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Eleições 2014: no digital é tudo ao mesmo tempo agora

Há um livro, do antropólogo argentino Néstor Canclini, chamado “Consumidores e Cidadãos”, que traz logo no capítulo de introdução, um título emblemático: “Consumidores do século XXI, cidadãos do século XVIII”. Sem querer fazer uma análise da profundidade com que o autor trata do tema, vou trazer aqui apenas uma pequena reflexão sobre o simbolismo do título em si.

Enquanto o mercado foi se desenvolvendo e se adaptando para atender às demandas cada vez maiores por produtos e serviços, o mesmo não se deu entre governos e cidadãos e, não por acaso, estamos diante de um fenômeno mundial de falta de sintonia entre a classe política e o povo, como temos visto no decorrer dos últimos anos, através de manifestações e atos de reivindicação de todo o tipo, em todas as línguas, em todos os continentes.

No Brasil, 2013 foi o ano que expôs de maneira contundente essa insatisfação. Cansados de uma comunicação sazonal dos políticos, sempre pautada pelos discursos eleitorais, esse novo consumidor-cidadão saiu às ruas para mostrar que sabia fazer bem mais do que “xingar muito” nas redes sociais. E, de repente, a Internet e as mídias digitais interativas, passaram a fazer parte do vocabulário de governos e oposições.

O fato é que as novas tecnologias de informação e comunicação têm sido um grande motor de transformação na relação entre governados e governantes, que caminham a passos diferentes. Acostumados a discursar, a grande maioria dos políticos, estejam eles em cargos legislativos ou executivos, precisa correr para acompanhar a velocidade com que os cidadãos expressam seus anseios e suas opiniões.

É o que temos visto, nos últimos meses, na corrida presidencial, através a volta à vida digital e intensificação de comunicação da presidente Dilma Rousseff, ou ainda pelas ações dos presidenciáveis Aécio Neves e Eduardo Campos, com suas ações de comunicação através das redes, cada vez mais integradas a uma estratégia global de campanha. Na minha opinião, todos ainda meio fora de tom, mas procurando um caminho.

Parece óbvio escrever isso, mas as ferramentas de comunicação digital, que devem fazer parte da estratégia de comunicação de qualquer político, não se limitam à construção de páginas web e perfis sociais. A questão é muito mais complexa, específica para cada caso e exige a inclusão de profissionais cada vez mais qualificados em Marketing, Comunicação e Novas Tecnologias, para atender aos três pilares de uma presença digital de sucesso: monitoramento e métricas, SEO e, logicamente, o relacionamento.

2014 trará uma complexidade de temas, além de uma velocidade e amplitude do debate político com o quais muitos dos nossos representantes e suas equipes não estão acostumados. Veremos tudo ao mesmo tempo agora e as respostas precisam ser dadas com a mesma intensidade, na mesma sintonia. Teremos a grande oportunidade de aproximar um pouco mais o cidadão do século XVIII do consumidor do século XXI. E você, está preparado?

 

é consultora política com experiência em campanhas eleitorais no Brasil, América Latina e África, diretora da Alacop - Asociación Latinoamericana de Consultores Políticos, Diretora de Planejamento do Politicom, editora do MarketingPolitico.com e autora do livro “Internet e Eleições: Bicho de Sete Cabeças?”

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