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[Entrevista] Martha Gabriel fala sobre empreendedorismo e capacitação

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– Um pouco da sua história

Martha Gabriel – Engenheira, com pós graduação em Marketing e Design, mestrado e doutorado em artes. Escritora, artista, consultora, professora, pesquisadora, curiosa, curiosa, curiosa. Eterna aprendiz. Paixão por viver e experimentar o desconhecido – viagens, comidas, conceitos, pontos de vista, etc. Acredito em Deus, educação, amor, trabalho e na lei do retorno. Amo minha família. Valorizo mais a intensidade da vida do que a sua duração. Não fiz ainda tudo o que gostaria, mas já fiz muito mais do que imaginaria: se eu morresse hoje, confesso que vivi 😉

– Pra você o que é empreender?

Martha Gabriel –Para mim, empreender é o movimento gerado pela insatisfação com o status quo, nos levando a buscar novos caminhos e soluções – é a força motriz da evolução da humanidade. Tudo o que o homem construiu no mundo até hoje é resultado de um ato inicial de empreendedorismo – fogo, carro, avião, computador, etc. Sem empreender, o homem estaria ainda vivendo em cavernas. Assim, creio que empreender é toda ação na tentativa de mudança para progredir, por isso, o empreendedorismo é a essência da inovação, que busca criar valor no mundo. O empreendedorismo é a alavanca que transforma o potencial latente da criatividade em inovação efetiva aplicada.

É importante ressaltar, no entanto, que toda inovação é resultado do empreendedorismo, mas nem todo empreendedorismo resulta em inovação. O risco é inerente ao processo de empreender, e onde existe risco, existem também erros e fracassos. Portanto, empreender tem sempre duas faces: a insatisfação com o status-quo e o risco da mudança. Dessa forma, o empreendedorismo é certamente um antídoto para a acomodação, mas não necessariamente uma receita garantida para o sucesso. Por isso, normalmente o empreendedorismo acontece quando a motivação pela mudança é maior do que o medo dos seus riscos.

– Com certeza podemos te considerar uma empreendedora de sucesso. Mas lógico que todos possuem desafios na jornada. Pra você, qual foi o maior desafio encontrado até hoje como empreendedora? 

Martha Gabriel –Gestão dos negócios é o maior desafio para mim, por isso valorizo tanto gestores que mantém o negócio rodando. Eu sou atraída pelo novo, pelo desafio, pelo risco, pela experiência diferente. No entanto, depois que consigo realizar aquilo que me desafiava, fico entediada e tenho dificuldade em me satisfazer com a rotina de manter o negócio e, então, já busco o novo outra vez – o meu norte é o novo, é isso que me motiva. No entanto, a sustentabilidade do negócio depende da sua manutenção, geração de valor e continuidade: depende da sua gestão, não da sua criação ou conquista apenas. Para solucionar isso, tenho pessoas maravilhosas trabalhando comigo e que são ótimos gestores, complementando o meu perfil nas minhas debilidades. Essa é a maravilha da entidade “empresa” – nós, como seres humanos somos limitados em nosso próprio potencial e nossas deficiências, mas como empresas podemos virtualmente ampliar infinitamente esse potencial e diminuir drasticamente as deficiências, por meio de colaboração e integração de habilidades humanas.

– Como podemos definir inovação?

Martha Gabriel – Inovação é o resultado de uma AÇÃO que torna algo em NOVO, gerando VALOR para algum público específico. É muito interessante como o termo “inovação” é extremamente mal interpretado. Muitos pensam que inovar é fazer algo totalmente novo, disruptivo, que não existia anteriormente. No entanto, inovar pode ser pequenas ações que causam pequenas transformações (tornando novo) e que gerem algum resultado que crie valor para alguém. Por exemplo, se um funcionário de uma empresa resolve se demitir e montar uma loja de doces, isso é uma ação de inovação, pois tende a gerar valor para essa pessoa e os públicos envolvidos, mesmo que o ato de se demitir de uma empresa e montar uma loja de doces não seja nenhuma ação inédita e super criativa, ou mesmo, muito complexa. Inovação tem a ver com geração de valor por meio de uma nova ação (que pode ser produto, processo, modelo de negócios, etc.) e não com ineditismo. Assim, qualquer pessoa ou empresa, por menor que seja, tem o potencial de inovar sempre.

– Inovação ainda é um termo fora do cotidiano de milhões de pequenos empresários. Como é possível inovar mesmo sendo pequeno?

Martha Gabriel – Acredito que a questão da inovação não está ligada a tamanho, mas a educação e cultura. Tanto que existem pequenas empresas que são muito mais inovadoras que grandes – as startups são prova disso. Penso que a única forma de inovar, sendo pequeno ou não, é se educando e criando uma cultura de inovação. Estive recentemente no EmTech Digital do MIT e uma das questões discutidas lá era justamente porque alguns países são mais inovadores do que outros, sendo que muitos países têm acesso aos mesmos recursos e tecnologias que têm o potencial de alavancar a inovação. A conclusão é que onde existem pessoas mais educadas (que são mais bem preparadas para saber como tirar proveito do que o ambiente apresenta) em locais que possuem cultura de inovação em seu DNA (empresas como Google, Facebook, Apple, 3M, GE, etc., ou países e regiões, como Alemanha, Vale do Silício, Israel, Cingapura, etc.), a inovação acontece. Por outro lado, em locais em que não existe educação e cultura de inovação, o processo de inovar é muito mais difícil e lento. Essa mesma relação pode ser aplicada nas empresas – aquelas que possuem hoje o melhor capital humano e desenvolvem uma cultura de inovação têm maior probabilidade de inovar do que aquelas que não têm isso. O Disney ensina que “Cultura=Comportamento; Comportamento=Resultados; portanto, Cultura=Resultados”.

Creio que um dos grandes problemas no Brasil hoje, em relação à inovação, é que não temos, de modo geral, uma educação de excelência e nem um processo educativo que desenvolva uma cultura de inovação. Como diz o Clemente da Nóbrega, o Brasil não possui um sistema operacional que favoreça a inovação. Assim, creio que para termos empresas inovadoras, precisamos educar e nos desenvolver para isso.

– Falando sobre aprendizado e capacitação, o que alguém que quer  empreender precisa?

Martha Gabriel –Acredito que existem 4 P’s para o sucesso empreendedor: Propósito (objetivo), Preparo (educação), Planejamento (método) e Persistência (resiliência). Sem propósito, não existe razão para empreender – é do propósito que nasce qualquer ação empreendedora. No entanto, não adianta se ter propósito apenas – é preciso preparo (educação) para transformar o propósito em planejamento (método) adequado para coloca-lo em ação que gere resultados. Por outro lado, sabemos que não existe empreendedorismo sem riscos e sem problemas: eles são partes integrantes de qualquer empreendimento novo. Para superar os riscos e obstáculos, é necessário Persistência (resiliência).

É interessante ressaltar, no entanto, que o mundo está ficando cada vez mais complexo e, nesse cenário, torna-se cada vez mais fácil se ter Propósitos do que conseguirmos os demais P’s. Ambientes complexos, como o mundo hoje, são repletos de estímulos que fomentam ideias e propósitos, no entanto, a complexidade crescente traz consigo uma multiplicidade de disciplinas necessárias para se implementar soluções (Preparo e Planejamento), fazendo com que precisemos cada vez mais buscar colaboração para conseguir empreender com sucesso. A colaboração também favorece a Persistência para se fazer os ajustes necessários nos demais P’s, conforme o processo evolui.

– Você já participou de programas de capacitação como essa missão para o Vale do Silício?

RESP MG – Sim, mas de formas diferentes. Já fiz inúmeras visitas por conta própria em empresas que me interessavam (no Brasil e exterior) e participo frequentemente de eventos no exterior já há mais de 20 anos (tanto para palestrar, quanto para estudar). Por exemplo, no ano passado participei do The Future of Storytelling em New York City: no primeiro dia aconteceu o evento (com palestras, workshops, etc.) e no dia seguinte tivemos visitas educativas a várias agências digitais de ponta em NYC, inclusive o Google Creative Lab.

– De zero a dez, qual a importância de participar de programas como a Missão Digitalks? Pq? 

Martha Gabriel – Onze! Como mencionei anteriormente, para empreender é necessário sentir uma insatisfação com o status-quo, que gera um desconforto e nos motiva a agir para criar uma solução que nos leve para uma situação melhor. A melhor maneira de enxergarmos a nossa situação, o nosso status-quo, é por meio da comparação — quando nos deparamos com outros seres, instituições e culturas que vivem uma realidade distinta e possuem valores distintos. Essas diferenças dão origem à insatisfação que fomenta o empreendedorismo. Nesse sentido, penso que não existe melhor maneira de “enxergarmos” isso rapidamente do que em uma viagem em que podemos observar, sentir e comparar processos e valores em diversas empresas e associar essas experiências a um evento estado-da-arte em que se discute conceitos e métodos. Por isso, sempre que posso, viajo e experimento coisas novas (tanto a trabalho quanto a lazer) e incentivo meus filhos e todos ao meu redor a fazerem o mesmo. Esse tipo de vivência não tem preço, pois ninguém pode fazer por você, ninguém pode nunca te tirar isso e, normalmente, o resultado é transformador – voltamos diferentes, sempre.

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