Notícias

Dificuldades e oportunidades para o empreendedor

Hovani Argeri (*)

É consenso que haverá recessão neste ano.  Como a inflação também deve ficar bem longe da meta, a tendência de alta de juros se manterá e deixa dúvidas se haverá recuperação em 2016. Mas é evidente que o país não vive e não entrará na maior crise de sua história. Pensar nisso é desconhecer a história econômica brasileira e achar que o mundo foi criado juntamente com o Real. A combinação de retração econômica com inflação e consequente elevação dos juros contamina todas as expectativas e gera um círculo vicioso que piora a conjuntura como um todo. Abordagens inovadoras na ciência econômica apontam que o comportamento dos agentes e a influência de suas expectativas impactam nos indicadores macroeconômicos.

Como o governo não se mostra capaz de reverter essas expectativas, há um círculo vicioso. É fato que palavras como desemprego e inflação que, até anos atrás, se tornavam pouco comuns no vocabulário dos brasileiros, voltaram. Mas esses fantasmas retornam com um porte muito inferior ao que ostentavam num passado não tão remoto. Ainda assim, surgem os profetas do caos a anunciar um cenário econômico catastrófico e a prever o quanto a situação ainda irá piorar. Somos, de fato, afeitos à desgraça, principalmente se pudermos culpar alguém, desde que não seja a nós mesmos.

Todos esses elementos acabam por desanimar potenciais empreendedores. Abrir um negócio no Brasil não é fácil hoje. Mas nunca foi.  Há uma burocracia monstruosa, uma das maiores cargas tributárias do mundo e tantos outros obstáculos característicos de nosso país. Porém, há incontáveis oportunidades em qualquer segmento, até por conta da falta de competitividade a que boa parte dos empresários nacionais está habituada. Dessa forma, há incontáveis formas de se diferenciar no mercado.

As empresas brasileiras, de modo geral, não buscam a inovação. Embora dados da Organização Mundial da Propriedade Intelectual (Ompi) relacionem o país entre os 20 que mais pediram registros de patente em 2013, ano em que apresentou o quarto crescimento consecutivo no indicador, um estudo apresentado em maio último pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), mostrou que, para 62% dos empresários consultados, o Brasil tem um grau de inovação baixo ou muito baixo. Entre as justificativas elencadas por esses industriais, figuram a defasagem tecnológica acumulada em anos, que acaba por incentivar a importação, falta de cultura inovadora e baixo nível de escolaridade entre os profissionais.

A inovação não passa necessariamente pela criação de um novo produto ou pela destinação de um percentual significativo do faturamento a P&D. Para o pequeno empresário, pode significar a revisão de processos, a utilização de softwares e aplicativos – muitos deles gratuitos – na operação e a integração entre departamentos. Mesmo a adoção de metodologias, como a observação dos custos totais envolvidos ao longo do tempo na aquisição de um bem ou serviço (treinamento, manutenção, consumo e custo dos insumos) pode resultar em vantagens competitivas relevantes.

Ações como essas podem elevar a produtividade da empresa e sua produção, reduzir custos e, consecutivamente, aumentar a competitividade. A eficiência se refere a obter o máximo do resultado utilizando o mínimo de recursos e deles extraindo o resultado máximo, o que reduz as perdas.  É um conceito óbvio, mas, na cultura empresarial do país, sua adoção representa um diferencial. Um levantamento do Conference Board, entidade que realiza pesquisas econômicas em cerca de 60 países, apontou que o crescimento médio da produtividade no país, entre 2003 e 2012, foi de 1,1%, o menor entre os chamados BRICs, e, em 2013, a produtividade do trabalhador brasileiro foi a menor em toda a América Latina.

Há dificuldades para quem quer empreender, mas elas já foram maiores. As empresas nacionais, em sua grande maioria, operam sob conceitos ultrapassados, cultivados durante o período em que nossa economia era fechada. Agir de forma diferente possibilita que se conquiste destaque. O cenário econômico dificulta, mas há grandes oportunidades. Quem sobreviver a este período com a adoção de modernos conceitos de administração estará forte quando a crise passar: será mais eficiente, terá mais chances de conquistar mercado e uma produção mais barata e competitiva. Difícil é, mas, como diz o ditado, só peixe morto não nada contra a maré.

(*) Hovani Argeri é consultor de empresas, mestre em finanças, advogado e atua há mais de 20 anos como gestor comercial de multinacionais

Comentários

PUBLICIDADE