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VUCA e BANI: Esses conceitos têm a ver com o mercado de Produto?

Já teve a sensação de que a Terra parece estar girando muito mais rápido? Que os dias, semanas, meses, passam em um piscar de olhos e, quando nos damos conta, todo o contexto em que vivemos passou por transformações que jamais imaginamos?

Após vivenciarmos uma pandemia que, sem dúvidas, vai estar presente nas aulas de História das próximas gerações, reflexões sobre as transformações do mundo nunca estiveram tão presentes. 

No entanto, os estudos sobre contextos e suas metamorfoses não é algo que surgiu agora. Você talvez já tenha ouvido falar, por exemplo, no conceito de Mundo VUCA, que recentemente deu lugar ao que está sendo chamado de Mundo BANI. 

Mas o que afinal querem dizer essas siglas? Elas realmente têm importância em nossas vidas? Hoje te convido a refletir um pouco sobre elas, buscando compreender como esses conceitos podem ser úteis para entender melhor as mudanças que ocorrem no mercado de Produto, por exemplo.

 

O que é o Mundo VUCA?

O Mundo VUCA nada mais é do que um paradigma ou framework, criado para nos ajudar a entender o contexto volátil em que vivemos. Ele surgiu na época da Guerra Fria, quem como sabemos, não foi uma guerra de verdade, mas foi um marco histórico que proporcionou mudanças profundas na sociedade – principalmente em termos de negócio e tecnologia. 

Naquela época, o mundo vivia um cenário totalmente imprevisível e instável. Transformações culturais e tecnológicas começaram a moldar um novo comportamento entre as pessoas e empresas, que passaram por uma mudança que não vinha com manual de instruções. 

Quando o conceito de VUCA se popularizou dentro do cenário corporativo, nos anos 2000, suas características passaram a ser importantes fatores para a estratégia de negócios:

V – Volatility (Volatilidade): caracteriza as mudanças de mercado e no mundo. Conforme a volatilidade aumenta, mais rápido as coisas mudam e os mercados se transformam, exigindo uma capacidade de adaptação;

U – Uncertainty (Incerteza):  remete à dificuldade de entender o que está acontecendo ou de prever novos cenários;

C – Complexity (Complexidade): considera os múltiplos fatores importantes para a tomada de decisão, assim como a relação estabelecida entre eles;

A – Ambiguity (Ambiguidade): reforça a falta de clareza que dificulta as interpretações, seja por informações incompletas ou contraditórias. Por essa razão, deixa de ser relevante analisar todos os dados, focando apenas nas métricas certas.

 

E o Mundo BANI?

Ainda que as características do Mundo VUCA ainda sejam muito úteis para olharmos para o contexto global de uma maneira mais estratégica, o autor e antropólogo norte-americano Jamais Cascio considerou que essa já era uma definição obsoleta em 2018. 

Após a pandemia da Covid-19, principalmente, “instável” já não descreve exatamente o que estamos vivendo hoje. “Caótico” seria mais apropriado, segundo ele. Da mesma forma, “ambíguo” deveria ser substituído por “incompreensível” e “difícil de prever” para “completamente imprevisível”.

Considerando a aceleração da transformação digital dentro das empresas e os novos modelos de trabalho (híbrido e 100% remoto, por exemplo), as características estratégicas que esse novo conceito analisa são:

B – Brittle (Frágil):  considera a perspectiva de que estamos suscetíveis a catástrofes inesperadas (imagine a quantidade de empresas e vidas destruídas com a atual guerra na Ucrânia), por isso empresas podem se desfazer da noite para o dia se não se preparam e fortalecem suas bases;

A – Anxious (Ansioso):  as pessoas nunca estiveram tão ansiosas, o que impacta diretamente o mercado. O senso de urgência e o imediatismo estão presentes no processo de tomada de decisão;

N – Nonlinear (Não-linear): vivemos um cenário que foge de estruturas padronizadas e lineares, com situações desconectadas e de proporções diferentes. Por essa razão, gastar muito tempo com planejamento de longo prazo já não é a prioridade; 

I – Incomprehensible (Incompreensível): buscamos por respostas, mas muitas vezes elas sequer fazem sentido. Nossas certezas estão completamente enfraquecidas e é o momento de reconhecer que não precisamos entender e controlar tudo o tempo todo.

 

Como encarar tudo isso?

Quando olhamos isoladamente para as características dos conceitos de Mundo VUCA e BANI, as perspectivas parecem bem negativas e até um pouco alarmantes, certo? Ficamos com a sensação de que o mundo virou ao avesso, gerando certo estresse e ansiedade.

Mas é muito importante não encarar as coisas dessa forma, principalmente no caso de quem empreende e vive em um cenário de negócios. Esses frameworks foram criados justamente para nos ajudar a enxergar melhor o que está acontecendo, além de nos orientar sobre como lidar com esses novos fatores.

Falando especificamente sobre visão de negócio, a verdade é que, ainda que mudanças sejam assustadoras, elas nos proporcionam oportunidades que jamais seriam possíveis se tudo permanecesse como estava. A volatilidade do mundo permitiu um avanço incrível e, se hoje muitas empresas conseguiram sobreviver aos impactos da pandemia e outras até surgiram ao longo dela, é sinal que já tínhamos as ferramentas necessárias para passar por transformações profundas, talvez só não estivéssemos conscientes disso.

E as oportunidades não se restringem apenas à estratégia empresarial. Novas carreiras despontam e, com a possibilidade de trabalhar de qualquer lugar do mundo, limites que antes existiam já não são mais um problema.

 

E o mercado de Produto?

Não há como falar de todas essas transformações sem mencionar o mercado de produtos digitais como um grande case de sucesso. Essa área – que depende fundamentalmente da tecnologia – cresce a cada dia, conforme as pessoas descobrem novas necessidades que podem ser solucionadas a partir de uma ideia inteligente.

Os Product Managers são aqueles apaixonados por problemas e pela possibilidade de criar uma solução para cada um deles, pensando em melhorar a vida das pessoas. Nesse sentido, o contexto atual é muito promissor, pois um novo desafio pode surgir a qualquer momento.

De acordo com a expansão desse mercado, multiplicam-se também as vertentes de atuação. Assim, pessoas com diferentes habilidades e ambições podem encontrar espaço para se alocar. 

Um exemplo disso é a área de Product Marketing, ainda dando seus primeiros passos aqui no Brasil. Muitas empresas estão descobrindo a importância de Product Marketers, principalmente aquelas em estágio de crescimento acelerado. 

Isso comprova que é importante observar os desdobramentos em Produto e em outros setores, aproveitando os caminhos que se abrem e tirando o máximo proveito dos efeitos causados pelos contextos VUCA e BANI.

 

Mas afinal, como Product Marketing pode contribuir?

Profissionais de Marketing de Produto vão ser responsáveis por conectar as áreas de Produto, Vendas, CS e Marketing e entregar uma jornada de comunicação usuário x marca de ponta a ponta. Essas pessoas vão cuidar desde o PR que uma pessoa leu até o e-mail de boas-vindas, passando por toda a jornada dos usuários com o produto. Tudo isso independente do quão caótico esteja o contexto.

A capacidade de adaptar o discurso de acordo com o canal vai ditar as regras dessa relação, desenvolvendo assim uma autenticidade da marca capaz de expor os valores da empresa, assim como a missão e visão do produto.

Aqui na PM3, escola referência e especializada na educação em produtos digitais no Brasil, eu faço questão de dizer que “somos profundos sem sermos enfadonhos; engraçados sem sermos bobos”

Isso quer dizer que conseguimos falar com propriedade e profundidade sobre os temas da área de produtos digitais (que como dito acima, passam por esse furacão VUCA/BANI), ao mesmo tempo que trazemos leveza e diversão nas abordagens que fazemos. Tudo isso sem perder a posição especializada que temos. Bateu a curiosidade? Basta dar uma olhada como nos comunicamos em nosso Instagram, por exemplo.

Uma outra missão em Product Marketing é o alinhamento com stakeholders. Aqui o importante é se certificar de que todos, dentro e fora da  empresa, estejam alinhados quanto a onde querem chegar e qual impacto querem gerar – tudo isso com um posicionamento e tom de voz muito bem amarrados.

Trabalhar em um ambiente em constante mudança e no qual tudo pode mudar de um dia para o outro vai demandar consistência e jogo de cintura para fazer trade-offs importantes para o avanço do negócio. Apenas com essa mentalidade as empresas serão resilientes, flexíveis e duradouras.

Bruno Coutinho

CMO e cofundador da PM3, escola referência e especializada em produtos digitais no Brasil.

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