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5G: o que você precisa saber sobre o futuro da comunicação

A tecnologia 5G irá revolucionar praticamente todos os serviços que afetam a vida das pessoas, explica o chefe global de Marketing de Redes Móveis da Nokia

 

Por Gabriel Dias*

5G

A Quinta Geração de internet móvel, ou 5G, está cada vez mais perto dos brasileiros. Em alguns lugares do mundo, como EUA e Coreia do Sul, já existe o uso comercial da rede. Há uma enorme expectativa em volta do 5G, pois a tecnologia faz parte de uma série de “revoluções” necessárias para a total implementação da Indústria 4.0.

O 5G é o que existe de mais atual em alta velocidade e baixa latência nas conexões. A nova geração de internet sem fio pode ser 10 vezes superior em comparação a seu antecessor, o 4G. Muito além do que deixar os downloads mais rápidos, o 5G permitirá, na próxima década, o melhor desempenho de tecnologias como IoT e AI, resultando em carros autônomos, smart cities, procedimentos médicos em locais diferentes e até projeções holográficas.

Apesar de testes já estarem sendo feitos no Brasil, a rede 5G ainda precisa atravessar algumas questões legais e operacionais no país, como o leilão das frequências para operadoras de telecomunicações, feito pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), e instalações de equipamentos.

Para explicar o impacto do 5G, a relação com outras tecnologias e o que falta para o Brasil liberar o uso da quinta geração de internet móvel, o Digitalks entrevistou Sandro Tavares, chefe global de Marketing de Redes Móveis da Nokia. Confira abaixo:

 

Digitalks ➤ Qual será a importância do 5G?

Sandro Tavares ➤ 5G é o novo paradigma na questão de comunicações móveis. Até então, todas as evoluções, de 2G para 3G e 3G para 4G, traziam uma funcionalidade a mais, mas ainda eram extremamente focadas só no aspecto conectividade, seja de voz ou dados. 5G traz uma transformação muito mais radical, obviamente que a conectividade básica está lá, mas funcionalidades que o 5G traz a respeito não somente da capacidade de dados e transporte de dados, mas também a redução de latência e a possibilidade de se gerar fatiamento de rede, um termo que a gente usa como network slicing, faz com que você possa criar uma infinidade de novas aplicações que vão além da tradicional conectividade.

Tomando vantagem dessas capacidades, você pode criar redes virtuais dedicadas a serviços como controle de robôs em uma fábrica para serviços de saúde conectada, por exemplo. O fato é que estamos chegando a um ponto da indústria que os provedores de conectividade, os operadores terão a possibilidade de ser não somente provedores de serviços de comunicações, mas virar, de fato, um provedor de serviços digitais e tudo isso fundado nessas novas capacidades da rede 5G.

 

DT ➤Nessas possibilidades, você pode detalhar mais sobre a diferença do 5G para o 4G?

ST ➤Tudo começa em uma nova tecnologia de acesso de rádio que entrega mais capacidade. Isso sempre acontece nesses pulos de 3G para 4G, de 4G para 5G, só que o 5G faz uma nova arquitetura de toda a rede do operador e faz com que as funções que compõem essa rede sejam mais distribuídas e possam ser organizadas de uma maneira mais flexível dentro da rede, trazendo algumas propriedades para funcionarem bem mais próximo de onde nós estamos. Com isso, otimizando toda a parte de transportes da rede também reduzindo a latência.

O que é latência? Esse é um conceito que algumas pessoas ou nem todo mundo entende, a velocidade todo mundo entende que é conseguir baixar o vídeo mais rápido e coisas do gênero, mas a latência é o tempo que uma informação leva para sair do ponto A para um ponto B na rede. Por que isso é importante? Quando você tem latência baixa, você começa a ter experiência em tempo real, deste modo, você não tem mais um delay, um atraso na resposta da rede, o que é fundamental para algumas aplicações específicas, por exemplo, os jogos.

Pode parecer algo muito simples, mas se você está jogando online, mesmo que seja só com você mesmo, e sua latência é alta, alto pode ser coisa de 50 milissegundos, você não verá uma resposta rápida aos comandos que você está dando. Caso você esteja jogando online contra um oponente e você tem mais latência que o seu oponente, a chance de você perder o jogo é muito maior.

Então, você prover baixa latência para os consumidores já é interessante e se a gente levar isso para o mundo de IoT, internet das coisas, e outras tecnologias, a latência lhe permite automatizar uma série de processos que até então não eram possíveis, como, por exemplo, o controle centralizado da operação de robôs de uma fábrica.

DT ➤ É sobre isso que eu abro a próxima pergunta, qual é o real impacto que terá para o consumidor e para o empresário?

ST ➤ Consumidor são mais serviços, você pode gerar além dos serviços que conhecemos como dados e game, eu acredito pessoalmente, que 5G estará para game assim como 4G está para streaming, depois de 4G houve uma explosão no serviço de streaming, todo mundo vendo vídeo em aparelhos móveis, eu espero que aconteça o mesmo para jogos. Aumentará ainda mais o mercado de jogos no mundo, que já é grande, mas chegará a muito mais pessoas com o 5G.

Para indústrias, é a possibilidade de automatizar alguns processos, melhorar a produtividade e de fato chegar em um novo patamar de operação. A gente [Nokia] considera que o 5G é uma das fundações do processo da 4ª Revolução Industrial, então, você automatizar processos, otimizar o tempo e de maneira que você aumente de forma exponencial a produtividade de várias verticais.

 

DT ➤ Como que chega o 5G no Brasil e como ele está no mundo?

ST ➤ Vou começar pelo mundo, depois a gente traz para o Brasil. Então, esse ano foi o primeiro ano onde tiveram de fato implantações comerciais de 5G no mundo, até então haviam trials, hoje você já tem 5G rodando de maneira comercial em alguns países, basicamente, Estados Unidos e Coreia do Sul são os países mais avançados. A Coreia hoje já tem mais de 3 milhões de usuários 5G, é um número considerável.

Nos EUA, as redes foram lançados agora no segundo semestre e todas as quatros grandes operadoras já têm uma oferta comercial de 5G que é você pode entrar na loja e comprar um telefone de 5G, e estão crescendo na área de cobertura e na quantidade de usuários.

Na Europa, alguns países como a Finlândia e a Itália já têm o serviço. A gente tende a ver novas redes sendo lançadas ainda em 2019 e espero uma consolidação dessas redes durante 2020/2021. Isso é o começo porque o 5G está nas primeiras implantações, rodando no modo que a gente chama de no stand alone, que seria você rodar o acesso 5G em cima de uma camada 4G.

Toda parte de controle de comunicação vai para o 4G, o core da rede é 4G e o tráfego de dados vai em 5G. O próximo passo é a gente criar as redes 5G stand alone, onde toda a rede, parte de controle e tratamento de dados, está em 5G.

Nós estamos começando a trazer isso para o Brasil, porém, a gente hoje tem uma questão que ainda está em aberto que é alocação de frequências. Enquanto as outorgas não acontecerem, os desenvolvimentos comerciais de 5G no Brasil não podem ocorrer por questões legais e até físicas. Então, existe esse compasso de espera para as implantações comerciais, o que não significa que testes não venham sendo feitos. Temos engajamentos ativos com todos os grandes operadores aqui no Brasil e existem vários casos no país.

As redes de um dos nossos clientes já têm mostrado uma taxa de transferência de dados chegando a 2 Gb/s (Gigabits por segundo) em uma rede 5G, o que é significativo, mas o Brasil ainda está em compasso de espera para que uma vez que essas frequências sejam outorgadas para os operadores para que as implantações de fato comecem e aconteça o lançamento da rede. Eu espero ver tudo se resolvendo no primeiro semestre, no ponto de vista regulatório, antes do fim do ano que vem já teremos a rede 5G comercial no Brasil.

 

DT ➤ Sandro, você poderia explicar melhor esses desafios e o que está impedindo a liberação do processo?

ST ➤ É o leilão de frequências, precisamos de um novo cenário, novas frequências, para poder lançar a rede 5G. Há uma discussão já acontecendo no Brasil há um tempo acerca de quais frequências serão alocadas e até quando ocorrerá o leilão dessas frequências para os operadores. Pelo o que eu sei, esse leilão deve acontecer no primeiro semestre do ano que vem e nesse leilão serão feitas outorgas de frequências em banda baixa – em torno de 700 MHz -, em banda média – em torno de 3 GHz -, e em banda milimétrica.

Precisamos dessas três partes do espectro para, de fato, prover toda a flexibilidade de 5G. Desse modo, você precisa trabalhar um pouquinho em cada parte do espectro para você ter as características específicas de cada serviço sendo entregues. Assim, estamos aqui esperando que a Anatel faça o leilão e que as outorgas ocorram para que a gente possa, realmente, começar as implantações no Brasil.

 

DT ➤ Para finalizar, qual será a relação do 5G com outras tecnologias como edge computing, IoT, AI?

ST ➤ 5G é um dos building blocks de toda essa transformação que vem com a Indústria 4.0, a Inteligência Artificial e tudo isso. Desse jeito, o 5G, primeiro em ponto de vista de arquitetura de rede, tem a questão da latência e baixa latência, no qual existe uma limitação física, que é a velocidade da luz, então, para você entregar uma latência super baixa é preciso fazer o processamento dos seus dados o mais próximo possível de onde eles estão sendo consumidos. Dentro disso, o conceito de edge cloud ajuda muito.

Então, primeiro de tudo, para você lidar com a quantidade de dados que terão em 5G e com a flexibilidade que a rede requer, a tecnologia de cloud é fundamental. O cloud dá a flexibilidade de colocar mais capacidade quando precisa mover funções de um ponto para o outro e tudo isso é básico do conceito de cloud, por outro lado, aplicar o conceito de cloud tradicional irá prejudicar a questão da latência.

O conceito de cloud tradicional, por exemplo, é eu colocar o meu processamento acontecendo em qualquer lugar, eu nem sei onde ele é, ele tá muito centralizado em data centers grandes e é isso, tudo bem, isso pode acontecer, esses data centers têm capacidade de processar esses dados, mas quando eles estão longe você perderá a latência.

Existe o tempo que esses dados demorarão para sair do ponto A para o ponto B, aí entra o conceito de edge cloud que é criar data centers menores e alguns casos até bem menores e o mais próximo possível do usuário, para que os workloads sejam necessários para se entregar essas conexões de baixa latência e ocorram o mais próximo possível do usuário para você chegar nesse nível de latência baixa.

Inteligência Artificial e machine learning entram em dois lados, um lado é que na própria rede você consegue utilizar machine learning e Inteligência Artificial para otimizar essa rede. Assim, torna possível ter algoritmos que estão sendo treinados baseados na performance da rede e que fazem com que você realimente o processo de utilização da rede para que você reajuste toda a performance, ajuste o propagação e tudo que envolve.

Podemos utilizar essa rede otimizada e essa capacidade de processamento para rodar aplicações de Inteligência Artificial para essas verticais, por exemplo, de indústria. Então, ele trabalha não só na entrega da conectividade, mas também ele utiliza essa rede para rodar esses algoritmos de inteligência artificial para outras aplicações que estarão sendo entregues por esses operadores e qualquer outra empresa que entre nesse mercado.

E você, qual é a sua expectativa para a rede 5G? Comente no nosso Instagram!

 

*Jornalista formado no Centro Universitário de Brasília – UniCEUB. Analista de Conteúdo no grupo Digitalks, Gabriel também tem experiência nas áreas de jornalismo político. Trabalhou em agências de comunicação e na Câmara dos Deputados. Gosta de produzir conteúdos digitais e foca no Marketing Digital.

 

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