Quinta-feira, 18 de junho de 2015
Lancei-me recentemente numa aventura. Queria experimentar os limites do nicho de fitness e lifestyle, revisitando o território bastante saturado e constantemente reinventado dos blogs (os blog morreu, viva o blog!).
Queria entender como funciona, na prática, o conteúdo voltado para lifestyle e explorar novos formatos dentro de um universo tão orientado pelo consumo e pela Publicidade.
Escrevo blogs desde 2000. Naquela época, vivíamos o Velho Oeste sem fronteiras de um universo inexplorado. Quatorze anos depois, as agências caminham para transformarem-se em publishers e os blogueiros engrossam a fila na divisão do bolo dos budgets publicitários.
O conteúdo sempre esteve em alta. Mas o que era Velho Oeste, rapidamente se transformou na Última Fronteira: conteúdo precisa gerar relevância. Este é o novo mantra do mercado.
Se você quer levar a coisa a sério, não basta apenas um bom conteúdo. Tem que entender a importância do SEO e o funcionamento de plataformas como Facebook, Twitter e Instagram. Entender como as plataformas criam diálogos e planejar como o conteúdo funciona em cada uma delas.
Há um mês havia voltado a malhar. Saí zapeando entre vários fóruns e sites especializados. Queria entender como as comunidades se organizam ao redor desse tipo de universo.
Para a minha surpresa, a maioria do conteúdo está dividido entre dois nichos assustadoramente similares: os conteúdos ditos especializados em maromba e os portadores de corpos perfeitos que bebem da clássica fonte do modelo ideal, desde sempre apoiados pela Publicidade photoshópica.
Corpos digitais (im)possíveis
Há pouco espaço para a riqueza de uma zona cinza, fora dos modelos físicos e das receitas de revista, que agora se adaptaram e evoluíram entre a crise editorial e a geração transacional que luta para entender onde vai parar a dança espiral dos nichos digitais.
Resolvi atacar exatamente este ponto.
Queria um bom estímulo para aprofundar meus conhecimentos em SEO e criar storytellings sinérgicos entre as várias plataformas digitais. Tudo isso fugindo do papo maromba e, sem vocação física para tal, do formato de “modelo a ser seguido”.
Criei o Projeto Viking como uma voz dissonante que fala sobre qualidade de vida, fitness e maromba, sem abordar diretamente as pautas mais comuns deste universo: receitas de alimentação, treinos e selfies perfeitas de corpos suados e trincados.
Queria voltar à geração 00, lifestyle moleque, de várzea, mas sem passadismo.
Aproveitando uma piada pessoal por conta da minha paixão pelo personagem Thor da Marvel e pela cultura viking, transformei o meu caminho pessoal em uma saga. Ela seria a busca por uma melhor qualidade de vida, mas, no lugar do herói estaria eu: com sobrepeso e tentando me encontrar no meio de tanta informação disponível na internet.
O objetivo é experimentar uma espécie de cross-nicho que não apenas informe aqueles que também voltaram a se exercitar, mas, sobretudo, que sirva como território de inclusão para os ociosos/ansiosos e aqueles que não têm afinidade nenhuma com o universo maromba.
Afinal de contas, todos estão saturados pela normatividade dos corpos perfeitos.
A hora da aventura
Juntar uma narrativa solta e pessoal sobre o meu caminho e um toque de cultura pop, misturando pautas do momento e trending topics são os meus pontos de partida.
Relevância não é apenas perscrutar o sussuro das massas, é ressignificar discursos para gerar um resultado pautado em um objetivo. Esta grande onda de lifestyle em que estamos inseridos aposta numa sociedade de consumo que delira com a materialização do Photoshop na vida real. Ledo engano.
Em vez do delírio, que tal juntar duas “tribos” incompatíveis? Aproximar a galera da maromba com a legião de nerds/geeks é a alma da minha grande aventura: falar sobre motivação, falando sobre um papo com o personal trainer; falar de perfis de lifestyle, falando de Game of Thrones.
Porque os nichos em si são construções mercadológicas que teimam em desenhar fronteiras e construir caixas (quase) estanques para conseguirem determinar estratégias de marketing com targets claros.
O Marketing 3.0 está vendo você beijar outras bocas.
Repensar nichos, repensando conteúdo e desafiando as noções de público e segmentação faz parte da brincadeira.
Todos os heróis são profissionais
Encarar um blog na internet deixou de ser uma brincadeira para amadores.
Claro, se você quer apenas curtir e jogar no mar da internet seu bilhete na garrafa, ainda há espaços bem povoados para isso. Mas se você quer levar a sua história para audiências maiores e gerar relevância, você vai ter que juntar duas coisas aparentemente opostas: paixão e boa visão de negócio.
Sim, blog hoje é negócio. E do bom. (Não que você vá ficar rico com isso, mas…)
Invista em entender como as pessoas se comportam e o que elas procuram em cada plataforma. Entenda que conteúdo sem SEO é um corpo sem alma: não funciona. Questione os modelos, entenda o papel do Photoshop e perceba como as boas práticas digitais se ancoram em bom conteúdo.
Repita comigo: relevância não é objetivo, é consequência.
O blogueiro de lifestyle não precisa ser aquela mulher perfeita com gominhos no abdômen dando dicas quentíssimas sobre o mais novo suco detox que faz secar. Ele pode estar escondido por trás de um cara barbudo e com uma barriguinha safada.
É o milagre do Marketing 2.0 3.0.
Be viking!
é formado em Letras pela UFBA, mestre em Intersemiótica pelo PPGLL/UFBA, ex diretor de arte, atual redator e content concepter. Morando em São Paulo há quase 4 anos, há 14 escrevendo blogs.
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