fundamental para as empresas investir em tecnologia para sair mais rápido da crise. O universo digital será a grande plataforma, e vale lembrar, que ter um site e fazer algumas postagens no Facebook não é usar todo o potencial que o digital oferece, muito menos acreditar que isso é a Transformação Digital que a sua empresa precisa.
Em época de pandemia, muitas pessoas migraram da pizzaria do sábado a noite, para a maratona de séries no Netflix. A pizza, o Rappi entrega. As reuniões fechadas em salas específicas, migraram para o Zoom, Google Meet ou Microsoft Teams. Tem ideia o quanto essas 4 marcas cresceram na pandemia?
Só o Zoom teve uma valorização de 270% em suas ações depois de Março de 2020. No começo do ano, 10 milhões de pessoas usavam a plataforma diariamente, agora são quase 300 milhões, graças ao home office que o mundo foi obrigado a adotar. Hoje, a marca vale 72,4 bilhões de dólares mais que Ford Motors ou a American Airlines. E até outro dia, você mal sabia quem era o Zoom…
Segundo Ana Paula Assis, presidente da IBM para a América Latina, em entrevista para a Revista Exame, não tem mais como resistir a tecnologia, quem estava pouco se importando com ela, deverá, no pós-pandemia correr atrás. Eu, ainda saliento, que se uma empresa está indo, agora, atrás de tecnologia para melhorar seus processos, comunicação, pesquisa e conhecimento de mercado, está, pelo menos, 10 anos atrasada.
Essa boa notícia da alta de demanda por tecnologia pode ser interessante para as empresas que as vendem, mas seria mais interessante se fosse pelo fato do Brasil acordar e parar de ser resistente ao que a Transformação Digital traz para o seu negócio.
(*) Felipe Morais é sócio da FM Consultoria